Impressões – 24/05/2015

domingo, 24 de maio de 2015

Viver (e não ter a vergonha de ser feliz)

Velho, idoso, coroa, gagá, experiente, terceira idade, antigo, superado, inútil, ancião, matusalém, caduco, gasto, senil, longevo, vetusto, octogenário, nonagenário, centenário. Tantos sinônimos afetivos ou depreciativos para designar o indivíduo com 60 anos ou mais. Mas existem outras, muitas definições para o envelhecimento. 

Como defini-lo? 

O envelhecimento humano seria o processo de mudança progressivo da estrutura biológica, psicológica e social dos indivíduos que, iniciando-se mesmo antes do nascimento, se desenvolve ao longo da vida.

Estamos (mal) acostumados a associar a velhice com aquela pessoa calma, quietinha, com óculos na ponta do nariz, balbuciando palavras desconexas, vendo o tempo passar. Ou aquele idoso sentado num banco da praça, olhando para o céu, sorrindo para os homens e falando sozinho.

São muitos os problemas da velhice, porém, são muitas as soluções para se ter um envelhecimento saudável, próximo de pessoas queridas, com assistência e afeto. Muitas vezes a situação de exclusão afasta as pessoas com mais idade de perseguir seus sonhos terminar o seu “mestrado” de envelhecimento e redesenhar sua trajetória de vida. Mas é sempre bom lembrar a frase: Saber envelhecer é a tarefa mais importante da sabedoria. E um dos capítulos mais difíceis da grande arte de viver!

Textos extraídos do Portal do Envelhecimento:

Um dedo de prosa sobre a morte

A notícia de que primos idosos octogenários optaram por morrer na clínica de suicídio assistido, na Suíça, correu o mundo, mas no Brasil foi dado pouco destaque. Nem as redes sociais fizeram muito alarde. Um era cego e outro surdo e viviam juntos há mais de 40 anos, um cuidando do outro. 

O tema suicídio é um tabu, mais ainda se acompanhado da palavra “assistido”, o que é totalmente proibido no Brasil, assim como em grande parte do mundo. 

Os primos Phyllis McConachie, 89 anos e surda, e Stuart Henderson, 86 anos e cego, eram os olhos e ouvidos um do outro há mais de 40 anos, tempo. Eles também escolheram morrer juntos pois não queriam viver em moradias distintas, separados. Recentemente eles cometeram suicídio de mãos dadas em uma clínica na Suíça. 

Essa notícia traz para a discussão da longevidade decisões que envolvem crenças e muitos tabus. Suicídio (tirar a própria vida), eutanásia (ajudar o outro a tirar a vida), ortotanásia (permitir que a pessoa tenha uma morte digna, natural) e distanásia (prolongar uma vida por meios artificiais) são temas pouco discutidos em nossa sociedade que deveriam estar mais estampados nas páginas dos jornais assim como nos debates, e com todos os públicos, afinal a morte envolve a todos. 

Lutar frente à adversidade

Dentro da família, não somos preparados nem tampouco educados para lidar e compreender a ausência, a morte em vida, e principalmente ser esquecidos. A compreensão que temos da instituição “família” é de uma organização de pessoas com laços não só sanguíneos, mas também por afinidades, que se sentem ligadas afetivamente ao outro. 

Tomamos emprestado o dito de William Shakespeare “Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração” para exemplificar o medo de ser esquecido por um ente querido com Doença de Alzheimer, como ilustra o diálogo a seguir:

Filha: “Bom dia, mãe!”

Mãe: “Quem é você? Eu sou sua mãe?”

Filha: “Sim (pausa), a senhora é minha mãe.”

Mãe: “Eu nem sabia que tinha filha.”

Filha: “Mãe, a senhora lembra quem eu sou? Lembra meu nome?”

Mãe: “Mas, quem você é mesmo?, Eu te conheço? Eu acho que te conheço.”

Diálogo muito comum na maioria das famílias que tem um idoso com Doença de Alzheimer. Esse diálogo também causa certo medo nos familiares responsáveis pelo cuidado direto com esse idoso. 

Envelhecer com saúde e amor

“Usuária mais velha do Facebook é inundada por pedidos de amizade” é o título de uma pequena notícia recentemente publicada pela BBC Brasil. A pequena nota assinala que a britânica, do País de Gales, Lillian Lowe, de 103 anos, tinha somente 12 contatos no site, mas desde que sua idade foi divulgada, ela passou a receber cerca de mil pedidos de ‘amizade’ de pessoas de todo o mundo e, segundo ela, contendo mensagens muito gentis e otimistas. Lillian foi durante muito tempo gerente de hotéis. Hoje, aposentada, ela disse à imprensa que não conseguia responder a todos os pedidos, mas que gostaria de agradecer a todos. E disse que alguém de sua idade precisa de ‘um cérebro ativo’ para usar o site social.

Violência contra os idosos

Um senhor, 60 anos, atravessava um cruzamento semaforizado, com faixas de pedestres. Estando já no meio da travessia, abriu-se o verde para o fluxo de tráfego que convergia à esquerda, em direção à faixa usada pelo idoso. Ignorando a presença do senhor, o motorista avançou em sua direção como se ele não existisse. Sentindo-se ameaçado e totalmente desrespeitado, o pedestre reclamou com o motorista. Este, desconhecendo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), respondeu: “Estou no verde”.

Para mestre Aurélio, ignorância significa: “estado de quem ignora”, “falta de ciência ou de saber” e “incompetência”.

As duas últimas parecem bem apropriadas para esta abordagem. É constrangedor, revoltante o modo com que os pedestres, um dos usuários mais vulneráveis do sistema de trânsito, são tratados pelos condutores de veículos motorizados, principalmente se for uma pessoa idosa.

Produtos inclusivos

Uma pesquisa inédita realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira ‘Meu Bolso Feliz’ com pessoas acima de 60 anos nas 27 capitais revela que o consumidor brasileiro da terceira idade tem aumentado o seu potencial de consumo e a disposição para gastar mais. De acordo com o levantamento, que foi realizado pessoalmente, os idosos têm mudado suas prioridades de consumo com o passar do tempo e hoje, 41% deles afirmam gastar mais com produtos que desejam do que com itens relacionados às necessidades básicas da casa. Embora representem um nicho promissor — já que a população idosa deve ultrapassar a marca de 30 milhões de indivíduos em 2025, segundo dados do IBGE — o mercado brasileiro parece não estar plenamente preparado para atender às demandas desses consumidores. 

Sexo – segredo para uma aposentadoria feliz

Impressiona constatar que ainda em nossos tempos a homossexualidade seja considerada tabu por muitas pessoas que se dizem “abertas” e que “orgulhosamente” afirmam aos quatro cantos “que toda forma de amor vale a pena” — lembrando a música de Caetano Veloso. É, chegamos à conclusão de que para “os outros” pode até ser, mas quando se trata de alguém próximo ou da família, a estranheza e o preconceito tomam lugar e viram protagonistas das histórias. Felizmente existem pessoas que ousam, rompem barreiras (algumas intransponíveis) e se libertam das amarras impostas pela sociedade e até pelo governo. 

Cidade para todas as idades

As cidades precisam se preparar para o crescente número de pessoas longevas, em especial no Brasil, que já não é “um país jovem”, conforme slogans da década de 1960. A preparação dos municípios para o expressivo aumento da população idosa leva em consideração que, em todo o país, enquanto o número de idosos duplicou nos últimos 20 anos, no mesmo período houve redução da quantidade de pessoas com menos de 25 anos. 

Além disso, nos últimos cinco anos, a taxa de fecundidade está abaixo do nível de reposição — uma tendência que revela a diminuição do número de pessoas que poderiam prestar cuidado aos mais velhos. Colocado esse desafio para as famílias, o cuidado adquire caráter coletivo para a construção de soluções e de políticas públicas específicas para a população idosa. 

Fábula

Velhice – divindade infernal, filha de Érebo e da Noite 
(Dicionário da Fábula – traduzido de Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)

Linha do Tempo

“Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.”
Carlos Drummond de Andrade

“O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão.”
Gabriel García Márquez

“A velhice é um estado de repouso e de liberdade no que respeita aos sentidos. Quando a violência das paixões se relaxa e o seu ardor arrefece, ficamos libertos de uma multidão de furiosos tiranos.”
Platão

“Quarenta anos é velhice para a juventude, e cinquenta anos é juventude para a velhice.”
Victor Hugo

Cidade para todas as idades

As cidades precisam se preparar para o crescente número de pessoas longevas, em especial no Brasil, que já não é “um país jovem”, conforme slogans da década de 1960. A preparação dos municípios para o expressivo aumento da população idosa leva em consideração que, em todo o país, enquanto o número de idosos duplicou nos últimos 20 anos, no mesmo período houve redução da quantidade de pessoas com menos de 25 anos. 

Além disso, nos últimos cinco anos, a taxa de fecundidade está abaixo do nível de reposição — uma tendência que revela a diminuição do número de pessoas que poderiam prestar cuidado aos mais velhos. Colocado esse desafio para as famílias, o cuidado adquire caráter coletivo para a construção de soluções e de políticas públicas específicas para a população idosa.

  • Foto da galeria

  • Foto da galeria

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.