Colégio Anchieta: fé e ciência - Parte 1

sexta-feira, 02 de setembro de 2016

O Colégio Anchieta iniciou suas atividades em Nova Friburgo em 1886. Na sua vinda para a pacata vila serrana, muitas pessoas contribuíram. O primeiro nome a ser citado é o do médico Carlos Éboli. Natural de Nápolis, Carlos Éboli nasceu em 1832 e formou-se em medicina pela Faculdade de Paris, chegando ao Brasil na segunda metade do século 19. Estabeleceu-se na vila de Nova Friburgo em 1872, e só trouxe benefícios ao local. Como vereador foi um dos responsáveis pela vinda a Nova Friburgo do paisagista Glaziou para a elaboração do projeto da Praça Getúlio Vargas, buscando auxílio junto ao Barão de Nova Friburgo. O mesmo fez com relação ao Colégio Anchieta. Insistindo com os jesuítas para que abrissem em Nova Friburgo um colégio semelhante ao Colégio São Luís, de Itu, em São Paulo.

Paralelamente deu início a uma subscrição junto a elite friburguense para arrecadar fundos e auxiliar financeiramente na aquisição de um terreno e na construção do colégio. Madame Salusse, uma rica senhora descendente de colonos suíços chegou a oferecer um terreno de sua propriedade. Na ocasião, alguns amigos dos jesuítas manifestaram sua preferência para a instalação do Colégio Anchieta em Petrópolis por ser “mais adiantada”, mais confortável, mais próxima da corte e escolhida por D. Pedro II e pela nobreza para as suas férias de verão.

No entanto, Éboli juntamente com outros eclesiásticos conseguiram junto a Roma a autorização de abertura do colégio para Nova Friburgo. Porém, Carlos Éboli não chegou a presenciar o início do estabelecimento de ensino que tanto se empenhara. Faleceu um ano antes da fundação do Colégio Anchieta. Para a vinda de uma instituição de ensino privada necessitava-se da aprovação pessoal do imperador. D. Pedro II autorizou justificando ser muito oportuno e conveniente um colégio de padres próximo à corte.    

O papa colocou algumas condições: durante os dois primeiros anos não se compraria nenhum terreno e nem se construiria nenhum edifício. O prédio deveria ser alugado aguardando esse período para ver se o colégio teria satisfatória demanda de alunos. Os jesuítas optaram então por alugar a antiga sede da Fazenda do Morro Queimado, denominado pelos suíços de chateau.

A escolha foi feita possivelmente por ter abrigado por um curto período o colégio do alemão, barão de Tautepheus, famoso educador no Império, professor de Joaquim Nabuco que o cita no livro “Minha Formação”. Mesmo não estando em boas condições, abandonado há cinco anos, os jesuítas providenciaram uma reforma para receber os seus primeiros sete alunos internos.

O Colégio Anchieta foi inaugurado em 12 de abril de 1886. Houve uma solenidade com a presença de autoridades e dos pais e parentes dos alunos. Inicialmente era considerado uma sucursal do Colégio São Luís, de Itu. O Colégio Anchieta tinha tudo para dar certo. Nova Friburgo tinha uma tradição de bons colégios. Décadas antes, o inglês John Freese instalara no centro da vila um estabelecimento de ensino em que estudava a elite do país, conhecido por Colégio Freese.

Igualmente o clima das montanhas era considerado o ideal para a formação educacional conforme preconizavam os pedagogos da época. A inauguração, em 1873, do ramal ferroviário subindo a serra de Nova Friburgo e reduzindo o tempo de viagem do Rio de Janeiro para a vila serrana de quatro dias para aproximadamente quatro horas, pode ter colaborado para a vinda dos jesuítas.

Isso facilitava também a visita dos pais dos alunos internos. A excelência do ensino dos jesuítas na salubre vila da Nova Friburgo fez aumentar continuamente o número de internos no colégio. A velha sede da Fazenda do Morro Queimado já não comportava tanta demanda de alunos e fez-se necessário a construção de uma nova sede.

Continua na próxima semana.

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Os jesuítas optaram por alugar a antiga sede da Fazenda do Morro Queimado, denominado pelos suíços de chateau
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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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