Carteiro Rogério Albertini: "A tendência é selos e cartas virarem peças de museu"

Funcionário dos Correios há 35 anos é colecionador e fala da emoção que sentia ao ver as pessoas recebendo as entregas
sábado, 01 de agosto de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Rogério Albertini
Rogério Albertini

O carteiro Rogério Albertini, funcionário dos Correios de Nova Friburgo, desde 1985, é um desses resistentes e apaixonados colecionadores de selos. Nesta entrevista ele fala de sua relação com a filatelia e como vê o mercado de selos atual, com o advento da internet e suas ferramentas de comunicação.

Caderno Z: Seu interesse por selos se deve à sua profissão? Quando começou a colecionar?

Rogério Albertini: Eu já guardava alguns selos, pois na minha infância escrevia cartas para O Clube do Capitão Asa, programa da antiga TV Tupi. Com o meu trabalho nos Correios comecei a me interessar mais em colecionar e até tenho amigos, que já se aposentaram, que também colecionavam selos.

Você é conhecido na cidade como uma pessoa que tem o hábito de colecionar vários itens. Em se tratando de selos, que trabalha com inúmeros temas, se interessou em estudar ou ler alguma coisa sobre filatelia?

Sim. Conheço a história da filatelia e dos Correios desde o início, como o primeiro carteiro no Brasil, que foi o português Luiz Gomes da Mata Neto e que a entrega domiciliar começou em 1835. Aprendi isso no curso quando entrei nos Correios em 1985 e a gente continua aprendendo.

Você tem um tema preferido?

Eu prefiro os selos comemorativos, que fazem homenagens a momentos importantes da história do Brasil e do Mundo.

Dizem os filatelistas que “o que mais valoriza um selo é a exceção, a falha, o defeito”. Já viu um selo com defeito?

Para qualquer colecionador, não só de selos, mas também de notas e moedas, esses problemas com a impressão ou cunhagem, fazem uma grande diferença, pois sabemos que esse selo, essa nota ou essa moeda, será único. Quase ninguém terá.

Com os novos formatos de comunicação, quase ninguém manda mais cartas. Os selos tendem a desaparecer? As coleções podem virar atrações, peças de museus?

Infelizmente são raras as cartas escritas à mão. As que ainda são enviadas, são de presídios, onde é praticamente a única forma de quem está longe se comunicar com um ente querido. Os cartões de Natal diminuíram muito também em função das mensagens através do Whatsapp. É uma pena, pois você recebia esses cartões desejando "Um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo" e colocava na sua árvore. E depois retribuía.

Há quanto tempo trabalha nos Correios, e quando percebeu que as cartas eram cada vez mais raras?

Trabalho nos Correios há 35 anos. Comecei a perceber a diminuição das cartas e dos cartões de Natal, principalmente com a chegada do Whatsapp. Hoje você vai no Google copia um cartão de parabéns e manda para a pessoa em questão de segundos. Então… ninguém mais escreve cartas, manda cartões. Essa prática acabou.

Qual o selo mais valioso que você já teve? Ainda tem algum?

Tenho alguns selos raros e alguns de valor afetivo. Um dos mais raros é o comemorativo da chegada do homem à Lua, em 1969, lançado nos Estados Unidos. Outro é de uma quadra lançada em 28 de novembro de 1969, em comemoração ao milésimo gol do Pelé, com o carimbo do Estado da Guanabara. E tenho um carinho muito especial pelos selos lançados pela conquista do nosso eterno tricampeão de Fórmula 1, Ayrton Senna.

Considerações de Albertini sobre selos:

“A tendência é realmente os selos e as cartas virarem peças de museu. Talvez, por isso ainda resistam os colecionadores, que são apaixonados pelo passado, vivem no presente, mas pensam no futuro, guardando e preservando a história para as futuras gerações. Quantas pessoas esperavam ansiosas a chegada do carteiro para saber se tinha carta de um filho, do marido, da mãe ou do pai, para saber das notícias. Isso aconteceu comigo várias vezes e eu fazia questão de chamar no portão para entregar essa tão esperada carta e ver a reação e a emoção das pessoas.”

 

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