Solar da Arte promove encontro com Marina Colasanti neste sábado

Autora vai conversar com o público sobre sua escrita
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Alessandra Colasanti)
(Foto: Alessandra Colasanti)
Uma das escritoras brasileiras mais premiadas no Brasil, autora de mais de 70 títulos publicados no país e no exterior, com obras para adultos, crianças e adolescentes, Marina Colasanti coleciona importantes prêmios ao longo de uma trajetória de mais de 50 anos dedicados à literatura. 

“A palavra é instrumento de alta precisão, pois tem que expressar o que queremos dizer e, ao mesmo tempo, permitir ao leitor “ler” o conteúdo mudo que está por trás dela.”

Marina Colasanti

Entre os prêmios destacam-se alguns Jabutis da Câmara Brasileira do Livro, como: Entre a Espada e a Rosa (1993); Rota de Colisão e Ana Z, Aonde Vai Você? (1994); Eu Sei Mas Não Devia (1997); Passageira Em Trânsito (2010); Antes de Virar Gigante (2011); Breve História de Um Pequeno Amor (2014), além do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2011, por Minha Guerra Alheia, 3º lugar. 

Este ano, mais uma vez seu nome está indicado para o Prêmio Hans Christian Andersen 2020, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil, juntamente com a ilustradora Ciça Fittipaldi. 

Filha de italianos, nascida em Asmara (então Abissínia, atual Eritreia), Marina morou em Trípoli (Líbia), passou a infância na Itália (durante a 2ª Guerra Mundial), emigrou para o Brasil aos 10 anos, voltou à Itália, morou na França, até finalmente encontrar seu pouso definitivo no Rio de Janeiro. Conheceu Friburgo aos 15 anos, e desde a década de 1970 mantém casa em Mury. Confira a entrevista:

A VOZ DA SERRA: Como foi escrever para o público infantil (Uma Idéia toda Azul, de 1979, premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) dez anos após sua estreia na literatura para adultos? O que a levou para esse novo público?

Marina Colasanti:  O que me levou foi o acaso. Nos anos 70 o Jornal do Brasil tinha um suplemento infantil, o Caderno I. Quando Ana Arruda (hoje Calado), sua editora, foi presa por atividades contra a ditadura, o Editor Chefe me pediu para substituí-la. Eu não quis alterar nada no esquema dela para que, na volta, encontrasse a casa como a havia deixado. Não era fácil, e um dia tive um espaço vago e matéria nenhuma para preenchê-lo. A ideia que me ocorreu foi escrever um conto bem conhecido de todos, trocando as partes, e pedir às crianças para reorganizá-lo. A ilustração eu mesma faria. Escolhi “A bela adormecida”. Mas quando terminei de escrever, o conto que havia produzido era outro, que chamei “Sete anos e mais sete”. Eu havia entrado na caverna de Ali Babá e nunca mais quis sair.

Em algumas entrevistas você falou de sua infância na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial. O quanto dessa experiência a inspirou em escrever para crianças? 

A guerra, os homens partindo para a guerra, aparecem em vários dos meus contos e em muitos dos meus minicontos. A guerra é uma experiência que não se esquece. E toda experiência alimenta o que a gente escreve.

Você continua acreditando que “criança é criança, porque não fosse assim, as crianças brasileiras das favelas não poderiam ser crianças e as crianças sírias também não”? Tem algo a acrescentar? 

A violência não é um fenômeno recente, e as crianças sempre foram suas primeiras vítimas. Recentes são os direitos das crianças.  

 Há na sua obra um cuidado com a “arte da palavra”, como você gosta de citar, “já que não lhe basta tão somente contar uma história”. Como é essa sua relação com a palavra? 

Como a de todo escritor. A palavra é instrumento de alta precisão, pois tem que expressar o que queremos dizer e, ao mesmo tempo, permitir ao leitor “ler” o conteúdo mudo que está por trás dela.

Você tem religião, professa alguma fé, alguma ‘relação’ com divindades? 

Minha relação com o divino se faz através dos animais, através da natureza. No livro de poesia “Mais longa vida”, que deve sair em breve, tenho um poema que diz assim: 

“Agradeço cada poema / cada prato posto à mesa / cada ponto de costura ou / vírgula de escrita, / agradeço / cada gesto que me traz sorriso / e que se expande / por tudo dou graças, / sem saber a quem”.

Você já revelou que ao entrar nos 80 anos, o tempo urge “porque podemos morrer a qualquer momento”. Não parar de cuidar do seu cotidiano doméstico, de escrever, conversar com seus leitores é um jeito de e manter ativa, otimista? 

Nunca fui otimista. Olho o mundo e reflito sobre o que vejo, não mais do que isso. Sempre foi assim, não haveria por que ser diferente logo agora. Nem faço muita questão de me manter viva. O que faço questão, é de me manter em ação enquanto viva estiver.

Você já se definiu como um ponto de interrogação. Esse ponto aumentou, diminuiu, como ele está hoje? 

Continuo sendo um ponto de interrogação. Quem sou, cabe aos outros dizer - quando nos avaliamos somos demasiado benevolentes. Além disso, não sei quando vou morrer, não sei se o que escrevi será esquecido ou crescerá depois da minha morte, não sei como prosseguirá minha descendência. Ou seja, não sei coisa alguma do que mais interessa. 

Como se sente, pessoal e profissionalmente, neste momento?  

Não creio que meu momento pessoal seja do interesse público, sou pessoa anterior às redes sociais quando o privado era privado. Meu momento profissional está ótimo. Vim lançar dois livros, um de poesia para crianças e outro de contos para jovens. Um livro de poesia deve sair a qualquer momento pela Record. E tenho um livro em mãos de editor, biografia da minha tia-avó Gabriella Besanzoni Lage, dona do Parque Lage, onde morei durante muitos anos. Para o resto do ano já tenho agenda cheia. E em breve começarei a trabalhar em livro novo.

Como é sua relação com Friburgo, o que mais a atrai aqui?

Minha relação com Friburgo vem de um tempo remoto, quando havia chalés com pingadeiras em lugar de shoppings, quando havia trem atravessando a praça, e quando a estrada da subida da serra ainda era de terra. Eu tinha uns quinze anos quando fui apresentada à cidade pela família Etz (Miriam e Hans), e estou aqui até hoje. Passei minha lua de mel no Park Hotel, mais adiante comprei uma casa em Mury. Sou friburguense!

 

SERVIÇO:

Neste sábado, 29, a partir das 18h30, Marina Colasanti estará no espaço Solar da Arte para lançar os livros Classificados Nem Tanto e A Cidade dos Cinco Ciprestes, e conversar com os leitores sobre seu universo de escrita, em mais um encontro com os friburguenses, como já ocorreu em edições da Festa Literária de Nova Friburgo - Flinf. 

O evento é organizado pela diretora do espaço, professora Jane Ayrão. “Sem dúvida vamos vivenciar momentos de cultura, arte e beleza, com a presença da Marina, graças a Eliana Yunes e à equipe Saberes em Diálogo. O lançamento dos livros da Marina marcará a história de um Solar que ainda dá seus primeiros passos, mas já fazendo parte da vida cultural do friburguense”, comentou Jane. Inscrições pelo telefone (22) 2010 9771 ou no local, Rua Dom João VI, 46, Cônego. Vagas limitadas. Investimento: R$ 50. 

 

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