Transtorno de Personalidade: rigidez do ser

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Existem muitas pessoas difíceis de conviver como as obsessivas, as teatrais, as explosivas, as que se sensibilizam com tudo sendo emotivas demais, também as detalhistas e perfeccionistas, inflexíveis, rígidas, entre outras. Não é incomum, no convívio com tais indivíduos complicados, pessoas exclamarem: “Que pessoa neurótica!”

Elas estão assim por alguma doença mental ou são assim porque cresceram com uma (ou mais) destas características? Sabemos que há um espaço em nossa mente chamado “inconsciente” que nos leva a fazer ou dizer coisas que podem espantar a nós mesmos! Mas também surge a pergunta: tenho um inconsciente ou sou inconsciente? Ou ambos?

As pessoas podem ser mudadas. Mas também podem se acomodar no seu jeito de ser e permanecerem sempre as mesmas, até morrer. Perguntas importantes neste assunto podem ser: quero mudar? Percebo em meu jeito de ser algo que me faz sofrer e faz outras pessoas sofrerem? Desejo melhorar minhas características de personalidade que são imaturas e complicadas, e que produzem sofrimento nas pessoas com quem convivo?

É muito difícil conviver com pessoas que respondem a tais perguntas com argumentos como: “Mudar em quê?”, “Funciono bem assim até agora, para que mudar?”, “Não tenho nenhuma dificuldade com este meu jeito de ser. As pessoas é que me criticam.” Mas a verdade é: não existe nenhuma pessoa que não necessita de aprimoramento na sua personalidade. Maturidade emocional é um alvo a ser perseguido a vida toda.

Pessoas difíceis podem mudar. Elas precisam querer por si mesmas. Querer mudar porque pararam de negar que têm problemas de personalidade. Parar de negar é o primeiro grande passo para o começo da mudança. Parar de negar é admitir a existência do problema, e isto, por sua vez, é básico para se procurar os caminhos de resolução.

Não é fácil mudar como somos. Geralmente nos acomodamos e estagnamos no jeito de ser e de funcionar na vida. Mas havendo a percepção dos problemas pessoais de personalidade, e cultivando o desejo de melhorar o que se é, se a pessoa se empenha bastante, alguma mudança ocorrerá no seu jeito de ser. Isto é o oposto de ficar estacionado na rigidez de ser (existir como persona), causando sofrimento nos outros, além do autossofrimento devido à fuga da verdade sobre si mesmo.

Realmente muitas pessoas apresentam o que chamamos cientificamente de Transtorno de Personalidade. Elas possuem um ego doentio, acima das limitações que todos possuímos em nosso jeito de ser. Para alguns autores, eles são indivíduos com personalidade anormal, sem apresentar aparentemente lesão cerebral. Trata-se de um jeito de ser com fortíssima tendência de permanecerem assim a vida toda, e que compromete o desempenho da pessoa nos seus relacionamentos gerais.

Parte 1

O Transtorno de Personalidade aparece precocemente no desenvolvimento da pessoa, e se entranha nela fortemente, fazendo-a ser assim. Exemplo, uma pessoa com Transtorno de Personalidade Anancástica ou Obsessivo-Compulsiva se caracteriza por apresentar preocupação com detalhes e cautela exagerados, rigidez, teimosia, inflexibilidade, evita tomar decisões crendo que há outras prioridades, tem falta de generosidade e sentimentos de compaixão e tolerância para com os outros, sente dificuldade de se descartar de objetos usados, é muito controladora em sua família, especialmente nas despesas e se torna exageradamente poupadora, constantemente fazendo cálculos sobre sua vida financeira. Qual a diferença entre um indivíduo com este Transtorno Obsessivo-Compulsivo e uma pessoa cautelosa com despesas e organizada? A diferença é que no transtorno há um exagero de comportamento, estas características se tornam predominantes, e controlam a pessoa de forma rígida produzindo sofrimento nela e nas pessoas que convivem com ela, e acaba prejudicando o desempenho dela na vida e nos relacionamentos. Vamos voltar a este assunto na próxima semana.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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