Eles querem comida, diversão, arte e interação. Desde 2012 um grupo apaixonado pela literatura e por fazer novas amizades tem se reunido em mesas de cafeterias. O encontro é um pouco diferente desses cafés que marcamos com amigos no fim de tarde. Na verdade, o bate-papo deles é regado a café, sim, mas é um ‘Café Literário’.
Criada pela professora e pedagoga Márcia Lobosco, a iniciativa tem como objetivo levar cultura, gerar discussões produtivas sobre os temas abordados, além de aguçar a curiosidade e reflexão, tudo através da interação proporcionada pela literatura. Para que isso aconteça de forma dinâmica e atrativa, a cada encontro há um assunto diferente. E quem pensa que no meio da folia não há espaço para literatura está redondamente enganado. O ‘Café Literário’ deste sábado, 25, será regido pelo Carnaval.
“Nossos encontros sempre acontecem no último sábado do mês e, desde dezembro de 2015, nos encontramos direto, sem interrupções. Faça sol ou chuva, seja feriado ou não. Mas quando vi que o encontro cairia no meio do Carnaval esse ano, até sugeri que mantivéssemos a data mas, sinceramente, não acreditava que o pessoal ia aderir a ideia. Fiquei muito surpresa e feliz com o interesse do grupo”, conta Márcia.
Para entrar de vez no clima da folia, o encontro irá abordar texto de Clarice Lispector e samba-enredo de Martinho da Vila. “Já tinha definido que usaríamos o samba-enredo ‘Pra tudo se acabar na quarta-feira’, de Martinho da Vila, porque é uma canção que fala de toda a trajetória tradicional da folia de carnaval. A letra é linda. Mas ainda faltava o texto, aí que fiz uma pesquisa na internet e achei a obra ‘Retiro de Carnaval’, de Clarice Lispector, que se encaixou perfeitamente”, afirma Márcia.
O ‘Café Literário’ especial de Carnaval é aberto ao público e acontece a partir das 16h30, na Padaria Sans Souci, Rua Sara Braune, Braunes. “Nosso encontro é à tarde e acontece próximo ao Centro, então, quem quiser participar pode interagir com a gente e depois ir direto pra folia”, convida a idealizadora do projeto.
Como tudo começou
Foi numa roda de leitura em 2011 que Márcia começou a cogitar a possibilidade de criar um evento para que as pessoas se encontrassem rotineiramente para falar sobre literatura. Mas ainda não era o momento. Em 2012, porém, durante uma oficina de escrita no Festival de Inverno do Sesc, Márcia foi tomada novamente pelo desejo de fazer mais do que participar de movimentos literários esporádicos. A partir disso, em setembro do mesmo ano, surge o ‘Café Literário’.
“Comecei a enviar convite para o banco de e-mails que eu tinha, mas confesso que fiquei insegura com a receptividade. Quando cheguei ao café tinha umas 10 pessoas me aguardando. A partir disso fomos criando uma rede”, explica ela.
Para quem gosta de música, o ‘Café Literário’ também pode ser uma boa atração. “Nem sempre trabalhávamos com música nos encontros, mas foi só eu levar uma vez para todo mundo adorar. Geralmente eu penso no texto primeiro, quando leio alguma coisa e me chama a atenção eu separo para o Café. A partir do texto, penso na música. O legal é que, às vezes, a música acaba preenchendo esse espaço. Já levei músicas mais moderninhas, como Zeca Baleiro, mas aí também levo MPB, Chico Buarque e Gilberto Gil”.
Além de ler recortes de livros, o encontro também é uma boa oportunidade para discutir os temas, refletir e produzir os próprios textos. “Depois de discutirmos o tema, escrevemos textos livres, podem ser crônicas, narrativas. No final, quem quiser, pode ler o que produziu. E tem saído textos muito bons, tem gente que se inspira tanto que até escreve poesias. Essa interação entre as pessoas é importantíssima. Mesmo quem gosta e lê bastante, nem sempre conhece ou já leu determinado autor. Essa troca é bem legal, amplia os horizontes. Aqui não tem certo ou errado, é o ambiente para expressar pensamentos”.
O projeto, que completa cinco anos em 2017, tem atraído um número cada vez maior de escritores friburguenses. Dentre eles estão: Ania Kítylla, Rachel Ventura, David Massena, Ana Beatriz Manier, Conrado MPL, Thales Amaral, Isabella Sarruf, Carlos e Flavia (Planos e Fugas). Sem contar com os integrantes da Academia Friburguense de Letras, Alberto Wermerlinger, Ordilei Alves e a atual presidente, Tereza Malcher.
Mas não são só os escritores e acadêmicos a frequentar o encontro não. “O público do Café é super variado. Temos pessoas de várias idades, aposentados que gostam de ler e estão lá, professores da área e até jovens estudantes. Nem todos são ligados diretamente a Literatura também. Tenho um ex-aluno, por exemplo, que faz física e participa com a gente”, conta Márcia.
Um 2017 cheio de novidades
Ganhando cada vez mais participantes, em 2017, o projeto deve contar com novidades. Pelo menos, é o que garante Márcia Lobosco: “Estou pensando em ter outro dia de encontro no mês. Atualmente, contamos com a participação de cerca de 20 pessoas por encontro, mas acredito que daqui a algum tempo, teremos que fazer mais um Café por mês. Até porque, não queremos perder essa interação entre os participantes. A partir do dia 11 de março, o Café Literário também vai começar a acontecer no Rio de Janeiro. Foi um desafio da artista Lina Ponce que resolvi aceitar. O encontro vai acontecer também durante a tarde, no Coletivo de Arte na antiga Fábrica da Bhering”.
Além de lecionar no Educandário Miosótis e no Colégio Estadual Ramiro Braga, em Bom Jardim, Márcia tem mestrado em Relações Étnico-Raciais e participa de uma série de movimentos literários na região. Dentre eles, o Conectivos, curadoria de conhecimento que realizou diversas atividades em 2016 - como 1ª Festa Literária de Nova Friburgo, Flinf; o projeto Encontro entre Escritores, que acontece na AFL; o Quartas Literárias, projeto que leva todo mês um escritor ao Educandário Miosótis e é aberto ao público e a Festa Literária de Santa Maria Madalena.
Para conhecer mais sobre o ‘Café Literário’ basta acessar o grupo do “Projeto - A gente quer comida, diversão e arte” no Facebook ou a página oficial “Márcia Lobosco”, onde também são compartilhados os eventos literários que acontecem na região.
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