Treinador Anderson França comemora o sucesso dos seus discípulos no MMA

terça-feira, 13 de agosto de 2013
por Vinicius Gastin
Treinador Anderson França comemora o sucesso dos seus discípulos no MMA
Treinador Anderson França comemora o sucesso dos seus discípulos no MMA

Em breve o maior evento de artes marciais do planeta deverá contar com dois atletas de Nova Friburgo. Edson Barboza Junior já brilha no Ultimate Fighting (UFC) e o amigo de infância e companheiro de treinos Marlon Moraes deverá seguir pelo mesmo caminho. O peso galo (até 60 kg) venceu Brandon Hempleman na noite do último sábado, 11, pelo WSOF 4, e terá mais um confronto antes de definir o futuro no MMA. Edson e Marlon possuem outro ponto em comum além da cidade natal e do sucesso no mundo das lutas: o treinador. 

Anderson França de Carvalho, 40 anos, começou a lutar aos 7 anos. Desde a primeira arte marcial praticada, o taekwondo, o interesse pela luta apenas cresceu e se consolidou através do kickboxing. Mas foi no muay thai que Anderson começou a trilhar o caminho do sucesso. "Foi a modalidade com a qual me identifiquei mais, me apaixonei de fato”, diz. Movido pela paixão, o lutador passou a dedicar boa parte do tempo aos treinos e desenvolveu o talento que o levou ao tetracampeonato estadual e tricampeonato brasileiro de muay thai. Entre a modalidade e o kickboxing foram 29 lutas e 29 vitórias. No entanto, o futuro reservou algo ainda mais especial que os combates dentro dos ringues.

Em 1996 Anderson ganhou a primeira oportunidade para dar aula na Academia Brasil Fight Center. Credenciado pelo título de melhor atleta do país, o lutador pôde repassar aos alunos todo o conhecimento durante quatro anos. A essa altura, em meados de 2000, a faculdade de engenharia deixou de ser prioridade. "Chamei os meus pais e conversei com eles. Eu estava há um ano sem treinar, pois os horários da faculdade não permitiam. Disse que eu me formaria engenheiro, mas não seria feliz na minha vida. Eu queria ser professor e ensinar o que eu aprendi com a luta”, conta.

Os pais de Anderson França entenderam o recado e abraçaram a causa. Pouco tempo depois, o lutador ganhou uma academia de presente e realizou as primeiras aulas de muay thai para um número reduzido de alunos. Marlon Moraes e Edson Barboza já treinavam na Fight Co e despontavam como destaques no cenário das artes marciais. Treze anos depois, Anderson comemora o sucesso dos lutadores e do empreendimento, que engloba centenas de lutadores por toda a cidade. Anderson colhe os frutos do trabalho e desde o início do ano também treina o lutador americano Frankie Edgar.

Em entrevista para A VOZ DA SERRA, o professor conta um pouco da sua trajetória, mostra certa preocupação com o futuro dos eventos de luta no país e confiança ao falar dos dois alunos mais bem-sucedidos: "Eu vou ver o Marlon e o Edson no topo, com o cinturão do UFC nas mãos”.

AVS: Desde os 7 anos você pratica artes marciais e obteve sucesso na carreira de lutador. O que levou o tetracampeão brasileiro de muay thai a abandonar as competições e se dedicar às aulas?

ANDERSON FRANÇA: Eu sempre tive o sonho de formar verdadeiros campeões. Já tinha parado de competir em 2000, quando fui campeão brasileiro, e comecei o trabalho na minha própria academia. Passei a me dedicar à carreira de treinador para ter a chance de criar grandes atletas. Graças a Deus estamos conseguindo.

AVS: Os dois principais lutadores revelados nesses anos de trabalho são Edson Barboza e Marlon Moraes. Quando eles começaram a treinar com você?

ANDERSON: "Na verdade eles começaram a treinar comigo na Brasil Fight Center, em Conselheiro. O Edson, por exemplo, eu conheci em um projeto social na escola de samba Imperatriz de Olaria. Quando vim para o Centro eles já estavam comigo há uns quatro ou cinco anos. Tê-los como alunos foi apenas uma consequência do trabalho anterior.

AVS: Como é a relação entre vocês três?

ANDERSON: Nós somos como uma família. Eu tenho o Júnior e o Marlon como se fossem meus filhos. Nunca tivemos nenhum problema, não existe nenhum tipo de vaidade entre nós, pelo contrário. A união é muito grande, e um ajuda o outro. O sucesso de um faz a felicidade dos três.

AVS: Quando identificaram a necessidade de ir além do muay thai e buscar o sucesso no mundo do MMA?

ANDERSON: É algo bem interessante. O nosso sonho era disputar o evento K1, o maior de muay thai que existe no mundo. Nós fizemos tudo o que possam imaginar pelo Júnior. Ele foi eleito o melhor atleta do Brasil, venceu o Marfio Canoletti, que era o mais forte do país e nos representava no K1. Não tínhamos mais o que fazer no Brasil. O Edson veio conversar comigo, junto com o empresário dele, o Alex Davis, porque surgiu a oportunidade de ir para os EUA e tentar construir uma carreira no MMA. Confesso que fiquei com um pé atrás, preocupado por não saber o que poderia acontecer. Mas concordei e disse que era a hora de abrir as asas e alçar voos maiores. Tudo isso foi muito bom para o Júnior e o fez crescer ainda mais.

AVS: Não teria uma maneira de treinar no Brasil, mais perto da família e amigos? 

ANDERSON: O Júnior e o Marlon saíram do Brasil por falta de apoio. O nosso país é maravilhoso, a luta está crescendo bastante, mas fico preocupado. O UFC tem mais três edições previstas por contrato, mas não sei se teremos outros. O pessoal não está gostando muito de organizar eventos no Brasil por conta dos impostos altos. A qualidade do evento aqui está um pouco defasada por conta dos custos. Às vezes pedem 30% da bolsa dos atletas para os impostos.

AVS: Até que ponto a carreira vitoriosa do Edson Barboza ajuda no desenvolvimento da luta na cidade e até mesmo no país?

ANDERSON: O Júnior foi o atleta que abriu as portas de Nova Friburgo para o MMA. Depois ele levou o Marlon Moraes para os EUA. Ambos são atletas especiais, muito disciplinados, dedicados e fáceis de trabalhar. Eles treinam demais e só quem acompanha sabe o quanto trabalham para conseguir esses resultados. As coisas acontecem por conta do esforço deles, e esse é o maior exemplo e legado para os jovens. O sucesso dos brasileiros ajudou bastante no desenvolvimento da luta, que cresceu de tal maneira que eu não esperava. Hoje o MMA é o esporte do futuro e as pessoas estão procurando as artes marciais. Mas é muito importante, no caso das crianças, que os pais estejam sempre acompanhando os filhos e saibam onde estão treinando, em qual academia e quem é o professor, se é formado ou não...

AVS: Como assim? Existem pessoas sem a devida formação envolvidas com a luta?

ANDERSON: Sim, e por isso que esse acompanhamento é importante. Há quanto tempo o professor pratica artes marciais? Ele realmente é formado e capacitado pra dar aula? Tudo isso é muito fácil de saber, basta acessar a internet. Às vezes os pais relaxam, mas não pode. Nos dias de hoje a questão das drogas, da bebida, está complicada. E o professor deve dar o exemplo, algo que nem sempre acontece. Quando escolhemos ser profissionais nessa área temos que abrir mão de várias coisas, pois somos um espelho para as crianças. O Júnior e o Marlon são exemplos de lutadores e de seres humanos. Eu tenho o sonho de ver os meus dois maiores atletas no topo, e tenho certeza de que isso vai acontecer em breve. Esse é o meu objetivo, vê-los com aquele cinturão do UFC em mãos.

AVS: Você e o Edson Barboza mantêm um projeto social na cidade. Como funciona?

ANDERSON: Abrir um projeto social com o nosso nome sempre foi um sonho. Criamos essa iniciativa para as crianças carentes, que estudam em escola pública, entre 7 e 15 anos de idade. As aulas acontecem às terças e quintas-feiras, das 9h às 14h. O intuito é tirar as crianças das ruas e isso é possível com a ajuda dos nossos patrocinadores — Rei da Empada, A Fermoplast, Ketchup Suíte e o Center Fruit, que fornece toda a alimentação para os alunos. Temos 60 crianças treinando, mas queremos chegar a 120.

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TAGS: Anderson França | entrevista | muay thai | artes marciais | Edson Barboza | marlon moraes
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