Motoboys organizam paralisação contra aplicativos de entregas nesta quarta

Categoria luta contra jornadas extenuantes e sem direitos trabalhistas
quarta-feira, 01 de julho de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
O motoboy friburguense Bruno Berçot (Arquivo pessoal)
O motoboy friburguense Bruno Berçot (Arquivo pessoal)

“Essa profissão é extenuante. Passo dez horas seguidas indo e vindo, enfrentando os riscos de um trânsito onde poucos respeitam as leis, arriscando a vida, sem vínculo empregatício, sem hora para almoço, nem pouso fixo. É muito estresse, mesmo assim, gosto do que faço”, revela o motoboy friburguense Bruno Dias Berçot, 40 anos, divorciado, três filhos.

São 12 anos nessa vida, levando e trazendo alimentos, remédios, encomendas, mercadorias de todo tipo.

Bruno Berçot começou em 2008, como entregador de aplicativos, o hoje indispensável delivery, mas após dois anos decidiu trabalhar por conta própria. Sem vínculo empregatício, se inscreveu no MEI e há dez anos é microempreendedor individual. 

Tem como clientes tanto pessoas físicas quanto jurídicas, e cumpre o horário comercial de segunda-feira a sábado, das 8h às 18h. Atende gráficas, confecções, escritórios, consultórios, lojas, e não raro é acionado para buscar objetos e/ou documentos esquecidos em algum lugar para aquele cliente que já virou amigo. 

Não desfruta de feriadão, muito menos de férias. Quer dizer, ele se permite dar uma parada na semana entre Natal e Ano Novo. Não tem a vida confortável que gostaria, mas ganha o suficiente para pagar as contas. Em geral, essa classe de trabalhadores considera precárias as condições de trabalho e injusta a remuneração. 

E para demonstrar essa insatisfação, protestar e apresentar suas demandas, está marcada para hoje uma paralisação nacional dos motoboys e entregadores de aplicativos. Apesar de ser autônomo, Bruno acha justo o movimento e torce para que atinja seus objetivos. 

“Nossa profissão é muito desvalorizada. O pessoal que trabalha com aplicativos tem motivos para protestar e lutar por direitos na área trabalhista. No meu caso, como autônomo, também não é fácil. Por exemplo, vamos supor que o preço justo de uma corrida seja R$ 10 e tenho um cliente que me paga esse valor. Logo vai aparecer um concorrente oferecendo fazer por R$ 8, digamos. Se o cliente não for fiel a mim, ele vai trocar de motoboy. Nesse sentido, essa profissão é ingrata, não temos garantia de nada, não temos contrato nem compromisso entre as partes. As despesas aumentam, mas não conseguimos reajustar o valor do serviço por causa da concorrência. E ainda tem o fato de que se trata de uma profissão de risco, que podemos sofrer um acidente fatal a qualquer momento. Por tudo isso, tanto por quem é MEI ou não, acho justa essa paralisação”. 

Profissão de risco

Aliás, as agruras no trânsito são um capítulo à parte. Bruno já sofreu vários pequenos acidentes provocados por maus motoristas que não respeitam as regras básicas do bom convívio entre carros e motos. Em 2016, por exemplo, o caso foi sério: 

“Tive sorte de não ter fraturado nada porque a pancada foi violenta. Fiquei de molho em casa por 14 dias, com muita dor. Um acidente típico de um motorista irresponsável. Ele saiu direto de uma transversal, atravessou a Avenida Euterpe sem parar para ver se tinha algum veículo passando naquele momento. E eu estava bem no caminho. Ele surgiu tão de repente que não tive tempo de buzinar, desviar. Voei por cima do capô e caí no chão. Fui socorrido por uma ambulância e levado para o hospital. Mesmo estando errado, o motorista se recusou a pagar o conserto da moto. Paguei o prejuízo para poder voltar a trabalhar, mas entrei na justiça e tive ganho de causa. Ele teve que me ressarcir. Mas é muito estressante passar por tudo isso” 

Ter sua ferramenta de trabalho em perfeitas condições de funcionamento é prioridade do motoboy Bruno.  Assim como respeitar as regras do trânsito. “A moto é minha fonte de sustento, então, tenho que ser responsável também com a sua manutenção, ter a documentação sempre em dia. São questões que me dão segurança para exercer minha profissão. Aliás, faço questão de ter os equipamentos recomendados, próprios para motociclistas, como capacete etc, além de anteninha corta-pipa, que aumentou com a pandemia, com a criançada sem escola, entre outros”, diz. 

Se pudesse trocar de profissão, Bruno conta que gostaria de trabalhar em construção, não exatamente como pedreiro, mas como engenheiro ou arquiteto. “Sempre gostei de desenhar e tinha vontade de estudar engenharia, mas concluí os estudos no ensino médio”, comenta, sem menhum resquício de amargura. Afinal, como ele mesmo disse, gosta do que faz.

Entregadores  x aplicativos

Sem direito à quarentena e sujeitos à informalidade, os entregadores de aplicativos organizam uma paralisação nacional marcada para esta quarta-feira, 1º. Os trabalhadores exigem melhores condições de trabalho e a suspensão de bloqueios realizados por grandes empresas do setor. 

Segundo explica um entregador que se identifica como Mineiro e é um dos organizadores da greve, para além da interrupção imediata dos bloqueios e desligamentos sem justificativas, também estão na lista de reivindicações uma taxa mínima de R$ 2 por quilômetro percorrido. 

“As outras reivindicações são um auxílio-lanche porque nem todos os dias temos o que comer. Um auxílio oficina e borracharia, que desconte do nosso próprio cartão em que recebemos. Nem todo dia temos dinheiro pra sair de casa. Tem vez que deixamos de comer para abastecer”, declara o entregador da zona sul de São Paulo, que há três anos atua com aplicativos. Medidas protetivas contra roubos e acidentes, assim como o pagamento adequado por quilometragem percorrida são outras demandas apresentadas. 

Um estudo recente feito pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) da Unicamp mostrou que a pandemia do coronavírus precarizou ainda mais o trabalho dos profissionais. Com o aumento da demanda de entrega por delivery, eles passaram a trabalhar mais horas. Custos com equipamentos e materiais de prevenção à contaminação pela Covid-19 também pesaram ainda mais no bolso dos trabalhadores informais. 

Neste contexto, Mineiro comemora a estimativa de que 98% dos entregadores integrem a paralisação. Mas, ainda assim, ele ressalta que o apoio da população é essencial. 

“O pessoal tem que aderir porque ao não fazer o pedido, eles nos ajudam. Não terá muito pedido no dia e os motoboys não farão as entregas. Estamos pedindo o apoio de todo mundo. Nossa reivindicação de sempre vai ser essa: mais respeito com os motoboys e pedir aos usuários dos apps que nesses dias não façam pedidos.” 

(Fonte: site brasildefato.com.br)

 

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