Vila Amélia: a chácara dos Martins - Pinto Última parte

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A mansão da Vila Amélia tem um estilo muito parecido com a residência dos Galdino do Vale. Na residência uma imponente escada de pinho de riga com três lances de escadas. Na parede um vitral colorido, vindo da Europa, ocupa toda a altura da casa. Nos compartimentos, a sala principal, a copa, a adega e a cozinha com fogão à lenha e serpentinas que forneciam água quente para toda a casa.

A residência tinha seis quartos em cima e um enorme banheiro. As louças, jarros d’água, bacias e saboneteiras eram todas em faiança portuguesa e tinha o monograma AM, de Antônio Martins, assim como as toalhas, guardanapos e roupas de cama.

Periodicamente, Antônio Martins encomendava peças para repor a baixela que quebrava da fábrica portuguesa de porcelanas, Vista Alegre. Essa empresa enviava os desenhos para ele escolher o seu preferido.

O Córrego do Relógio, que passa pelo atual bairro da Vila Amélia, era canalizado e circundado por videiras plantadas por Antônio Martins que produziam saborosas uvas. As videiras desciam pelo córrego sobre uma pérgula de ferro e forneciam sombra aos que por ali transitavam nos dias de sol causticante.

Os veranistas que passeavam pela Praça do Suspiro geralmente percorriam as margens do Córrego do Relógio apreciando suas videiras até alcançar a chácara de Antônio Martins para adquirir o seu famoso mel. Martins trouxe de Portugal a árvore que florescia a “flor de tojo”, cujo pólen servia para o seu apiário.

A família se orgulhava do mel produzido, o mais apreciado na cidade, que chegou a ganhar medalha de ouro em Bruxelas, a medalha Mel Flor de Tojo. Desde então, foi feito um rótulo com a estampa da medalha e colocado nos frascos do mel.

Estábulo, paiol, vacas, cabras, porcos, enfim, a chácara localizada no coração da cidade atraía a atenção de todos. A charcutaria é uma tradição portuguesa. Em um galpão ficava o fumeiro onde eram defumadas as linguiças de porco, feitas na propriedade. As linguiças de porco eram dispostas e penduradas nos varais e em baixo se queimava a lenha para defumar.

De acordo com a memória familiar, quando se matava um porco os pedaços eram colocados em vasilhames enormes de barro e encobertos por banha derretida que ao esfriar se solidificava, ficando branca como a neve. A carne mergulhada era usada quando necessário e poderia ficar nesse recipiente por meses ou até um ano e assim se tinha sempre pernil fresquinho.

Nos outros galpões ficavam peças para lavoura e o moinho usado para moer o café plantado na propriedade. Antônio incentivou o filho Aníbal a estudar em Portugal e na França, onde se formou em comércio; o segundo filho, Antônio, estudou em um colégio jesuíta de Lisboa.

Já Abílio, que era interno no Colégio Anchieta desde que a família morava no Rio de Janeiro, frequentou uma universidade nos Estados Unidos. Seus demais filhos estudaram no Colégio Anchieta. Antônio Alves Pinto Martins faleceu em 25 de junho de 1924, com 62 anos, na Vila Amélia.

A matriarca da família, Carolina Martins, faleceu em 1945, com 82 anos de idade. Há muitos anos, nenhum membro da família Martins residia em Nova Friburgo, mas em Brasília, Minas Gerais, e alguns deles em Manaus. Um dos filhos, Alfredo, resolveu residir com a família quando do falecimento da mãe. Habitou a Vila Amélia até o ano de1948, para dar prosseguimento aos negócios da família. No entanto, as despesas suplantavam em muito a receita.

A linda chácara de Antônio Alves Pinto Martins estava com os dias contados. O então prefeito de Nova Friburgo, José Eugênio Müller, que se correspondia com Amélia, pretendia adquirir a propriedade para a fundação da Casa Popular ou para a Prefeitura de Nova Friburgo, para ali ser construída uma vila proletária devido a sua proximidade com a Fábrica Filó.

O inventário foi terminado em 1947, ficando o imóvel em condomínio. Como havia muita discórdia entre os irmãos, ficaram entre a extinção do condomínio e a divisão do imóvel ou a sua alienação em hasta pública. Como não houve acordo para a extinção do condomínio, o imóvel foi a leilão, em 1951, sendo arrematado por um valor aquém do esperado.

A Câmara Municipal adquiriu parte dos terrenos da Villa Amélia. A instalação da delegacia e carceragem durante décadas deteriorou e descaracterizou a mansão da Vila Amélia. A Associação Friburguense de Pais e Amigos do Educando (Afape), proprietária do imóvel, não tem condições financeiras de restaurá-la e mesmo de mantê-la.

A linda chácara e residência de Antônio Pinto Martins, que encantava tantos os veranistas, precisa de ajuda. A história da família Pinto Martins é igualmente a história de Nova Friburgo. 

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    As videiras desciam pelo córrego da chácara da Vila Amélia sobre uma pérgula de ferro. Antônio Pinto Martins, à direita.

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    Na imagem Antônio com seus filhos, dois deles com o uniforme do Colégio Anchieta

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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