A angústia e seu significado

quinta-feira, 02 de junho de 2016

A palavra “angústia”, do latim “angere”, do grego “angor”, tem a ver com estreitamento. Afogar, sendo “angustus”, algo apertado, sem ar, sem saída, que constrange, oprime. Do ponto de vista psicológico, angústia significa a sensação de opressão interna, falta de paz, inquietude, podendo ter manifestações corporais, como aperto no peito, frio na barriga, tensão na nuca, bolo na garganta, etc.

A angústia normal não prejudica o desempenho da pessoa no trabalho, nas relações familiares e sociais. Ao se tornar muito perturbadora, incapacita o indivíduo sendo assim, anormal. Há diferentes transtornos ligados a ansiedade ou angústia exagerada, como a ansiedade generalizada, a crise de pânico, as fobias (medos exagerados), o Transtorno Obsessivo-Compulsivo etc.

Na crise de pânico, por exemplo, o excesso de angústia se manifesta muito por sintomas físicos como taquicardia, dispneia (dificuldade de respirar), sudorese, tremores, aflição na cabeça, aperto no peito etc. Isto confunde com sintomas de doenças do coração e circulatórias. Também confunde quando a angústia se manifesta por sensação de bolo na garganta, dando a impressão de ser algo no aparelho digestório.

Ansiedade generalizada é uma forma de angústia na qual a pessoa sofre muitos anos por sentir constantes temores, preocupações, inseguranças, que não chegam a incapacitar em todos os casos, mas produzindo sempre desconforto emocional, inquietude, falta de serenidade quase que o tempo todo.

Sigmund Freud em sua primeira teoria da angústia (1905), considerou que ela era o resultado da frustração do orgasmo, mas logo verificou que nem todas as dificuldades com orgasmo geravam angústia, e que mesmo uma pessoa levando uma vida sexualmente estável, nem sempre tinha ausência de angústia.

Em sua segunda teoria (1910), afirmou que a angústia é um estado afetivo que ocorre tanto em pessoas sadias quanto neuróticas, distinguindo a angústia normal da neurótica. Neurose é quando a pessoa encolhe seu jeito de ser para sobreviver psiquicamente. É ser menos do que ela seria normalmente. É como o sapato confortável para você é tamanho 39 mas você vive usando o 38. É um desconforto no ser (existir).

Em 1926 Freud definiu o ego como o local verdadeiro da angústia, por estar este ameaçado por três perigos distintos: mundo exterior, libido e superego. Diante destes perigos, o ego retiraria de si a percepção ameaçadora, retração esta gerando angústia, sendo esta, na verdade, não algo novo, mas reprodução de um estado afetivo ocorrido anteriormente na vida da pessoa.

Quando a pessoa deseja algo que seu superego (consciência moral, a qual pode ser rígida demais) condena, surge uma luta entre o desejo e a proibição dele pelo superego, daí a pessoa experimenta angústia, já vivida em outras experiências afetivamente semelhantes no passado.

Outros teóricos no estudo da angústia falaram que ela surge no nascimento (Rank, 1923) pela experiência de separação, ou no desmame etc. Interessante que algumas pessoas com crise de pânico sentem forte necessidade de vínculo afetivo de tal maneira que diante de algo que ameace o rompimento deste vínculo, pode ter a crise. Estudos descreveram que no amadurecimento a pessoa vai saindo de um estado de dependência infantil, baseado numa união simbiótica com a mãe (objeto), para um de dependência adulta, a qual separa o eu do objeto.

Quando a criança não consegue passar bem por esta separação simbiótica, pode apresentar sofrimentos emocionais de tipos variados. M. Klein (1935) descreveu que os seis primeiros meses de vida contêm os fatores principais das futuras características psicológicas da pessoa, e fala da angústia persecutória e depressiva.

Para K.Horney, (1969) a base da angústia não reside nos impulsos eróticos em si, mas nos impulsos hostis vinculados a eles, surgindo a angústia na criança devido à repressão da hostilidade por medo de perder a pessoa de quem necessita, medo de perder o amor da pessoa amada e medo de vir a ser uma criança má.

Resumindo: 1 - A angústia é um estado mental desagradável, dolorido, no qual há sentimentos de desamparo. 2 - Os estados de angústia são desencadeados por algo ocorrido no presente, mas que serve para reativar temores e conflitos do passado. 3 - A angústia surge como sinal de conflito e é experimentada como vivência de perigo. 4 - Para que a angústia seja percebida e integrada como um sinal de conflito intrapsíquico e mobilizar mecanismos de defesa no eu, a pessoa deve ter a capacidade de administrar a angústia ao invés de ser dominado por ela. 5 - A sensação de perigo que a pessoa experimenta com a angústia parece se relacionar com a perda do objeto de ligação afetiva nos relacionamentos primários. 6 - A angústia pode ser ligada ao conflito entre a necessidade de dependência por um lado, e o medo de rompê-la, por outro lado. 7 - Os ataques de pânico, que são um transbordamento da angústia, podem ser o início de depressões e reações psicossomáticas (doenças no corpo que se originam na mente).

Fonte: La exploraciónpsicodinámica en salud mental, José Luis Lledó Sandoval, Editorial Club Universitario, 2009

TAGS:
César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.