Os Monnerat: uma história familiar – Parte 2

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Chegando a Fazenda do Morro Queimado foi reservada uma área específica para distribuir datas de terras aos colonos, denominadas de números. No entanto, a maioria das terras era incultivável. Somente uma minoria teve a sorte de receber terras relativamente boas. Mesmo produzindo, o acesso ao mercado era difícil, pois não haviam estradas ou picadas para chegar a vila de Nova Friburgo. Os colonos suíços ficaram isolados no núcleo colonial. Porém, não se conformaram e iniciou-se uma evasão para outras regiões, como Cantagalo, e em direção à Macaé de Cima, um prolongamento do núcleo colonial.

Localizei um documento em que vários colonos exploram Macaé de Cima e entre eles estava a família Monnerat. A população de 1.662 suíços, em 1820, ficará reduzida a 632, dez anos depois. A presença de colonos suíços em Cantagalo será equivalente ou ultrapassará a de Nova Friburgo. Os que permaneceram dedicaram-se às culturas do milho, do feijão, da mandioca e do fabrico do toucinho. Para o historiador Martin Nicoulin, ainda que a administração tivesse sido perfeita, a maioria dos imigrantes teria ido embora. O destino que lhes oferecia Nova Friburgo não correspondia às suas aspirações. Não tinham vindo ao Brasil para sobreviver e vegetar, mas para progredir e fazer fortuna. Achou-se que os suíços iriam contentar-se com a economia de subsistência e se enganaram. Foi o caso da família Monnerat que anos depois mudaria para Cantagalo.

François Xavier Monnerat, sua esposa e sete filhos partiram da Suíça em 1819, do Cantão de Berna, depois denominado de Jura. Chegaram ao porto do Rio de Janeiro em 8 de fevereiro de 1820, a bordo do veleiro Camillus, após de uma viagem de cinco longos meses.

François Xavier Monnerat tinha 42anos de idade e sua esposa 35 anos. Considerando a expectativa de vida naquela época, era uma idade bem avançada para começar uma vida no novo mundo. Provavelmente pensavam no futuro de seus filhos. O mais velho Ursanne Joseph tinha 17 anos; Jean Joseph,  15; François, 13 anos; Sébastian, 6 e Henry, 4 anos de idade. Tinham duas filhas, Marie e Marie Bárbara Régine, com 8 e 12 anos, respectivamente.

Encontramos alguns suíços requerendo sesmarias à Câmara Municipal de Nova Friburgo alegando possuir muitos filhos homens. Era uma condição fundamental para se conseguir terras devolutas ter escravos ou força de trabalho masculina na família. A família Monnerat era de tradição de agricultores e chegaram ao Brasil muito pobres. François Xavier Monnerat recebeu a data de terras de número 58. No entanto, não sabemos que famílias dividiram com os Monnerat essa área, já que as doações de terras eram feitas às famílias artificiais.

E assim iniciam sua atividade no amanho da terra. Em julho de 1820, há um requerimento de François Monnerat na Câmara Municipal solicitando autorização para vender carne e toucinho na vila. Parece-nos que muitos suíços vendiam milho para os tropeiros que passavam pela vila de Nova Friburgo, vindos de Cantagalo. Possivelmente os Monnerat participavam desse comércio e no contato com os tropeiros, tempos depois se mudariam para Cantagalo, exercendo essa atividade. Em novembro de 1837, 17 anos após a sua chegada à Vila de Nova Friburgo, já temos registro dos Monnerat adquirindo terras em Cantagalo.

Jean Joseph e seu irmão Sébastian adquirem a sesmaria Rancharia do Norte também chamada de Rancharia de Dentro. Era uma fazenda de 400 alqueires. Pertencera inicialmente ao padre Francisco Ferreira de Azevedo, vigário na Vila de Santo Antônio de Sá. Esse eclesiástico requerera ao Conde dos Arcos uma carta de sesmaria por se acharem aquelas terras devolutas, ou seja, abandonadas nas Novas Minas de Cantagalo.

O pedido de mercê das sesmarias naquele tempo compreendia meia légua de terras em quadra. Mas houve outro proprietário antes dos Monnerat a comprar essa fazenda. Como adquiriram essa propriedade para ser paga em parcelas fizeram um “papel de trato”, um compromisso de compra e venda daquela época. Honraram as prestações e no ano seguinte passaram a escritura definitiva em cartório.

Nem o padre e nem o proprietário anterior à eles plantaram na fazenda Rancharia do Norte, pois a escritura a descreve como área de terras brutas. A declaração dos Monnerat na escritura como sendo domiciliados no termo de Nova Friburgo, significa que Jean Joseph e Sébastian ganharam dinheiro nessa vila.

Continua na próxima semana.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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