A história do Tiro de Guerra em Nova Friburgo

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Desfile de 7 de setembro em Nova Friburgo. Entre as instituições militares, o Tiro de Guerra. Qual é a história dessa instituição militar no município? Os Tiros de Guerra são oriundos das Linhas de Tiro, e são compostos por civis como forma de sociabilidade.

A Linha de Tiro de Nova Friburgo surgiu em 15 de agosto de 1909, com a presença inclusive do ministro da Guerra. Muitas vezes as pessoas confundem a fundação do Tiro de Guerra em Nova Friburgo, com a Linha de Tiro.

Tendo provavelmente alguma relação com o fim da Primeira Guerra Mundial, as Linhas de Tiro, em todo o país, encerraram suas atividades por determinação do governo, em 1918. Foi o professor Carlos Cortes, proprietário do Colégio Modelo quem incentivou uma base do Tiro de Guerra em Nova Friburgo. Já imaginava a sua utilidade numa luta armada que era iminente: a Revolução de 1930.        Carlos Cortes lutaria nessa revolução contra o governista Galdino do Vale Filho que apoiava o governo de Washington Luís. Na revolução teria se apropriado das armas daquela instituição militar.

O Tiro de Guerra 24 foi inaugurado em 13 de dezembro de 1927, utilizando as instalações do Colégio Modelo, que na ocasião funcionava no Leuenroth, na rua de mesmo nome. Cortes presidiu o Tiro de Guerra durante vários anos e o curioso é o uniforme dos alunos do Colégio Modelo, que remete ao de uma instituição militar.

Passada a fase da Revolução de 1930, nos parece que o Tiro de Guerra ficou à margem dos acontecimentos políticos de Nova Friburgo. Talvez eclipsado pelo Sanatório Naval que foi utilizado como órgão de controle social, principalmente o golpe militar de 1964.

Faltam pesquisas sobre o papel do Tiro de Guerra nesse período, mas de acordo com a história oral, ficou à margem desse acontecimento. A construção da sede própria do Tiro de Guerra, contou com uma campanha empreendida pelo tenente Renato Arnaldo da Silveira Lopes e pelo jornalista Acácio Borges.

O terreno foi doado por Astrodêmia de Morais. Já dona Vitalina Neves igualmente doou um terreno para ser vendido e o dinheiro arrecadado usado na construção da sede. Na ocasião, foram encenadas representações de teatro para arrecadar fundos.

A peça denominava-se “Os Tambores da Guerra”, encenada em 28 de maio de 1942, no cinema Eldorado. A sede própria foi inaugurada em 3 de outubro de 1942. Uma placa registra o momento: “Do povo friburguense ao Tiro de Guerra 24”.

O Tiro de Guerra de Nova Friburgo guarda um valioso acervo da participação dos friburguenses na Segunda Guerra Mundial. A sede nova foi inaugurada em plena guerra e os praças que serviam nesse período foram convocados para lutar na Itália, representando o Brasil e Nova Friburgo.

Os seus nomes estão relacionados em um obelisco na Praça do Suspiro, inaugurado em 18 de outubro de 1945, ano do fim do conflito mundial. De todos os friburguenses que serviram nessa guerra, apenas um faleceu em combate: Antônio Moraes.      Em razão disso, há uma cruz em frente ao seu nome no obelisco. Devido a uma reestruturação do serviço militar no pós-guerra, o Tiro de Guerra de Nova Friburgo encerrou suas atividades naquele mesmo ano.

O povo friburguense protestou contra o fim dessa instituição militar e no ano seguinte o ministro da Guerra restabeleceu o Tiro de Guerra. Na memória dessa instituição, o tenente Renato Arnaldo da Silveira Lopes deve ser lembrado.

Paulista, nascido em 1903, ingressou na carreira militar em 1924, se transferindo para Nova Friburgo dez anos depois para servir como instrutor do Tiro de Guerra, quando ainda funcionava na Rua Leuenroth, no Colégio Modelo.

Em Nova Friburgo, presidiu associações de cunho social como a Liga Friburguense de Desportos, a Associação Católica, além de ter sido  provedor da Santa Casa, enfim, estava totalmente integrado com a vida cotidiana do município.

Apesar de ser conhecido pelo rigor que empreendia na formação dos praças, os seus alunos o admiravam. Ele chegou a ganhar um hino da banda Euterpe Friburguense. O tenente Silveira Lopes assumiu a direção do Tiro de Guerra até o ano de 1961, quando então o prefeito municipal passou a assumir essa função.

O mais curioso é um busto na Praça Getúlio Vargas oferecido pelos ex-atiradores, tecendo preito de homenagem ao tenente Silveira Lopes quando ainda estava vivo. Inaugurado em 1980, o tenente pousa para uma foto ao lado de seu busto. Faleceu dez anos depois dessa homenagem.

O acervo do Tiro de Guerra, tanto em imagens como em objetos de campanha utilizados na Segunda Guerra Mundial é valiosíssimo. Dois dos ex-combatentes ainda estão vivos, mas me foi dito que estão impossibilitados de dar entrevista por razões de doença.

Um deles é interno na Casa dos Pobres São Vicente de Paulo. Fica registrado nessa coluna a memória dessa instituição que guarda interessantes passagens da história de Nova Friburgo. 

  • Foto da galeria

    A peça “Os Tambores da Guerra”, encenada em 28 de maio de 1942, no cinema Eldorado

  • Foto da galeria

    O ex-combatentes friburguenses na Segunda Guerra Mundial homenageados pelo Tiro de Guerra.

  • Foto da galeria

    O tenente Silveira Lopes posa ao lado do busto na Praça Getúlio Vargas oferecido pelos ex-atiradores em sua homenagem.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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