São Geraldo à espera de milagres

Moradores pedem melhorias nos serviços de saúde e de transporte público, além de mais atenção a áreas de risco
quinta-feira, 26 de junho de 2014
por Felipe Basilio
 São Geraldo à espera de milagres (Fotos: Henrique Pinheiro)
São Geraldo à espera de milagres (Fotos: Henrique Pinheiro)

Nove quilômetros e quinze minutos de viagem separam o centro de Nova Friburgo do bairro São Geraldo. O local, que possui o nome de três santos diferentes (São Geraldo de Braga, São Geraldo Magela e São Geraldo de Potenza), vem tendo um crescimento acelerado, com as construções de casas padronizadas vendidas por meio de financiamento na parte alta do bairro. São dezenas de casas e novas famílias se mudando, em busca de uma nova realidade. O chamado "Vale da Montanha” possui uma das mais belas imagens de Nova Friburgo, com vista para o Caledônia, Duas Pedras e, ao fundo, os bairros Braunes e Cordoeira. O crescimento das construções gera um grande aumento no número de moradores, mas as demandas e os problemas acompanham essas mudanças gradativas. A principal rua de acesso à localidade já sofre com buracos e paralelepípedos soltos. O piso, que fica escorregadio com a mínima garoa, também dificulta a vida dos motoristas. Encontramos uma caixa-d’água destampada e que estava com um vazamento considerável. José Alcindo Nogueira, 62 anos, mora há três anos no Vale da Montanha e reconhece os pontos positivos, mas avalia a necessidade de reparos nas ruas de São Geraldo. "Aqui é uma grande tranquilidade. Deu sete horas da noite e isso aqui vira um verdadeiro silêncio. Mas os buracos já começaram a aparecer, tem algumas irregularidades que são um perigo para todos”, ressalta o morador, que acrescenta: "Ônibus também não sobe aqui na parte alta, temos que andar um bom espaço a pé. Fora isso, já vi até boi solto nessa pista, é mais um problema”, contou.

Ainda no acesso para o Vale da Montanha existe um espaço que poderia ser utilizado para uma área de lazer, segundo os moradores. Existem até madeiras colocadas nas extremidades do campinho, como se fossem traves. Mas o capim e o barro dificultam os jogos das crianças. Jorge Theodoro, 50 anos, salienta a importância de se ter uma área dedicada à diversão dos jovens. "É importante ter um lugar para as crianças se divertirem, precisamos de mais atenção a este setor aqui”, frisou.

O posto de saúde, o único do bairro, também é alvo de reclamações. A falta de alguns serviços deixa os moradores indignados. A auxiliar de escritório Rosângela Rodrigues precisou realizar um procedimento no posto, mas teve que voltar para casa, já que não havia carro para auxiliar o processo. "O posto não está realizando o exame preventivo. De acordo com as atendentes, não há um carro para levar os exames aos laboratórios. Fui fazer hoje e tive que voltar pra casa”, pontuou. 

Uma outra situação no posto de saúde chamou a atenção da nossa equipe. As pessoas que aguardavam o atendimento na unidade reclamaram que não havia copos descartáveis para a população. E o pior, uma única caneca era compartilhada por quem queria tomar água. "Falta copo descartável. É um absurdo: em um posto de saúde as pessoas usarem uma única caneca. Essa situação está assim desde o ano passado”, revelou Eberson Monteiro, 45 anos. 

De acordo com o último levantamento divulgado pela Defesa Civil de Nova Friburgo, em meados de 2013, das 184.122 pessoas que moram na cidade, segundo o IBGE, 21.288 pessoas vivem sob risco de nova catástrofe. E o bairro São Geraldo é o que possui o maior número de áreas de risco. São seis setores de risco alto de deslizamento, quinze setores de risco muito alto de escorregamentos, além de uma área sob perigo de inundação. Ainda hoje permanecem as marcas da tragédia de 2011. Casas interditadas, marcadas para a demolição e parcialmente destruídas pelas barreiras fazem parte do cenário do local. A vegetação chega a cobrir as cicatrizes da catástrofe em alguns pontos, mas algumas construções seguem, literalmente, penduradas. As sirenes estão posicionadas e uma Unidade de Proteção Comunitária está instalada perto da escola Nair Rodrigues. O morador Jorge valoriza as iniciativas, mas pede mais atenção quanto a obras de contenção. "Precisamos construir muros de contenção para acabar com qualquer risco aqui no bairro”, resumiu.

Transporte público, educação e ampliação de ponte são outras reivindicações

Logo no acesso ao bairro do São Geraldo, metros após o entroncamento com a RJ-130, existe um grande desafio para os motoristas: uma ponte com passagem para apenas um veículo. Os relatos são de muitos acidentes, de que filas de carros se formam, e de que o fluxo se desenvolve de acordo com a boa vontade dos motoristas. "Está um perigo!”, exclamou um dos condutores ao passar por nossa equipe de reportagem. 

Outro questionamento é em relação à construção da escola Nair Rodrigues. O amplo espaço segue em obras, mas os moradores pedem agilidade. "Dezenas de crianças poderiam ter um lugar melhor para as aulas, a escola está bem localizada, precisamos da liberação da unidade”, pediu Jorge Theodoro.

E esperar um ônibus se tornou um verdadeiro transtorno em alguns momentos do dia no bairro. A reclamação dos moradores é de que os coletivos vêm lotados e que demoram constantemente. "Existe uma tabela de horários que não é cumprida, falta pontualidade”, questiona a jovem Gessica Augustinho, de 23 anos, que tem o discurso reforçado por Gisele Bucharel, 27 anos: "Faltam mais horários e os ônibus vivem lotados. Nos horários de pico fica impossível andar com comodidade nos ônibus”, ponderou. 

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