Doença psicossomática: sinal no corpo da dor emocional

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Hipócrates (460aC-370aC), médico grego, o pai da medicina, disse algo interessante que se relaciona com a psicossomática, quando falou que mais importante do que saber que doença tem uma pessoa, é tentar entender que pessoa tem a doença. Ele recomendava que pessoas com asma aprendessem a expressar melhor sua raiva, etc.

Doença psicossomática é a que se manifesta no corpo com sintomas e lesões físicas, mas cuja causa principal se origina na mente, em conflitos emocionais ou psicológicos. Isto é diferente de “somatização” porque nesta não há lesões detectáveis seja por exame médico físico ou laboratorial.

Quando uma pessoa tem uma carga de estresse emocional muito grande, ela pode manifestar parte deste estresse no corpo, porque o corpo é um ajudador da mente, e ambos trabalham em união indivisível, inseparável. Neste sentido podemos dizer que toda doença, independentemente de sua origem, é psicossomática. Corpo e mente funcionam em harmonia de tal modo que quando algo é pesado para a mente carregar, em termos de tensão nervosa, é como se o corpo dissesse para a mente: “Você quer uma ajuda?”. Então, a mente diz: “Sim, me ajude porque está pesado lidar com este sofrimento mental!”. A partir daí a mente “joga” para o corpo parte de sua tensão, e o corpo começa a apresentar sintomas, que são, então, psicossomáticos.

Anos atrás um ganhador do prêmio Nobel de Medicina mostrou em seu trabalho científico que existe uma conexão entre células do Sistema Nervoso Central (SNC) e células do Sistema Imunológico (SI). Dr. Uldeman e colaboradores, no laboratório do estudo do estresse na Universidade do Arizona, provaram que pessoas vivendo perdas importantes, como a morte do cônjuge, podem ficar vários meses com uma deficiência no sistema de defesa ou SI, devido à tristeza. Algumas células de defesa, como as células matadoras naturais, ou linfócitos T e B, ficam reduzidos ou pouco ativos em seu trabalho de combater vírus e bactérias porque a tristeza os afeta.

Talvez você já tenha ouvido falar de um idoso que estava bem de saúde e poucos meses após a morte de um parente muito próximo dele (esposo, esposa, etc), ele mesmo passou a ter alguma infecção importante e veio a morrer também. Por quê? Porque a tristeza abateu a força da imunidade e, assim, um vírus ou bactéria aproveitou a situação e causou a doença grave.

Parece que quanto mais uma pessoa tem dificuldade de tomar consciência de suas emoções, especialmente das emoções dolorosas ou desagradáveis, mais provável é que ela apresente sintomas psicossomáticos, porque o corpo absorve tais sentimentos que a pessoa se sente inapta para vivenciá-las em nível consciente.

Isto significa que quanto mais um sintoma psicossomático está “enterrado” no corpo, mais longe a pessoa está da verdade sobre o sentimento reprimido e somatizado. Diana Fosha, da Universidade Adelphi, Nova Iorque, diz que para cada emoção há um componente visceral. Ou seja, sempre um sentimento tem uma expressão no corpo.

Se você tem dificuldade de expressar raiva, ela pode sair pela asma, na hipertensão arterial, etc. Pessoas com importante dificuldade de expressar qualquer sentimento podem apresentar frequentemente prisão de ventre (constipação intestinal). Indivíduos perfeccionistas e “estressados” podem ter muita enxaqueca. Algumas pessoas com importante tendência a reprimir emoções por muitos anos podem facilitar seu corpo a desenvolver câncer (de acordo com estudos de cientistas como B. Siegel, Lawrence LeShan, etc).

Uma pessoa com muita dificuldade de chorar, pode “chorar” pela pele, através de lesões dermatológicas que produzem secreção (lesões exsudativas). Os indivíduos que reprimem muito seus sentimentos tendem a ter doenças degenerativas (câncer, diabetes, esclerose múltipla, etc), enquanto que as explosivas tendem a ter mais doenças como enfarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial. É comum pessoas que desenvolvem fibromialgia assumirem responsabilidade exageradamente na família.

Corpo e mente atuam juntos numa unidade indivisível. Seu corpo é o maior amigo de sua mente, e sua mente é o maior amigo do seu corpo. Cuidar bem do corpo é cuidar bem da mente e vice-versa. Quando você tiver sintomas no corpo que os médicos dizem que “não é nada”, com exames laboratoriais e de imagem normais, comece a pensar e a se perguntar se não há algo mal resolvido em sua vida emocional que pode estar sendo manifestado em seu corpo.

 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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