Suspiro: de refúgio de namorados a complexo turístico-cultural

Considerada a mais bonita da cidade no passado, Praça do Suspiro passou por transformações ao longo dos anos e hoje acumula críticas
quarta-feira, 21 de março de 2018
por Dayane Emrich (dayane@avozdaserra.com.br)

“Hoje eu acordei com saudades de você. Beijei aquela foto que você me ofertou, sentei naquele banco da pracinha só porque foi lá que começou o nosso amor”. O trecho faz parte da música “A Praça”, de 1967, do cantor Ronnie Von e retrata o cotidiano das praças há alguns anos. Com muitos canteiros floridos, enormes palmeiras, um bambuzal, um lago e graciosas pontes, em Nova Friburgo a famosa Praça do Suspiro era paisagem ideal para os namorados, que trocavam juras de amor em um jardim exuberante.

O aposentado Antônio de Pádua, de 70 anos, que mora no Córrego Dantas, relembra como era o espaço há algumas décadas. “Me casei nessa igreja (a capela de Santo Antônio), há 44 anos. A praça era muito mais bonita. Havia muitas flores, o jardim era fantástico. Tinha também uma ponte e um laguinho. Tudo muito belo”, disse saudoso.

Mas, se no passado o local era refúgio para corações apaixonados e para quem mais quisesse desfrutar de um espaço agradável na cidade, hoje, a Praça do Suspiro cedeu seus jardins a espaços de cimento, as flores ao estacionamento e a calmaria ao barulho dos carros e o corre-corre das pessoas. Situada no centro de Nova Friburgo, a Praça do Suspiro possui ao seu redor o prédio do Tiro de Guerra, a capela Santo Antônio, o Teatro Municipal Laercio Ventura, a Praça das Colônias e diversos restaurantes. Nela está situado também um dos pontos turísticos mais importantes da cidade: o teleférico.

A localização privilegiada e o espaço amplo, no entanto, não fazem da Praça do Suspiro um dos locais preferidos do friburguense. Na verdade, quem passa por ela revela mais críticas do que elogios. É o caso da professora Denise Riso, de 60 anos, que pelo menos uma vez por semana se reúne com os colegas de curso no local. “Eu gosto dessa praça, acho bonita. Mas, acredito que o espaço podia ser melhor aproveitado, com mais bancos, brinquedos para as crianças, jardins mais floridos”, disse ela.

Para o advogado José de Augusto Oliveira Silva, de 61 anos, algumas melhorias iriam contribuir para o crescimento do turismo na cidade. “O espaço precisa de reparos. É uma praça bonita, mas que necessita de capina e limpeza de forma geral. A falta de policiamento é outro problema. As pessoas se sentem inseguras aqui, principalmente à noite”, disse ele, acrescentando que: “minha sugestão é que a prefeitura coloque mais bancos para proporcionar maior conforto aos visitantes, faça uma repaginação dos jardins e, quem sabe, coloque uns quiosques, algo que funcione como uma praça de alimentação. Seria bem legal”, opinou.

Moradora da vizinha Sumidouro, Carina Alves, de 36 anos, acredita que a falta de segurança é o maior problema. “A gente que não mora aqui e é obrigado a pegar ônibus neste ponto próximo à praça se sente inseguro. A iluminação é precária e quase não se vê policiamento”, disse ela.

Questionada sobre o que esperar do bicentenário da cidade, a aposentada dona Maria de Lourdes, de 73 anos, foi além e questionou: “As vésperas dos 200 anos, o que o prefeito tem à nos apresentar? Eu não passo aqui a noite, tenho medo. O mato está uma vergonha. Nova Friburgo tem tudo para ser uma cidade turística de grande sucesso, a exemplo de Gramado”, pontuou.

Por outro lado, apesar das críticas, a praça é um importante espaço de lazer para os friburguenses. Além de reunir jovens em rodas de conversa (e ainda alguns casaizinhos apaixonados), nela, crianças e adultos andam de bicicleta, grupos jogam capoeira e acontece a feira de artigos variados  aos finais de semana. O espaço é palco também de eventos culturais como festivais de cervejas, de food truck, shows, entre outros

A VOZ DA SERRA entrou em contado com a prefeitura para saber se há um projeto de revitalização do local. Em nota, o governo informou que: “a capina é feita com regularidade no local e sempre que se faz necessário o espaço passa por manutenção”. A prefeitura informou ainda que poderá ser feito um estudo pelo município para acrescentar a instalação de bancos no projeto de revitalização da praça. Já sobre a iluminação, a prefeitura informou que em breve serão feitos reparos.

A redação tentou contato também com o 11ºBPM para saber se há previsão de mais patrulhamento na praça e, em nota, o comandante do batalhão, tenente-coronel Eduardo Vaz Castelano explicou que: “Não há registros de crimes graves e nem frequência de crimes com incidência na Praça do Suspiro”. Segundo ele, duas viaturas do setor Centro fazem o policiamento no local, passando pela Praça do Suspiro diversas vezes ao dia. Além disso, agentes do ciclopatrulhamento e da motopatrulha também fazem rondas no espaço.

Da fundação à reconstrução após a tragédia

De acordo com a historiadora Janaína Botelho, a Praça do Suspiro foi fundada no século 19, época em que as famílias de Nova Friburgo abasteciam suas residências nas fontes espalhadas em diversos pontos da vila. A Fonte do Suspiro era a principal delas e por isso, com o passar do tempo, deu origem a praça em seu entorno. No final daquele século o espaço foi urbanizado com um projeto do engenheiro Farinha Filho, segundo Janaína.

Ele foi encarregado pelo prefeito Ernesto Brasílio, que governou a cidade de 1897 até 1908, de transformar aquele local ermo cercado por muitos bambuzais, numa praça para o lazer dos friburguenses e veranistas. De reconhecido bom gosto, Farinha Filho idealizou os lagos com pontes feitas de cimento, que imitavam bambus, plantou flores em seus canteiros e instalou bancos em suas alamedas. Surgia a Praça do Suspiro que inspirou poetas e deixou saudades em gerações e gerações de friburguenses.

Ainda segundo Janaína, na década de 50, o prefeito Feliciano Costa fez uma reforma geral na praça e retirou os canteiros, o lago e as bucólicas pontes. Mas, uma das principais mudanças aconteceu em 1976, ocasião em que houve a instalação do teleférico.

A Praça do Suspiro e todo o seu entorno foi umas das áreas mais atingidas pela tragédia de janeiro de 2011 e, por conta disso, para a sua reconstrução, passou por outras mudanças. Entre elas: novo piso e gramado. A capela de Santo Antonio foi reinaugurada em junho de 2013; e a Fonte do Suspiro e a Praça dos Trovadores, em dezembro de 2014. Apesar de ter sido reaberto ao público em 2014, o teleférico só foi liberado para subir até o Morro da Cruz em dezembro do ano passado.

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TAGS: praças | 200 anos
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