Neste domingo, 31, celebramos a festa de Pentecostes, que acontece 50 dias após a Páscoa. Daí surge o seu nome a partir do radical grego “penta” que indica cinquenta. Depois da morte de Jesus, a comunidade dos discípulos se sente com medo diante da perseguição das lideranças judaicas que prenderam e crucificaram a Jesus. Por isso, o mais seguro era nem sair de casa, como nós agora na Pandemia!
Nesse ambiente de medo e de perseguição, Jesus envia o Espírito Santo como narra o texto bíblico de Atos 2.1-12, a cujo episódio dá-se o nome de Pentecostes. É o nascedouro da Igreja Cristã, pois através do testemunho dos discípulos, muitos vieram a crer em Cristo e a formar comunidades cristãs.
Alguns símbolos são usados para pedagogicamente nos ajudar a entender melhor quem é o Espírito Santo e como ele age. Cito quatro símbolos bíblicos que falam da ação do Espírito Santo entre nós e seu significado se reveste de um caráter importantíssimo nesse tempo da Pandemia:
*Vento (João 3.8): O vento não se pode pegar nem prender, ele sopra e age onde quer, é livre! Assim é o Espírito de Deus, refrescante, forte, impetuoso, gerador de vida (respiração), que movimenta e impulsiona as pessoas a agirem como sinais de paz e de bem entre as pessoas. Acredito que é obra do Espírito Santo que move tantas campanhas de solidariedade para ajudar pessoas necessitadas nesse tempo de Pandemia.
*Fogo (Atos 2.3): O fogo lembra a luz, o calor e a purificação. No Pentecostes, a Igreja celebra a presença deste fogo que arde em nós, que nos aquece, ilumina e orienta em meio a tantas trevas presentes em nosso viver. Manter a chama da espiritualidade acesa – independentemente de qual religião se professa – é algo que tem sustentado e equilibrado a vida de muitas pessoas nesse tempo obscuro. Orar, meditar, ler a Bíblia ou livros que edificam é um jeito de se aquecer e iluminar quem está próximo.
*Água (João 7.37ss): A água é sinal de vida, ela limpa, refresca, sacia a sede, fertiliza; nos lembra a renovação e a restauração. Está associada ao Batismo, ao lavar regenerador em nossa vida. Penso que a Pandemia terá um efeito de “limpeza” na nossa vida. Falo de limpar coisas fúteis e inúteis; de lavar não apenas as mãos, mas também a nossa maneira de ser e pensar. Desejo que saiamos da quarentena renovados e com uma visão de vida mais madura e sóbria.
*Pomba (Lucas 3.22): A pomba é enviada do céu até Jesus Cristo na ocasião de seu batismo e representa a presença do Espírito Santo em sua vida, em seu ministério. Usualmente é usada como símbolo da paz, um dos frutos do Espírito Santo (Gálatas 5.22). É assustador ver que a taxa de conflitos e violência doméstica têm aumentado na quarentena; é triste ver o crescimento de brigas na internet. A Pandemia tem nos mostrado o quanto podemos ser egoístas e altamente destrutivos. Esse é o lembrete da ‘pomba’: A paz brota da minha decisão consciente de não querer promover ódio e violência e mais, de fomentar a paz em casa, no trabalho, no trânsito, em qualquer lugar.
O Espírito Santo que renova, que aquece, que limpa e promove paz nos fortalece para recomeços (o pós-Pandemia será um grande recomeço!) e transforma pessoas e estruturas para serem promotoras da vida abundante (João 10.10).
A Pandemia tolheu da Igreja Luterana (e de outras Religiões) algo fundamental da prática religiosa: o encontro da comunidade, o encontro presencial, espaço oportuno para o diálogo, para a partilha das alegrias e tristezas.
Buscando manter esse vínculo, recorremos às redes sociais como forma de manter o contato com os membros da igreja. Temos diariamente a postagem de um pequeno vídeo com uma meditação e oração temática no Facebook e Instagram. No horário do culto aos domingos fazemos uma live pelo Facebook. Na transmissão feita no templo estão apenas o pastor, o violão e o celular, para proporcionar aconchego e, de certa forma, amenizar a saudade de estar juntos na igreja.
É notável que as pessoas estão à flor da pele, por isso, o aconselhamento pastoral precisou ser remodelado na inviabilidade de acontecer presencialmente. Diálogos são realizados através de telefone a até mesmo por vídeo chamadas. É preciso ouvir as pessoas, elas precisam desabafar as angústias que estão passando.
O mote “ajudar o próximo”, como o fez o Bom Samaritano (Lucas 15), é algo que seguimos colocando em prática como forma de ajuda concreta: alimentos não perecíveis e cobertores são uma maneira encontrada na Pandemia de ajudar a quem precisa.
A Pandemia está nos ensinando mais uma vez que a Igreja Viva está sempre em reforma... Que a religiosidade precisa se adaptar aos desafios da realidade para poder confortar, animar e “esperançar” as pessoas. Não basta um corpo são, uma mente sã... A Igreja precisa ajudar as pessoas a manter a espiritualidade imunizada contra males tão nocivos quanto a Covid-19.
*Pastor da Igeja Luterana
Deixe o seu comentário