Frescor Mental

segunda-feira, 05 de outubro de 2015

Outro empate, um ponto e uma certeza: o problema do Botafogo não é falta de Frescor Físico. Essa expressão, até então desconhecida pelo botafoguense, tornou-se familiar desde que Ricardo Gomes assumiu o comando da equipe. De fato, o professor teve alguma razão ao reclamar da sequência de jogos no mês de setembro, onde apesar da invencibilidade que proporcionou uma vantagem confortável na liderança, o futebol não convenceu. Digo “alguma razão” porque todos os outros adversários jogaram a mesma quantidade de vezes, e dentro das limitações de cada um, não sentiram tanto quanto Gomes afirmara ter acontecido com o Glorioso. Fato que, como gigante que é, o Botafogo é o time a ser batido. Precisa correr o dobro para compensar a motivação do rival, que sempre joga a vida contra o alvinegro. Mas convenhamos: dava pra ser melhor.

A avaliação deste que vos escreve sobre o trabalho do Ricardo Gomes é positiva. Mas com ressalvas. Não agrada a nenhum torcedor, acredito, a postura covarde adotada em algumas situações, principalmente quando o Botafogo joga longe do Rio de Janeiro (às vezes também em casa, como aconteceu diante do Macaé). Contra o Sampaio Correa, na última sexta, não foi diferente. Os maranhenses dominaram praticamente todo o jogo, exatamente porque o Bota permitiu. Deu a bola para o adversário, priorizou a marcação e abriu mão de jogar. Quando adiantou um pouquinho – minimamente mesmo – as linhas, abriu o placar com Neilton. Recuou novamente, e teve que levar o empate para voltar a agredir e ter posse de bola. Quando trabalhou uma jogada de forma descente, Navarro mandou o cruzamento preciso de Diego (grata surpresa no jogo de sexta) para as redes. E o que aconteceu a partir dali? O Botafogo novamente recuou, e sofreu uma pressão terrível até levar o empate, aos 50 minutos da segunda etapa. Cansaço não pode ser desculpa novamente. Cada vez mais concluo que Ricardo Gomes não confia nesse time. Quer pontuar, subir e ponto. Não tiro a razão dele.

O tempo do gol é o menos importante. Apenas serve para reforçar o alerta sobre a fragilidade do alvinegro. Era para o Sampaio ter empatado muito antes. Eis o Frescor da Sinceridade. Sorte que na meta alvinegra existe um monstro, de nome Jéfferson. A renovação de contrato do goleiro no início deste ano foi a melhor contratação do clube. E absolutamente fundamental para o nosso acesso, que está praticamente consolidado. O capitão é o nosso Frescor da qualidade, em meio a tantos jogadores medianos. Subiríamos, pois a camisa entorta varal e joga sozinha quando é preciso. Mas sem ele, acredito, o sufoco seria maior. 

Amigos alvinegros, confesso que precisei relaxar um pouco e tentar digerir mais uma atuação fraca para escrever esse texto. O tal Frescor Mental. E com a cabeça um pouco mais fria, consegui lembrar que os dois gols do Sampaio Correa foram irregulares. A atuação foi tão ruim que até desanima de reclamar, mas não podemos deixar passar. Quando o Flamengo sofre um tento ilegal, a imprensa repercute durante uma semana o lance. Eles entram com representação na CBF, ameaça isso ou aquilo. Mas quando é com o Botafogo nada acontece. Essa passividade histórica incomoda, irrita e prejudica. “Marcelos” de Lima Henrique, “Anas Paulas” e tantos outros ganham fama ao atrapalhar a nossa vida e não há nenhuma consequência. Um continua apitando, enquanto a outra ficou milionária ao posar para uma revista e sumiu. Mudam as personagens, mas o prejudicado é sempre o mesmo.

Frescor Mental também me faz lembrar do lado positivo dessa série B. Talvez o único, na verdade. É fácil demais criticar a torcida do Botafogo nos jogos no Rio de Janeiro (como comentei na coluna anterior), mesmo quando a maioria acontece terça-feira à noite. Difícil é observar, reconhecer e aplaudir o fato de que o Botafogo lota qualquer estádio longe de casa. Foi assim em Minas, no Espírito Santo e tem sido no Nordeste. Fantástica a presença dos alvinegros no Maranhão! Lotamos o nosso setor, e ainda marcamos significativa presença na área mista, atrás dos bancos de reserva. Muitas camisas do Glorioso se concentraram por ali. Mais de uma década depois, o torcedor de São Luís pode reafirmar sua paixão pelo Mais Tradicional.

Que esses exemplos sirvam como inspiração para a diretoria em 2016. Compramos a ideia da necessidade de poupar investimentos neste ano, e reconhecemos que na próxima temporada também não teremos Frescor Financeiro. Mas essa camisa e essa torcida pedem mais. A fidelidade é incrível! É preciso Frescor de Memória para não esquecer a nossa representatividade. Basta lembrar cada passo nessa série B, cada canto, cada um dos milhões de apaixonados que não mediram esforços para ajudar a reerguer o clube. O maior Frescor que pode existir é a nossa própria história.

Faltam oito pontos, galera! Estamos voltando pra casa. Saudações alvinegras, e até a próxima semana!

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