Dirigindo com os pés: a embreagem

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Dando continuidade à nossa breve série de artigos a respeito dos pedais de um automóvel equipado com câmbio manual, é hora de falar do patinho feio entre os comandos que o motorista executa com os pés: a embreagem.

Dissemos anteriormente que o acelerador atua diretamente sobre o motor, e apenas indiretamente sobre as rodas; e que os freios atuam diretamente sobre as rodas, e apenas indiretamente sobre o motor. Pois bem, com a mesma propriedade poderíamos dizer que a embreagem atua justamente no controle sobre esta ligação entre rodas e motor, dando ao motorista a oportunidade de estabelecer, cortar ou dosar esta conexão, conforme a conveniência de cada situação.

Sim, porque é preciso observar que a ligação entre rodas e motor nem sempre é conveniente. Basta imaginar, por exemplo, como seria ligar um carro em que não se pudesse controlar essa conexão: o veículo saltaria para a frente a cada ciclo do motor, dando trancos bastante desconfortáveis para quem estivesse dentro, numa dinâmica muito prejudicial à durabilidade das peças envolvidas. Da mesma forma, toda vez que o veículo fosse obrigado a parar, o motor teria de ser desligado, também abruptamente. Tudo isso sem mencionar a inviabilidade de trocar marchas, que reduziria drasticamente a eficiência dos veículos terrestres.

Por outro lado, não basta interromper esta conexão, sob pena do veículo perder sua capacidade de locomoção, como se estivesse sempre em ponto morto. É preciso controlá-la, dosá-la, e a embreagem faz isso de maneira muito satisfatória. Assim como os demais pedais, ela apresenta inúmeras gradações entre seu uso total e a não utilização. Mas, diferentemente de seus pares, ela pode estar trabalhando, mesmo quando aparentemente não é acionada.

Uma análise prática torna a explicação mais compreensível. No momento de ligar o motor, por exemplo, recomenda-se apertar o pedal da embreagem até o fim. Deste modo, não apenas reduz-se o esforço do motor de arranque, como também assegura-se que o carro não irá se mover, caso alguma marcha tenha ficado engatada por engano. Em seguida, quando o motor estiver devidamente aquecido, o(a) motorista irá acionar a embreagem para que possa engatar a primeira marcha, e então irá gradativamente soltar o pedal, até que motor e transmissão comecem a acoplar. Esta é uma fase delicada, pois o movimento gerado pelo motor chega às rodas através do contato entre superfícies que giram com velocidades diferentes, e isso gera calor e desgaste. Por isso, o ideal é não permanecer com o pedal parcialmente pressionado durante muito tempo. Quanto mais rápido for possível tirar o pé da embreagem, melhor.

Com as duas partes devidamente conectadas, temos a situação narrada nos textos anteriores. O acelerador passa a atuar indiretamente sobre as rodas, e os freios alcançam indiretamente o motor. Ao acelerar o carro ganha velocidade, e logo o motor já está na rotação adequada para a troca de marcha. De novo, precisamos da embreagem para cortar a conexão e selecionarmos um novo fator de multiplicação.

Neste segundo momento, e em todas as demais trocas com o carro em movimento, a conexão envolverá o encontro de duas superfícies girando em velocidades próprias. Para que tal conexão seja menos traumática, portanto, o ideal é “preparar” esse encontro, acelerando até que o motor encontre-se o mais próximo possível da rotação que exibiria àquela determinada velocidade, naquela determinada marcha. Parece complicado, mas é algo bastante natural para quem está acostumado a dirigir sempre o mesmo veículo.

Em nosso próximo encontro veremos como proceder quando cada um dos pedais falha.

Até lá!

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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