Patrimônio ameaçado: casarão da Vila Amélia corre risco de ser demolido

Afape quer vender imóvel de sua propriedade, do qual não há certeza sobre tombamento, para pagar dívidas
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
por Dayane Emrich
O casarão da Vila Amélia: incerteza paira sobre seu tombamento (Foto: Henrique Pinheiro)
O casarão da Vila Amélia: incerteza paira sobre seu tombamento (Foto: Henrique Pinheiro)

A Associação Friburguense de Amigos e Pais do Educando (Afape) deu início nesta semana a um movimento para o destombamento do centenário casarão da Vila Amélia. Situado na Rua Teresópolis, o imóvel, que abrigou durante décadas a 151ª Delegacia de Polícia, pertence à entidade beneficente, mas está sem uso há pelo menos quatro anos. De acordo com o presidente da Afape, Iomar Pinheiro Penza Filho, a instituição deseja vender o imóvel para pagar dívidas e realizar investimentos.

O problema é que, como o casarão é considerado patrimônio histórico, ele não pode ser demolido e o valor da venda, consequentemente, fica muito menor. Iomar explicou que já solicitou à Fundação Dom João VI e à prefeitura documentos que comprovem que o imóvel foi tombado, mas, até agora, não obteve resposta. “Fui informado que o processo se perdeu na enchente de 2011 e que é preciso verificar se essa documentação foi digitalizada. Mas isso já tem mais de um mês”, disse ele.

De acordo com o presidente, a Afape possui uma dívida de R$ 300 mil e recebeu duas propostas de compra do casarão que renderiam à Afape R$ 2 milhões. “A gente só conseguirá vender por este valor se for feito o destombamento. O poder público não tem dinheiro para investir em reformas, e muito menos nós. É preciso ter em mente que existem vidas que dependem da Afape. São mais de 400 crianças especiais que necessitam de atendimento e precisamos do dinheiro da venda do imóvel para quitar débitos e manter a instituição de portas abertas”, afirmou ele, acrescentando: “Para mim essa história de tombamento não passa de uma invenção de empresários que, em 2011, queriam comprar o prédio por um preço muito menor do que ele vale”, acredita.

Ainda segundo Iomar, não há razões que justifiquem o tombamento do casarão. “Pesquisei sobre a história da casa e ninguém importante morou lá. Era uma família com três filhos e uma das meninas se chamava Amélia. Era uma fazenda e um chalé, ou seja, não tem relevância nenhuma. Não existem motivos para que este casarão seja tombado”, pontuou ele acrescentando que o local está infestado de ratos e escorpiões: “Isso sem mencionar que, conforme relato de diversos moradores, o espaço é utilizado frequentemente como motel, por usuários de drogas, entre outros”.

A VOZ DA SERRA entrou em contato com a prefeitura, afim de saber quando o casarão teria sido tombado, se há documentos que comprovem tal fato e quais seriam as características que o fazem um patrimônio histórico. Em nota a prefeitura informou que: “O pedido de informação por parte da Afape já está sendo avaliado pela Fundação D. João VI em conjunto com a PGM - Procuradoria Geral do Município e seus advogados. O prazo para respondermos a Afape é até quinta-feira, 21”, diz trecho do texto.  

Conheça aqui a história da feira da Vila Amélia, contada por Janaína Botelho.

Dificuldades financeiras

A Afape funciona com dificuldades, pois depende dos repasses mensais do governo que nem sempre são creditados em dia. Para manter o funcionamento e a folha de pagamento da equipe de profissionais, a instituição depende da caridade de voluntários e apoiadores. Quando servia de delegacia e carceragem, o casarão rendia à Afape cerca de R$ 7 mil mensais de aluguel mas, segundo a instituição, há dívidas antigas do governo estadual -- avaliadas em cerca de R$ 200 mil -- que não foram quitadas.

A Secretaria estadual de Segurança Pública devolveu o casarão à Afape em setembro de 2013 quando a 151ªDP passou a ser Delegacia Legal e funcionar em uma sede própria na Avenida Presidente Costa e Silva, na Vila Nova.    

Sobre a instituição

Situada na Avenida José Pires Barroso (Via Expressa), em Olaria, a Afape foi fundada em 15 de setembro de 1962 e surgiu de uma iniciativa da saudosa educadora Olga Magliano Bastos. Seu objetivo era oferecer atendimento a crianças com deficiência ou necessidades educacionais especiais de várias faixas etárias, promovendo a inclusão social e transformando-os em cidadãos conscientes e atuantes.

Para isso, a associação conta com uma equipe multidisciplinar, formada por diferentes profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas, instrutores e professores de informática, esportes, dança e música. Mais informações sobre a entidade podem ser obtidas pelo telefone (22) 25228608.

 

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