O Dia das Mães é quando celebramos um dos laços mais fundamentais de nossa história afetiva.
Esse ano, em meio à pandemia, vivenciamos esse dia num contexto atípico, que nos leva a refletir sobre o que há de mais essencial na relação de quem cuida e de quem é cuidado.
O que vemos hoje são famílias pressionadas pelas transformações das fronteiras relacionais, o que é experienciado tanto pelo excesso na convivência diária com suas famílias nucleares quanto pelo distanciamento imposto de suas famílias extensas. Como em toda crise, manter-se flexível evitando a rigidez é o que nos permite maior adaptabilidade às novas circunstâncias.
Estamos todos passando por uma fase de novos aprendizados e adaptações diante da quebra de uma rotina conhecida. Uma boa ferramenta é estarmos presentes, sensíveis ao contexto atual e sermos gentis com nós mesmos e com os outros. É importante lembrarmos que não existe parentalidade perfeita. O momento atual é desafiador para as relações como um todo e o que devemos ter em mente é que o objetivo não consiste em não errarmos e sim em não perdermos a direção.
Daniel Siegel, psiquiatra especialista em Neurobiologia Interpessoal, descreve essa direção como a construção de um vínculo seguro num processo de realinhamento e reparação constantes. Segundo ele, vínculo seguro baseia-se na capacidade dos pais em construírem uma versão coerente de sua própria história. Conseguimos ser um porto seguro para nossos filhos quando ressignificamos nossas próprias experiências infantis, mesmo que essas tenham sido traumáticas. Uma mãe consciente dos vínculos que teve com seus próprios pais, possibilita o estabelecimento de uma relação segura e sensível com seu filho onde este pode se tornar a melhor versão de si mesmo.
Uma vez que tenhamos conseguido manter essa direção, trazemos ao longo da vida essa referência de vínculo saudável que nos possibilita agora não apenas regular melhor nossas emoções no enfrentamento dessa pandemia, como também nos mantém conectados a quem um dia foi para nós um porto seguro. A certeza de que não estamos isolados socialmente, e sim afastados fisicamente, é confirmada através dos laços familiares que nos garantiram termos sido sentidos, ouvidos e cuidados.
*Gilvane Bispo dos Santos, friburguense, é psicóloga clínica com formação pela UFF, psicopedagoa e psicodramatista. Saiba mais em https://siegelinrio.com.
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