A ética do fazer pedagógico - Parte 3

quarta-feira, 29 de junho de 2016

As escolas enfrentam problemas muito mais por uma razão ética. Não sabem o que fazer porque desconhecem os estatutos da criança e do adolescente, apenas falam mal do que não conhecem; os educadores não sabem o que exigir dos alunos por desconhecimento do projeto; muitos ainda confundem autoridade com autoritarismo e, os alunos fazem o que pensam porque, por sua vez, desconhecem as próprias obrigações.

O mesmo acontece com as famílias que se eximem de responsabilidades porque também desconhecem o que a legislação estabelece. Na Suíça, se um pai ou responsável não regulariza as faltas do filho numa escola pública, a lei federal manda suspender o salário do pai, através da empresa onde ele trabalha. O país investe e exige ação responsável de quem tem a guarda da criança. Esta questão concreta é tipicamente moral, tem regras e execuções. Nossa situação é uma tremenda falta de ética porque as pessoas não sabem o que deveriam saber e não se consegue exigir o conhecimento de todos.

Um cartunista desenhou a realidade da avaliação nas escolas brasileiras e sua análise serve bem para se definir a questão da moral e da ética. Poderia este “cartoon” ser objeto de debate nas escolas.

 O cartunista é tão inteligente que parte de uma premissa altamente ética: “para uma seleção justa”... esta é a preocupação do professor. No entanto, se olharmos do ângulo dos alunos, eles apresentam diferenças muito grandes e são tratados como seres de capacidades iguais e lineares.

Podemos definir esta questão de exame como perfeitamente ajustado a um sistema industrial e linear, compatível com o início do século 20 à época de Henry Ford. Este industrial permitia que todos escolhessem as cores dos carros Ford, contanto que fosse preta.

O resultado da competição entre a Ford e a Mercedes foi a venda de um carro Ford por US$ 800 e um Mercedes por US$ 8.000; não precisa perguntar quem vendeu mais carros. Ocorre que estamos num momento em que a diversidade é fato importante tanto no processo industrial, como na formação de mão de obra. Esta escola, assim apresentada pelo cartunista olhava os alunos com uma visão de mais de um século de atraso.

Vejamos: o elefante, o pinguim, o peixe e a foca certamente não completariam o primeiro mês de escola. Pediriam transferência. Com muito esforço e com nota mínima para aprovação o cachorro completaria a tarefa. O pássaro, pensando estar realizando uma grande poeza voa e chega ao topo. Mas é instado a descer porque o objetivo técnico expresso na questão era “escalar”. E certamente escola alguma dispensaria o macaco desta tarefa por não ter a humildade de reconhecê-lo como o melhor professor para escalar árvores.

Como ninguém consegue dizer que houve erro neste exame porque ele, certamente, atende às exigências regimentais, concluímos que se trata de atentado à ética. O fazer pedagógico não pode admitir tal atitude.

Continua na próxima semana.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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