I Feira Cultural de Nova Friburgo

quarta-feira, 01 de junho de 2016
Foto de capa

A literatura aplaudiu os esforços empreendidos pelos novos escritores Thales Amaral, Flávia Gonçalves e Carlos Henrique Abbud, que organizaram a I Feira Cultural de Nova Friburgo. O que foi para mim a confirmação de que o espírito literário continua a emanar das nossas montanhas, tão vivas e poderosas, que fazem a inspiração se espalhar pelas ruas, praças e telhados da cidade. Não foi à toa que Casimiro de Abreu escreveu “Meus Oito Anos” aqui. Sem falar de “Cisnes”, soneto composto por Júlio Salusse, no final do século XIX, considerado um dos mais belos poemas da época. E JG de Araújo Jorge, vindo da extremidade norte do Brasil, chegou aqui para compor “Canto a Friburgo”, em que escreveu com suavidade:

No cimo da montanha, em seu ninho florido
- eis Friburgo! - "um jardim suspenso" - no alto erguido
paragem de beleza infinita e de calma,
onde respira o corpo, e onde repousa a alma.

Cidade cujo nome é um símbolo e um troféu,
"parada" de um caminho... a caminho do céu
.

Este espírito alimentou a vontade de realizar a I Feira Cultural, que além de tudo permitiu que a cidade soubesse que há escritores ávidos de criação literária. E que se dão, mesmo diante de dificuldades imensas, o trabalho de construir histórias, poesias, crônicas, pesquisas históricas e outros gêneros.

Ah, o escritor, nesta terra tão brasileira, faz questão de não fazer da bela Nova Friburgo um lugar onde as letras se calem, nem que a poesia se silencie. Assim, I Feira CUltural gritou ao friburguense, povo gostoso e feito de gente de todos os lados do mundo, mesmo por aqueles que cá foram adotados, que não é possível recriar um lugar feito de economia de literatura, quando o frenesi dos jogos, da internet e redes sociais suplantam a rica beleza dos livros. 

A literatura salva. Traz o passado para o presente, fazendo com que a história de época valorize tudo o que existe em cada momento do quotidiano. Se romanceada, mesmo que inspirada em pessoas reais, conta a aventura existencial de tantos heróis, sonhadores ou alucinados, que construíram os paralelepípedos das ruas. O tempo passa e a história fica. As civilizações acabam, mas deixam na arte registros da sua existência. As gerações são renovadas e a literatura as enriquece.  

No sábado, meu olhar observou que os organizadores fizeram questão de mostrar a arte, reunindo o livro de autores da região, a música brasileira e o teatro através de pequenos esquetes infantis. As artes se completam, inclusive a letra de música e o texto teatral dependem da palavra, enquanto expressões culturais em que estamos mergulhados.  

Sem querer fazer tempestade em copo de água doce, os autores da região, dos mais novos aos mais velhos, todos fascinantemente friburguenses, não querem ter suas esperanças desiludidas diante da quietude dos que governam a cidade. Eles fazem anunciar, a partir de uma justa intuição, que, através das paixões e das flutuações do sentimento humano, as artes precisam ser valorizadas e que seus criadores não podem ficar inexistentes ou neutros. Fazem questão de que as crianças e os jovens reconheçam o futuro a partir do ontem e saibam aonde querem ir.

Sim, a literatura tem esta função. Emerge do espírito indisciplinado e faz-se voz, de modo que cada livro de cabeceira tenha a beleza de um tapete persa em que possamos colocar os pés ao amanhecer, não nos permitindo ser absorvidos pela animalidade; nos dando inteligência emocional e nos fazendo acreditar na vida.

Foto da galeria
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