Quer um conselho?

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

De conselheiros o mundo está cheio. Há conselhos para tudo. Ouvimos as diretrizes alheias mesmo quando não pedimos opiniões nem estamos interessados em sabê-las. É como um processo natural do ser humano. Falamos muito sobre nossa visão sobre determinado assunto ainda que não sejamos instados a dizê-los. Aos poucos, vamos perdendo nossa capacidade de simplesmente ouvir. E quanto mais maturidade (idade) vamos conquistando, mais conhecedores das verdades pensamos que somos. E muitas vezes, somos.

Mas até que medida nossa necessidade em expormos nossos pontos de vista sobre tudo têm efeitos práticos? Se não pudermos apenas ouvir, por que supomos que seremos ouvidos? Precisamos alinhar os discursos e o tempo para ouvir - e sentir - para que o bom e velho conselho encontre seu lugar de destaque no diálogo. Qual o lugar de fala daquele que tem opinião sobre tudo? Como pode ser útil em minha tomada de decisões?

Desde muito cedo, costumeiramente ouvimos aquela premissa básica de aprendermos com nossos erros e com os dos outros. Eis uma verdade difícil de ser praticada. Podemos observar tudo de ruim que acontece ao nosso redor e extrairmos lições preciosas que podem nos conduzir a rumos mais seguros de vida. Ora, se eu sei que aquela situação desagradável aconteceu com alguma pessoa por determinado motivo, seria inteligente da minha parte me antever ao infortúnio buscando um caminho mais ponderado. Se estou certa de que o plano A é perigoso, melhor buscar rumo pelo plano B. 

Mas infelizmente nem todos nós temos a consciência disso e a humildade para acolher a história do outro como aprendizado para nós. Até porque somos diferentes e há inúmeros fatores que nos colocam em posições completamente distintas diante de circunstâncias semelhantes de vida. 

Normalmente, aprendemos pra valer quando somos as cobaias das nossas próprias experiências, quando somos convidados pela vida a aprendermos e sentirmos na própria pele. Na teoria podemos ser experts em determinados assuntos, mas é na prática que somos desafiados a aprimorarmos nossas habilidades de enfrentamento e capacidade de superação. Se formos inteligentes, tornamo-nos mais experientes e então nossos conselhos ganham um status mais elevado em nossa mente. É como se ganhássemos credibilidade por já termos degustado mais dores, enfrentado mais leões, vivenciado mais adversidades. 

Eu, particularmente, acho que opiniões formadas sobre tudo podem nos engessar e então, as vejo com certa antipatia. Por outro lado, penso que a experiência de vida seja um tesouro e por isso valorizo tanto boas conversas com pessoas mais experientes - e com boas intenções. Penso que temos muito o que aprender com quem já passou por situações semelhantes e já encontrou soluções vencedoras anteriormente.

Creio no poder das palavras proferidas com amor e intuito de ajudar. Da mesma forma, sei que cada um é um ser único e que vem a esse mundo com sua própria bagagem de vida para carregar, com seus pesos e descobertas fascinantes. Dependendo, há sempre um espaço na mala para guardar os conselhos bem vindos de pessoas queridas ao mesmo tempo em que o espaço é pequeno demais para armazenar excessos de opiniões, verdades absolutas e futilidades que não são úteis, não cooperam para o bem e não agregam nada na vida. Sejamos bons conselheiros, sejamos ouvintes melhores ainda e tenhamos discernimento em separar o joio do trigo. 

TAGS:

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.