Cuidando melhor de você

quinta-feira, 08 de junho de 2017

Muitas pessoas aprenderam a cuidar de si mesmas erradamente. Cresceram pensando (conscientemente ou não) e sentindo não merecer coisas boas. Se você chegou na vida adulta com esta crença negativa sobre si mesmo, e por isso se maltrata, será que tem jeito de melhorar? Sim, tem. Vamos ver como.

Em parte, esta atitude de autodesvalor e autodepreciação é desenvolvida na personalidade devido a uma sensibilidade talvez exagerada que faz com que, ao longo dos anos, desde a infância, alguns reajam com mais sofrimento do que outros diante de eventos estressores. Ou seja, quando pai ou mãe perdem o autocontrole e atacam os filhos com palavras depreciadoras, os filhos mais sensíveis não sabem se proteger e o abuso verbal dos pais os machuca mais profundamente do que os irmãos mais resistentes, menos vulneráveis.

E em outra parte o sentimento de desvalor cresce numa pessoa talvez porque tem pais, pai e mãe, que não sabem educar os filhos de uma maneira que preserve o valor e o senso de dignidade das crianças. Então, para algumas crianças, juntou a fome com a vontade de comer, ou seja, pais abusivos verbalmente e filhos sensíveis emocionalmente, isto gerando sentimentos de autodepreciação, de inferioridade, de vazio.

A noção de autovalor é algo construído. Não se nasce com isto. É um aprendizado. E se uma pessoa aprendeu a se desvalorizar e se depreciar e vive assim até hoje, é possível desaprender isto e aprender a cultivar respeito pessoal e autovalorização. Se você se sente inadequado, inferior, depreciado, desvalorizado, algumas coisas que podem ser feitas neste sentido para melhorar podem ser:

1) Ofereça a si um presente. Vamos supor que você sempre adia comprar um produto numa loja porque tem preço alto e você sempre compra a marca mais barata, mas permanece mês após mês com o desejo de comprar a outra marca mais cara. Assim que possível, permita a si mesmo comprar o produto mais caro. Dê este presente a si mesmo.

2) A mente de uma pessoa sensível criada numa família disfuncional, onde predominou depreciações contra ela, tem a tendência de produzir pensamentos de auto-ataque e de autodesvalorização. Então, assim que você perceber na sua consciência qualquer pensamento lhe depreciando, pare, e diga a si mesmo: “Não vou permitir que este pensamento permaneça aqui na minha mente me atacando.” Se esforce para mudar o pensamento, e isto é possível porque você pode escolher no que irá pensar. Isto significa que agora você age consigo de maneira melhor do que foi tratado no passado ao ser atacado e depreciado. Agora você pode se tornar bom pai, boa mãe para si mesmo.

3) Sempre que fizer algo que exigiu esforço, valorize-se. No final do dia, ao deitar para dormir, pense por um momento relembrando o que conseguiu fazer naquele dia e agradeça a Deus e se valorize por ter conseguido. Mesmo que tenha sido um dia difícil emocionalmente e que em outro dia teria feito mais coisas. Considere, portanto, que você não estava bem no dia, mas que mesmo assim conseguiu realizar algumas tarefas.

4) Uma das pessoas a quem você precisa aprender a amar a ponto de tratar bem é você mesmo. Podemos amar-nos de modo egoísta ou de maneira equilibrada. Amar a nós mesmos de forma egoísta significa só pensar e só fazer coisas boas para nós mesmos. Amar a nós mesmos de maneira equilibrada significa que tratamos bem também a nós mesmos. E isto é um aprendizado. Requer perceber maus-tratos aplicados a nós e parar com isto, substituindo o autodesprezo por atos bondosos para com a gente mesmo.

5) Lembre-se com frequência de que você tem direito de ser. Ou seja, você tem o direito de ser uma pessoa que tem gostos, preferências, desejos, limites. E pode lutar para experimentar pelo menos alguns deles em sua vida.

6) A vida tem lhe ensinado muitas coisas. E ensinará mais, porque a experiência se adquire com o tempo na vida e enquanto viver, você terá algo mais a aprender. Mas aquilo que aprendeu, aquilo que já lhe dá alguma convicção do que é o melhor, faça isto. Confie na convicção que há em sua experiência de vida, em vez de abandoná-la.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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