A paixão nada secreta dos donos de Fuscas por seus "besouros"

Um passeio por depoimentos que contam histórias de parcerias e amizade pelo mais querido dos automóveis
sábado, 19 de janeiro de 2019
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
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O amor por carros transcende nossos limites lógicos. E quando se trata do carro mais popular do Brasil, esse amor é multiplicado. Tanto que em minhas andanças por aí, conheci um sujeito que me contou uma das melhores histórias com carros que já ouvi.

É rápida. Com mais de 30 anos de casado, em determinado momento, o marido apresentou comportamento “estranho”. Todos os dias ele era visto entrando em um motel onde ficava por horas. A história chegou aos ouvidos da mulher que, com um rolo de macarrão numa mão e uma vassoura na outra, intercalava o ataque com perguntas: “Que diabos você faz tanto em um motel e com quem?”. O marido respondia que “não era nada disso que ela estava pensando!”, que ele ia todos os dias ao motel para admirar um Fusca que “batia ponto” por lá. A esposa foi conferir a história do marido e… era verdade. No fim das contas, o marido conseguiu comprar o Fusca e agora admira ele da janela de casa.

A história do mecânico José Guebel, um dos diretores da Associação e Carros Antigos de Nova Friburgo, não é parecida, mas envolve muito amor ao carro. É dessa relação com o Fusca que vem desde a infância, que ele fala aqui. 

AVS: Você se considera um ‘louco por Fusca’?

José Guebel: Sim, é uma relação de amizade entre nós dois, de longa data. Desde criança eu queria ter esse carro e tive a sorte de, em 1982, ter o meu primeiro Fusca.

E como foi que você conseguiu?

Não foi fácil. Foi um Fusca de 1962. Eu aprendi a dirigir naquele carro e fiquei por três anos com ele. Me marcou muito. Após um problema de mecânica, fiz uma negociação com ele, mas me arrependi. Fui atrás dele, inclusive no Detran, para comprar de volta, mas não localizei. E foi nessas idas e vindas ao Detran que eu achei esse que está comigo até hoje que é um modelo de 1961. Esse Fusca tem quase 58 anos e está há 25 comigo.

Tanto tempo e ele parece novo, saindo da fábrica.

É aí que vem a história. Quando eu peguei, ele não estava assim. O carro ficou 17 anos parado na minha oficina e levei mais três anos e meio para restaurá-lo. Ele foi todo recuperado dentro da minha oficina, por mim, com a ajuda de uns amigos. Há cerca de cinco anos ele está todo novo, com peças originais. Rodo com ele nos encontros de carros antigos, a Acanf, da qual faço parte.

A presença da Acanf é forte por aqui e parece que tem sempre novos adeptos, certo?

Sempre. Nosso encontro anual, em 2018, foi um sucesso, com o reconhecimento de todo o estado, o que esperamos repetir em 2019. No último domingo (dia 13), já realizamos um encontro, organizado pela Associação e que também foi um sucesso, com mais gente interessada em fazer parte do nosso grupo.

O Fusca é um carro fácil de dirigir?

Muito fácil. Acho que o único problema do Fusca é que o espaço é pequeno, fora isso, é tranquilo. Muita gente aprendeu a dirigir dentro de um Fusca. É um carro que encara qualquer parada. Na estrada de chão ele é ótimo, no asfalto também. O carro atende bem em qualquer situação e é econômico.

Alguma história marcante?

O que me vem à cabeça agora é de uma viagem com a família para a praia, e o problema de espaço para as malas. Sem conseguir transportar bagagem e família ao mesmo tempo, conseguimos colocar as malas na parte no teto do carro. E fizemos uma viagem maravilhosa.

O gosto por Fuscas e outros carros antigos vem se renovando. Muitos fazem parte da Acanf. Como manter o interesse da nova geração?

Isso é muito importante. Quando eu vejo os jovens vindo para os nossos encontros, fico feliz. O interessante é que eles vêm para ver um Fusca, geralmente com alguma história sobre o carro, as vezes do avô, pai... é muito bom ver que eles se envolvem e continuam essa história.

Como você faz para mantê-lo tão bem conservado?

Esse carro não é de uso diário e disso depende sua boa conservação. Só tiro ele da garagem quando vamos para encontros. E é legal quando saio com ele porque as pessoas param, tiram fotos, fazem perguntas, ficam curiosas. Já pediram pra tirar foto comigo e com o carro. É o maior barato e dá satisfação de ver que o esforço em recuperar o carro é reconhecido.

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OUTROS DEPOIMENTOS DE MOTORISTAS APAIXONADOS POR SEUS FUSCAS:

Gabriel Augusto dos Santos – “Vaga especial”

No dia 11 de março de 2012, realizei um sonho: Comprei meu Fusca! O besouro 1966 estava parado ao lado de uma casinha aqui em São Pedro da Serra. Um dia, ao caminhar, vi ele ali parado (costumo brincar que olhei nos faróis dele e ele olhou nos meus olhos) e foi amor a primeira vista!

Perguntei se queriam vender e depois de um tempo, negócio fechado! No ano seguinte, reformei ele todo. Mantive o máximo das características originais do ano de fabricação, mas muita coisa teve que ser trocada. Adoro pegar estrada e por onde ele passa, chama atenção, rendendo bons papos com pessoas que já tiveram um, ou que lembram de algum na família. Certo dia fui ao Rio de Janeiro com ele, e ao entrar em um estacionamento em Copacabana, percebi que só tinha vagas ao sol. O manobrista e o dono vieram me receber, e depois de algum tempo conversando sobre o carro, o próprio dono do local se ofereceu para estacioná-lo. Falou que fazia muito tempo que não dirigia um, e queria matar a saudade. Até aí, tudo bem, o curioso foi que o manobrista saiu da guarita com uma chave e falou: "Espera! O que a gente faz quando entra um idoso no ônibus? Dá o lugar, certo?!" Pegou um dos carros que estava na sombra, colocou no sol e colocou o meu na vaga coberta. Pensei: "Poxa, que prestígio!". Se eu chegasse com um carro novo, não teria conseguido a vaga, e nem tido uma boa conversa... Em suma, sou muito feliz com meu Fusca, e sempre que perguntam se eu quero vender, respondo: "Não, obrigado, esse aqui é último dono!"

Walmir Pereira e Frederico Pereira – “Pagou tem que levar”

O Fusca sempre me acompanhou. Quando tinha  sete anos e ia para o sítio com meu tio ele me colocava no colo e ia dirigindo. Depois, aos 18, fui comprar um para mim e comprei o pior possível: rebaixado, documentos enrolados, motor ‘fusado’…, resumindo, comprei caro gastei muito e vendi barato. Fiquei um tempo sem o carro e sempre que levava meu filho na creche e no colégio, tínhamos uma brincadeira durante o percurso Olaria/Centro: procurar um Fusca. Chegamos a contar 40, 50, 60 fuscas no trajeto. Era muito legal deixar ele ganhar, o sorriso nos seus olhos não tinha preço. Quando ele fez 14 anos me pediu para comprar um Fusca para reformar e conversando com alguns amigos, apareceu um fusquinha 66, original. Só que eu não tinha dinheiro para comprar e reformar mais um. Cheguei à conclusão de que era mais barato comprar um carro mais inteiro do que reformar do zero.  Três meses depois encontrei o dono de um Fusca e conversando chegamos a um acordo, coisa de oportunidade, sem pensar muito fechei negócio. Demorei pra pegar o carro. O dono me ligando, até o dia em que ele apareceu na minha loja e brincou: "Pagou tem que levar". Meu filho ficou muito feliz. Durante alguns dias, o carro da família dormiu na rua e depois de algumas arrumações os dois ficaram na garagem. De lá pra cá fizemos muitos passeios no Rio, Itaipava, Macaé, Cabo Frio. Esse ano será de muita expectativa já que meu filho tirou a carteira de habilitação e agora é quem vai guiar o Fusca. O Fusca tem um lugar especial no coração do brasileiro. É um carro que alguém já possuiu ou o pai já teve ou alguém da família tem. Sempre alguma história pra contar. Sair de Fusca é para quem não tem pressa, porque sempre aparece alguém perguntando alguma coisa. Outro dia, um rapaz pediu para tirar fotos. Parei na mesma hora para atendê-lo.

Leandro Cesar Carpi – “Birra do antigo comprador”

Já estou no meu segundo Fusca. Ter um e poder andar no dia a dia é uma experiência única. Meu Fusca é preto, 1969, motor 1.600. Fiz umas alterações estéticas como teto solar, rodas de liga e freios a disco. Quando o comprei, no Rio, fechei o negócio via telefone. Desci para buscar o carro, mas chegando na casa do vendedor ele disse que não queria mais vender o carro, que me pagaria a despesa que tive com a viagem. Fiquei frustrado pois tinha achado o Fusca muito bonito. E achei, à primeira vista, que ele seria meu. Voltei para Friburgo e, para minha surpresa, a esposa do proprietário ligou dizendo para eu voltar ao Rio para buscar o Fusca, pois ele não tinha agido corretamente e que eu levasse o dinheiro para levar o carro. Voltei no dia seguinte, mas quando já fazia o pagamento, o Fusca era bem diferente do que tinha visto na internet. Sujo de lama por fora, mais ainda por dentro, bem bagunçado. Depois, a esposa dele me contou que ele fez isso para eu desistir da compra. Mesmo assim, comprei e hoje fazem cinco anos, comigo. Ele só me traz satisfação e alegria. Vejo isso na cara da minha filha quando estamos passeando juntos e isso é mais um motivo para não vender e guardá-lo para mais uns bons anos.

Aline Froese – “Blue”

Meu pai é engenheiro mecânico e a paixão por carros vem de berço. Cresci vendo-o mexer nos carros e em fibra de vidro, como hobby. O Fusca sempre me chamou atenção, é um clássico! Manutenção barata e fácil, lindo, conseguimos ir para qualquer lugar com esse pequeno. Fácil de dirigir, pequenininho, cabe em qualquer lugar. A princípio, minha ideia não era o Fusca, precisava de um carro, mas o barulho do motor me incomodava. Pedi ajuda para um amigo que trabalhava comigo, ele tinha conhecimento com venda de carros, mas são todos antigos. O Bigode (o amigo) não precisou procurar muito e logo surgiu o Blue. O antigo dono estava querendo vender pra terminar de construir a casa dele. Fomos lá conferir e foi amor à primeira vista. Azul, Lindo! Me apaixonei. Precisava de alguns cuidados, porque estava um pouco judiado pelo tempo. Ele ficava fora da garagem ao ar livre pegando chuva e sol. No mesmo dia já deixei um sinal com ele e dois dias depois fui pegar o carro. Batizei como Blue, não teve jeito. Um azul forte, muito lindo. O fusquinha é um brinquedo, sempre estou inventando alguma coisa pra mexer no carro, trocando peças, acrescentando novidades.  Não consigo me imaginar vendendo o Blue, compramos um outro carro recentemente, mas o Blue faz parte da família. Existe uma limitação de velocidade? Sim. Mas qual a graça de passear sem apreciar a vista? Sempre pegamos estrada com ele e nunca nos deixou na mão! Já cheguei a andar 650 km em um fim de semana.

Bernardo Tardin - "Buzz Lightyear – ao infinito e além"

Tudo começou quando eu e meu irmão assistimos ao filme “Se Meu Fusca Falasse”, quando éramos crianças. Minha paixão pelo Herbie foi instantânea, assistia várias vezes o filme e a partir disso todo Fusca que via na rua chamava minha atenção, muito mais do que qualquer outro carro. Todos os carrinhos de brinquedo que eu tinha eram um Fusca. Comprei livros e DVDs sobre a história de como foi criado e tudo mais. Eu e meu irmão, desde de pequenos, sempre ficávamos namorando o Fusca do vizinho, um carro muito bonito e conservado, até que seis ou sete anos atrás ele decidiu vender e nossa avó não teve dúvida, realizou nosso sonho ter um Fusca. Logo batizamos ele de "Buzz Lightyear" e de lá pra cá já fomos a diversos encontros de Fuscas e de carros antigos. O mais divertido é pegar estrada com ele, já fomos ao Rio, Petrópolis, Cabo Frio, Juiz de Fora e mais algumas cidades. Sempre tem alguém que também gosta de Fusca ou já teve, que para a gente na rua e elogia o carro ou conta histórias com o carrinho. Quem gosta de Fusca acaba incorporando-o à família, e isso é muito legal!

 

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