Violência doméstica, nas comunidades, fome, falta de vagas em escolas, envolvimento com drogas e álcool… São tantas as frentes de atuação do assistente social, que não dá nem para enumerar. Esse profissional que tem seu dia celebrado neste 15 de maio trabalha, não só no atendimento aos mais vulneráveis, que correm risco social e aos que têm os direitos violados, analisando as necessidades e encaminhando para a solução da demanda, mas também na elaboração de projetos e políticas para a diminuição das desigualdades sociais. É uma profissão ainda pouco conhecida, mas de extrema importância, principalmente em momentos de crise, como o da pandemia da Covid-19.
“Por se tratar de uma profissão que responde às demandas sociais, e em consonância com as finalidades, objetivos, valores e princípios ético-políticos estabelecidos em seu Código de Ética Profissional, o assistente social assume compromisso com os interesses e necessidades da classe trabalhadora, com a superação das desigualdades sociais e a construção de uma sociedade que não mercantilize a vida, o que, de cara, já é o maior desafio: trabalhar neste contexto desigual. Além disso, o desconhecimento do que de fato é a profissão, a precarização e não valorização do trabalho do assistente social, assim como, a formação acadêmica sem respaldo crítico que vá além do que está posto, se torna também um grande desafio, o que incide na realidade do usuário em que atendemos”, explica Ana Olivia Verly Waldhelm, assistente social, que atua em Nova Friburgo há mais de dez anos.
(Ana Olivia Verly Waldhelm)
Diferente do que muitos imaginam, o assistente social não trabalha somente com pessoas em situação de pobreza. Trabalha também com pessoas que têm seus direitos violados ou que estão em vulnerabilidade social, o que perpassa a situação econômica. “Dessa forma, não atendemos somente a classe mais vulnerável no que é pertinente à renda, qualquer pessoa pode estar vivenciando uma situação de vulnerabilidade social, assim como, violação de direitos. Como o Brasil é um país com alto índice de desigualdade social, os assistentes sociais têm seu trabalho voltado para a população em situação de ausência de renda”, esclarece Ana Olívia.
A assistente social aposentada, Eliene Grillo Folly, trabalhou por 30 anos no Hospital Raul Sertã. Pós graduada em dependência química se dedicou ao acolhimento e aos projetos voltados às pessoas com dependência. “Atendíamos não só o dependente, como toda a família. Encaminhávamos para os grupos de apoio como o Alcóolicos Anônimos e Narcóticos Anônimos”, explica. Eliene lembra que tem contato com muitos que atendeu até hoje. “Nesse período de pandemia em que o ambiente favorece os gatilhos, ter quem acolha é fundamental. Faz falta um abraço, um aconchego, uma palavra de incentivo”, acredita.
(Eliene Grillo Folly)
Existe também uma confusão entre assistência social e assistencialismo. Ambos importantes, mas diferentes. “O público alvo atendido, assim como, as demandas vivenciadas são de situações de vulnerabilidades sociais, de risco social, assim como de diversas violações de direitos, em um contexto que acaba mantendo estas situações e o profissional tem que atuar em cima de todas as desigualdades existentes. “Dessa forma, existe uma necessidade de tentar separar o profissional do pessoal, pois são situações pesadas e delicadas, que se formos nos envolver emocionalmente, além de adoecermos, pode acontecer de não seguir estritamente o que está posto pela atuação da política de assistência social. Precisamos ter um olhar profissional e ético, humano sim, mas, dentro do que prevê a nossa atuação, sem levar em consideração valores e princípios, que talvez, temos na nossa vida pessoal, mas, não podemos confundir com a vida profissional. Assim, precisamos saber separar a emoção da razão, para que o usuário que a gente atenda consiga acessar as políticas públicas e seus direitos, através da nossa intervençãol”, esclarece Ana Olívia.
A assistência social em Nova Friburgo
Em Nova Friburgo existem mais de sete mil famílias inscritas no Cadastro Único (CadUnico), que sinaliza a situação de extrema pobreza. “Levando em consideração que nem toda a população acessa o CadÚnico e tem conhecimento dos equipamentos socioassistenciais, este número, com toda certeza, é maior. Além disso, a cidade registra altos índices de violência contra mulheres, crianças e adolescentes, idosos, entre outros públicos. O cenário das diversas questões sociais e vulnerabilidades é latente e muitas vezes, banalizado por grande parcela da população ,” disse a assistente social Ana Olivia Verly Waldhelm.
A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos, Trabalho e Políticas Públicas para a Juventude é o órgão gestor da política pública de assistência social no município. É a responsável pela garantia da proteção social a quem dela precisar e pela promoção da cidadania, por meio da implantação do Sistema Único de Assistência Social – (Suas). A oferta os serviços da Proteção Social Básica, através dos Cras (conselhos regionais de assistência social), serviços da Proteção Social Especial de Média Complexidade, através do Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), do Centro de Referência da Mulher (Crem), do Centro de Cidadania Hanna Suzart e do Serviço de Proteção Social de Alta Complexidade, através de unidade de acolhimento institucional para crianças de adolescentes.
“Só no mês passado, houve quase 3.500 atendimentos às famílias evidenciando aumento da demanda neste período de pandemia. O empobrecimento da população, diante do desemprego e das dificuldades de continuidade do trabalho informal, contribuiu para esse aumento,” disse a nota enviada pela Secretaria de Assistência Social, Direitos Humanos, Trabalho e Políticas Públicas para a Juventude. A Secretaria de Assistência Social conta com 20 profissionais com graduação em Serviço Social, atuando nos diversos equipamentos de proteção social.
Nova Friburgo possui quatro Cras, no Centro, Olaria, Campo do Coelho e em Conselheiro Paulino. Essa nova concepção da assistência social, organizada em Sistema Único, pretende superar a ação fragmentada e segmentada; direcionar sua organização em torno da materialidade sociofamiliar, e descentralizar serviços, ofertando-os em locais próximos da moradia das famílias. “O olhar do profissional se volta, assim, para a família e para os seus membros, em um dado território, espaço onde se manifestam as vulnerabilidades e riscos, por meio de fenômenos complexos e multifacetados, que podem incidir diferentemente sobre as famílias e, e m alguns casos, mas especialmente sobre um de seus membros”, explica a nota.
Os Cras funcionam como porta de entrada para os serviços da Assistência Social no município. Através do Serviço de Proteção e Atendimento à Família (Paif), que integra um dos serviços do nível de proteção social básica, é realizado o trabalho social com famílias. Este tem um caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva da família, prevenir a ruptura de seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo.
A equipe de referência do Cras é interdisciplinar e é composta por assistente social, psicólogo e profissional de nível médio. “Essa equipe trabalha preventivamente, organizando e ofertando os serviços com o objetivo de emancipar os indivíduos em situação de vulnerabilidade social, com ausência de renda e com acesso precário aos serviços públicos ou que estejam com os vínculos familiares enfraquecidos. Beneficiários de programas de transferência de renda, como o Programa Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), também fazem parte do público de atendimento dos Cras” , informa a nota.
As principais atividades diárias da equipe são atendimento e acompanhamento familiar, oficinas com grupos de famílias, inscrição no Cadastro Único para os programas sociais do Governo Federal, concessão de benefícios eventuais (cestas de alimentos, auxílio funeral), visitas domiciliares, encaminhamentos para o mercado de trabalho, para a rede socioassistencial e demais órgãos públicos, articulação com a rede de atendimento, elaboração de relatório e laudos técnicos, entre outros.
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