Na virada do milênio, mais precisamente, em 1999, a Assembleia Geral da ONU convocou um Movimento Global para uma Cultura de Paz. Pelo calendário do órgão, 2000 seria marcado como o “Ano Internacional da Cultura de Paz” e a década conseguinte, a terminar-se em 2010, seria reconhecida como a “Década Internacional para uma Cultura de Paz e não-violência para as crianças do mundo”.
Contudo, traz um certo desalento perceber que saímos daquela primeira década (2000), iniciamos e terminamos outra, e agora, neste começo de mais uma — 2020, e essa temática permanece urgente, se não ainda mais necessária.
Para melhor compreender toda a dinâmica em torno do conceito de cultura de paz, é importante desvinculá-lo das macro agendas de países e organizações para centrá-lo nas relações do dia a dia, entendendo-o como parte fundamental para fortalecer um cotidiano saudável.
Difundindo a cultura de paz no cotidiano
Resumidamente, a cultura de paz diz respeito a uma visão de mundo que privilegia o diálogo e a mediação para resolver conflitos, abandonando atitudes e ações violentas e respeitando a diversidade dos modos de pensar e agir.
Como explica uma cartilha produzida pelo Ministério da Justiça, o conceito de cultura de paz parte do princípio de que nem a violência, nem a paz, são naturais à atividade humana. Por um lado, é necessário entender que, como fenômeno social complexo, a violência se exemplifica em grupos, pessoas, ações e relacionamentos que necessitam de transformação. Consequentemente, a paz, como ressaltado pela cartilha, “precisa ser ensinada, aprendida e estimulada” para efetivar essa mudança de ótica.
Por essa razão o movimento pela paz deve ser de natureza coletiva: cabe a cada um de nós trabalhar e difundir a paz no dia a dia, sendo mais generoso e solidário, e construindo novas formas de relacionamento baseadas em princípios não-violentos.
Desenvolver relações saudáveis, é estar constantemente cientes das nossas responsabilidades, entendendo que nossas ações afetam o outro tanto positiva quanto negativamente. Vale sempre cultivar convivências baseadas na empatia e no real interesse, a fim de valorizar a diversidade de experiências, o diálogo e a cooperação.
Estendendo a paz em ambientes diversos
Um simples “bom dia”, dito de certa maneira, pode ser a senha que vai desanuviar um ambiente que parecia estar predestinado a ser um “mau dia”. Seja o início de uma jornada de estudos, de trabalho, em lugares públicos, num instante, esse simples aceno, gesto, sorriso, desarma animosidades e reforça vínculos de afeto.
Basicamente, vínculos precisam ser fortalecidos para impulsionar qualquer comunidade a se preocupar com o outro, se dispor a acolher e a integrar. Não é demais reforçar que a escuta verdadeira é uma iniciativa importante para minimizar os impactos provocados por dores, sofrimentos.
Muitas vezes nos valemos, em sala de aula, por exemplo, de métodos que prezam por uma visão individualista e competitiva do aprendizado, ações que acabam por diminuir o outro sem a devida compreensão de suas potências e dificuldades. Mesmo em caso de erros, a responsabilização não precisa necessariamente seguir um modelo muito rígido: avaliações justas são aquelas em que a situação e o contexto também são levados em conta.
Para além das medidas repressivas, por que não incentivar o diálogo e a construção conjunta de regras de convivência? Um ambiente participativo é imprescindível para se estabelecer uma boa comunicação interpessoal, que deve, ainda, centrar-se na alteridade para a sensibilização em questões de gênero, raça, identidade e orientação sexual.
Por fim, referências positivas devem ser divulgadas, a fim de contribuir para o fortalecimento de identidades pessoais e culturais entre os membros de nossa comunidade. É por meio do outro que nos reconhecemos, mas é a partir de um profundo conhecimento de si mesmo que entendemos nossas reais possibilidades e limitações. (Fonte: www.ufmg.br)
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