A vila do Morro Queimado está em festa!

quinta-feira, 05 de maio de 2016

Folgo em saber quando a iniciativa privada se interessa por nossa história. Fui convidada pelo shopping Cadima para dar uma curadoria nos festejos do aniversário da cidade que completa 198 anos no próximo dia 16. Haverá barraquinhas com motivos alegóricos, a exemplo de uma senzala, e escolhemos o nome Vila do Morro Queimado para concentrar o evento no shopping.

Nova Friburgo desde a sua criação, durante décadas, era mais conhecida como Morro Queimado. Era o nome da sesmaria que virou sede da vila de Nova Friburgo, criada oficialmente em 3 de janeiro 1820, para abrigar uma colônia de suíços. Morro Queimado é uma referência às montanhas Duas Pedras, pois as fazendas no passado ou tinham nome de um santo ou de uma referência geográfica.

A sede da fazenda ficava próxima a essas montanhas e no mesmo local encontra-se atualmente o Colégio Anchieta. Mas por que morro queimado? Apelidaram-na dessa forma por causa de sua cor tisnada, acinzentada. As montanhas graníticas que caracterizam a geografia local têm essa aparência acinzentada, que outros descreviam como azuladas, e o vulgo passou a denominá-las de “queimada”.

Participam do evento o tour da experiência “Caminhos do Imperador”. Sempre que Dom Pedro II viajava para Cantagalo, hospedava-se em uma das propriedades dos Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Em 1876, o imperador, em visita a Cantagalo, pernoitou na Fazenda Areias. O empresário Mezak Gualberto, do distrito de Boa Sorte, em Cantagalo, reconstituiu um trajeto realizado pelo imperador nas fazendas dos Clemente Pinto para que as pessoas vivenciassem o caminho percorrido por ele.

Em frente à Fazenda Areias existe a comunidade de Vila Areinhas, na qual a maioria dos moradores é constituída por negros, descendentes diretos dos escravos da Fazenda Areias. Mezak Gualberto estimula essa comunidade a manter suas tradições culturais e no percurso histórico-turístico é servido pelos moradores da Vila Areinhas pratos da comida típica de seus antepassados.

Haverá no evento do Cadima Shopping degustação de produtos à base de feijão. A memória da escravidão em Nova Friburgo será lembrada. Haverá exposição de objetos de tortura dos escravos e o mais curioso é um cinto de castidade masculino e feminino utilizado em escravos reprodutores. Outro expositor na Vila do Morro Queimado é a cachaça Eller.

Em maio de 1824, mais de 300 colonos alemães chegaram à Vila de Nova Friburgo para ocupar as terras abandonadas pelos colonos suíços. Henrich Eller e sua esposa, Anna Margarethe Philippi estavam entre esses colonos. Passadas mais de oito décadas, os Eller se dedicam a produção de cachaça iniciada com Eugênio Alfredo Eller.

Mantendo a tradição, a cachaça dos Eller continua sendo feita no mesmo engenho e alambique produzida no passado, utilizando a receita e procedimento de 1910. A presença de descendentes de colonos germanos e igualmente de imigrantes alemães em Nova Friburgo foi um campo fértil para a existência de fábricas de cerveja durante várias décadas.

A Barão Bier representará essa tradição cervejeira e igualmente a sua história na vila. A Chocobella preparou algumas receitas com base no milho. Esse produto teve uma grande importância na dieta alimentar do brasileiro, depois da farinha de mandioca. O milho foi um produto agrícola plantado largamente pelos colonos suíços.

O fotógrafo Osmar de Castro possui um valioso acervo de fotos antigas de Nova Friburgo. De seu acervo foram selecionadas imagens que remontam desde o final do século 19, até meados do século 20. A seleção foi feita de forma a contar um pouco da história do município durante essas décadas. O artista plástico Mário Moreira está representado nas imagens passado e presente do núcleo urbano em um painel da Casa Suíça e o chalet do barão, do Nova Friburgo Country Club, complementa a riqueza de imagens.

O visitante não sairá sem um mimo. A Escola Superior de Gastronomia da Universidade Candido Mendes fornece em um dos dias do evento um café colonial gourmet e o visitante receberá um valioso folder com algumas receitas do tempo do império. Jongo, sarau, Noel Rosa, teatro infantil, documentários contando a história local e o hino de Nova Friburgo, executado por músicos da Escola Superior de Música da Candido Mendes, complementam o evento que acontecerá entre os próximos dias 17 e 22. A Vila do Morro Queimado está em festa!

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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