As explosões desta terça-feira na área portuária de Beirute deixaram em choque a comunidade libanesa em Nova Friburgo. Najibe Nader, que viveu na capital do Líbano por mais de 20 anos, mora em Friburgo há 40 e ainda tem de 25 a 30 parentes vivendo lá, contou que teve um sobrinho ferido, mas que todos estão bem, dentro do possível.
Ela contou que, por volta do meio-dia, estava assistindo ao noticiário do Líbano quando, de repente, a explosão foi noticiada. “Eu entrei em choque, comecei a tremer, em desespero. Não havia informações, ninguém estava entendendo nada”, disse ela, acrescentando que os parentes falaram em prédios tremendo, parecendo um terremoto
O sobrinho ferido mora mais perto da área portuária. Ele teve cortes na testa e em outras partes do corpo, está com um pouco de dor, mas já passa bem. “Vai ser bem difícil. A situação no Líbano já estava complicada, agora deve piorar. Há dificuldade para se alimentar e até para respirar”, lamentou.
Neta de libaneses, a friburguense Margareth Farah Sabb acredita que a explosão não tenha envolvimento com os históricos conflitos na região. "Ainda tenho muitos primos lá e nos comunicamos sempre. Eles estão bem, mas uma prima escreveu que está indo para o Norte do país porque em Beirute o ar está muito tóxico", disse ela.
"É um povo muito acolhedor, fervoroso e trabalhador. Cabe muita prece para que um dia todos entendam que Deus é um só e busquem a paz", disse Margareth.
Ela conta que seus avós paternos e maternos nasceram na cidade de Elknaisse, no Sul do Líbano. Vieram para o Brasil ainda jovens, em busca de uma vida melhor, e com destino à cidade do Rio. Lá chegando, não encontraram nada do que lhes foi prometido. Começaram a trabalhar no Porto do Rio e depois vieram para o interior. A mãe deles morreu na guerra.
Duas explosões seguidas
A capital libanesa foi atingida por duas violentas explosões seguidas, que mataram mais de cem pessoas e feriram mais de quatro mil, deixando ainda um rastro de destruição por vários quarteirões. Pelo menos 250 mil pessoas perderam suas casas.
A crise tende a se agravar nos próximos dias, já que foram destruídos silos de grãos com 80% do estoque libanês de trigo.
A segunda explosão, bem maior que a primeira, foi sentida no Chipre, a quase 250 quilômetros de distância. A nuvem em forma de cogumelo foi seguida por uma onda de choque que estilhaçou vidros num raio de dez quilômetros.
As investigações iniciais indicam que a primeira explosão ocorreu em um armazém de fogos de artifício na área portuária. A segunda aconteceu junto a quase três mil toneladas de nitrato de amônia, estocados perto dali desde que confiscados pelo governo, há cerca de seis anos. O produto químico é usado em fertilizantes mas tem a característica de oxigenar incêndios, o que o torna componente de muitos explosivos, aumentando seu potencial destrutivo. O governo libanês não descarta a possibilidade de atentado terrorista, mas não é a hipótese principal com a qual trabalha.
O Líbano já enfrentava crise econômica e política, além da pandemia de Covid-19.
A presença do Líbano em Friburgo
A chegada dos primeiros libaneses ao Brasil e em Nova Friburgo se deu a partir do século 19. Como viviam sob o domínio turco-otomano, os passaportes dos libaneses eram expedidos por esse governo, e por isso, a população os chamavam de turcos. O patriarca foi Naum Bechara Abicalil, que chegou ao Brasil com a esposa Marie no ano de 1913, se estabelecendo no município de Duas Barras. Um dos filhos do casal Youssef Jorge Abicalil se casou em Nova Friburgo com Haiffa, cuja família havia residido anteriormente em Santa Maria Madalena. Assim como os imigrantes de outras nacionalidades, os libaneses uniram-se geralmente entre os seus conterrâneos, muitas vezes entre primos, ou com o matrimônio previamente arranjado entre as famílias.
Youssef e Haiffa fundaram a Casa Libanesa em 1920, que foi a primeira loja na Avenida Alberto Braune, mudando três vezes de endereço. Haiffa costurava os vestidos que vendia na loja e ainda era instrutora de cursos de corte e costura. A filha do casal Nair Abicalil de Moura, juntamente com o marido Genserico Moura, deu continuidade ao negócio dos pais. No centro de Friburgo, quase metade do comércio era de imigrantes libaneses. A Casa Libanesa, atualmente na Praça Getúlio Vargas, próximo à esquina com a Rua Monsenhor Miranda, é o comércio mais antigo de Nova Friburgo em termos de tradição.
Outra característica dos libaneses e árabes é a escolha da medicina como profissão.
A equipe de A VOZ DA SERRA se solidariza com toda a comunidade libanesa de Nova Friburgo neste momento de dor.
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