Soma de abstenções, brancos e nulos é superior à votação de Renato Bravo

Mais de 48 mil eleitores se recusaram a escolher um candidato em Nova Friburgo
terça-feira, 04 de outubro de 2016
por Alerrandre Barros

O placar final da eleição municipal revelou um crescimento no número de votos em branco e nulos e de abstenções em Nova Friburgo, um sinal da insatisfação popular com a classe política. A quantidade de eleitores que se recusaram a escolher um candidato a prefeito e a vice-prefeito e a vereador chegou a 48.171 eleitores — número maior do que o alcançado por Renato Bravo (PP), eleito chefe do executivo com 29.046 votos. 

Ao todo, 151.045 eleitores friburguenses estavam aptos a votar nas eleições municipais deste ano, mas 117.940 efetivamente foram às urnas, no último domingo, 2, no município. Assim, segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), 34,7% dos eleitores não participaram da decisão nestas eleições municipais: foram registrados 21,92% de abstenções, 3,59% de votos brancos e 9,19% de votos nulos.

O número de eleitores que anularam o voto ou abdicaram de indicar um nome para governar vem crescendo vertiginosamente nos últimos anos. Nas eleições municipais de 2012, dos 120.398 votos apurados, 3,25% votaram em branco e 8,13% optaram por anular o voto. O contingente de pessoas que nem mesmo compareceu às seções eleitorais, na ocasião, foi de 18,16%. Há quatro anos, portanto, 40.418 eleitores não votaram em ninguém, enquanto o atual prefeito Rogério Cabral (DEM) foi eleito com 37.962 dos votos válidos. 

A desatualização nos dados de eleitores no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode ter inflado a quantidade de abstenções nestas eleições, pois parte do expressivo número de ausentes é composta por eleitores que morreram ou mudaram de cidade sem avisar à Justiça Eleitoral. Ainda assim, as abstenções, votos brancos e nulos são mais altos do que em qualquer pleito municipal anterior. 

Na avaliação do colunista de política de A VOZ DA SERRA, Márcio Madeira, isso se deve ao desencanto da população com a política. “Esta eleição ficou marcada pela rejeição a alguns candidatos, como aconteceu com o atual prefeito Rogério Cabral, que ficou em quarto lugar, em Friburgo. As pesquisas eleitorais já sinalizavam que seria assim, tanto que ao longo da campanha essa rejeição foi explorada com o objetivo de direcionar o voto útil. A ausência de eleitores no pleito pode ser entendida como uma forma de protesto contra o atual sistema político-eleitoral”, avalia o jornalista.

De acordo com o analista político, José Modesto Arouca, da TV Zoom — que junto com o jornal e a Rádio Nova Friburgo AM cobriu as eleições em parceria, formando a Rede da Democracia — as abstenções e os votos brancos e nulos vêm aumentando desde 2008 e, a partir dos protestos de junho de 2013, houve um aumento da cobrança e da desconfiança da população em relação aos seus representantes. 

Para ele, os votos inválidos e o número de ausentes devem ser interpretados como mais um aviso dos eleitores para os políticos em geral. “A série de escândalos de corrupção, que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, e as desconfianças em relação ao governo de seu sucessor, Michel Temer, aumentaram o atrito entre representantes e representados. A população cobra, portanto, uma mudança de postura da classe política, mas os eleitores também precisam compreender que só por meio da política é que se faz democracia. A população precisa participar mais das decisões que envolvem a cidade”, disse Modesto. 

A Justiça Eleitoral informa que apesar de o voto nulo ser considerado uma forma de protesto, ele não anula eleição, como muitos eleitores costumam pensar. Na verdade, tanto os votos nulos quanto os votos brancos não são levados em conta na apuração que dá o resultado da eleição. 

Por isso, mesmo que haja mais de 50% de votos nulos, o pleito não será anulado, uma vez que os votos considerados válidos serão somente os recebidos pelos candidatos e os chamados votos de legenda. Uma eleição só pode ser anulada se ocorrerem fraudes em mais da metade dos votos ou ainda quando o candidato eleito tiver o registro de candidatura cassado. 

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TAGS: Eleições 2016
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