Operários com salários atrasados e obras paradas no Hospital do Câncer

Inauguração da unidade de oncologia em Nova Friburgo não será mais em dezembro deste ano
sexta-feira, 22 de julho de 2016
por Alerrandre Barros
As obras estão praticamente paradas no novo Hospital do Câncer (Foto: Lúcio Cesar Pereira)
As obras estão praticamente paradas no novo Hospital do Câncer (Foto: Lúcio Cesar Pereira)

As obras no imóvel onde será implantado o Hospital Estadual de Oncologia da Região Serrana, em Nova Friburgo, o Hospital do Câncer Francisco Faria, estão praticamente paradas e não serão entregues em dezembro deste ano, conforme previa o governo do estado. O número de funcionários que trabalhavam, em fevereiro, na adaptação e ampliação dos prédios onde funcionará a nova unidade de saúde, no bairro Ponte da Saudade, caiu drasticamente nos últimos meses. Muitos dos 80 operários que iniciaram a obra foram dispensados e não receberam, sequer, o último salário.

“As obras estão quase paradas, e há poucas pessoas trabalhando lá”, disse um ex-funcionário que não quis se identificar. “Vários empregados, como eu, foram demitidos sem muitas explicações da empresa. O comentário na obra é que o governo do estado não estaria pagando a empresa”, contou o pedreiro. 

Por causa disso, pelo menos 11 ex-funcionários entraram na Justiça para receber as verbas rescisórias da Apoio Serviços Temporários Ltda, empresa que foi subcontratada para fornecer mão de obra para a FW Empreendimentos Imobiliários e Construções Ltda, responsável pelas obras do hospital. 

Segundo o advogado do grupo de trabalhadores que processa as duas empresas, Maykon Matias Gomes, o problema começou com a rescisão dos contratos de trabalho antes do prazo prometido.

“Os operários foram informados inicialmente que o contrato de trabalho duraria dois anos. No entanto, após seis meses, um grupo foi dispensado e outra equipe foi contratada pela empresa. A mesma coisa aconteceu com a nova equipe. Eles também reclamam que a empresa que ganhou a licitação contratou outra para terceirizar a mão de obra de serviços temporários. A empresa teria prometido que eles seriam efetivados, mas isso não ocorreu. Como não foi feito o pagamento correto da rescisão, houve a necessidade do ajuizamento dessas demandas trabalhistas. Os últimos ex-funcionários que estiveram aqui no escritório disseram que a obra parou”, disse o advogado. 

As cinco primeiras audiências de conciliação entre os ex-funcionários e as empresas foram marcadas para o início de julho, mas, de acordo com Maykon, nada foi definido porque o representante legal de uma delas teria ficado doente. As próximas audiências estão agendadas ainda para este mês e agosto.  

A VOZ DA SERRA tentou esclarecer a questão com a Apoio e a FW, mas não obteve contato por telefone. A Secretaria estadual de Obras também foi procurada e, em nota, não comentou o suposto atraso nos repasses para a construtora, mas negou que a obra esteja parada. “As obras do hospital estão em andamento”, limitou-se a informar. 

Investimento e reformas

A licitação para a implantação do Hospital de Oncologia em Nova Friburgo foi realizada pelo governo do estado em novembro de 2014. Com investimento total de R$ 93,6 milhões — sendo R$ 10 milhões destinados à desapropriação do imóvel onde funcionou, na década de 1990 — o Centro Adventista de Vida Saudável (Cavs), R$ 45,7 milhões para as obras, e R$ 35 milhões para equipamentos — a empresa vencedora foi a FW Empreendimentos Imobiliários e Construções Ltda. 

As obras começaram em abril de 2015 e o novo hospital seria inaugurado no primeiro semestre deste ano, mas o prazo foi adiado para outubro e, depois, estendido para dezembro. No entanto, ao que tudo indica, quase um ano e meio depois, o cronograma terá que ser reajustado e o prazo de entrega da unidade de oncologia terá que ser ampliado. O governo não informou qual a nova previsão de entrega das obras.

De acordo com o governo do estado, o hospital será referência no tratamento de câncer na Região Serrana. Com serviços de clínica, diagnóstico, cirurgia, radioterapia, medidas de suporte, reabilitação e cuidados paliativos, estima-se que a unidade terá capacidade para atender 500 mil pessoas por ano. O projeto prevê a instalação de 200 leitos, sendo 30 destinados à infância, cerca de 300 consultas por dia e até quatro mil cirurgias por ano.

Além de aproveitar a estrutura já existente, será construído um bloco novo, de quatro pavimentos, para o funcionamento do Centro de Imagem. Ambas as estruturas deverão ter um jardim suspenso e serão interligadas por uma passarela coberta. 

Em fevereiro, algumas adaptações nos prédios estavam avançadas e a casa de máquinas também estava sendo erguida no terreno. A VOZ DA SERRA não conseguiu atualizar com o governo e as empresas o atual estado das obras.

Em visita à Nova Friburgo, em abril do ano passado, o governador Luiz Fernando Pezão esteve no canteiro de obras e comentou que o hospital será a realização de um sonho porque amenizará o sofrimento dos doentes que precisam se deslocar para cidades distantes a fim de receber atendimento médico, como no Rio de Janeiro, por exemplo. 

“Desde a tragédia de 2011, eu ansiava por ajudar a reerguer a Região Serrana, especialmente Nova Friburgo. Entre outras dificuldades, observei o sofrimento das pessoas que moravam aqui e tinham que fazer tratamento de câncer no Rio. Levei esse anseio à presidenta Dilma [Rousseff] e acertamos a parceria dos governos federal e estadual. Este será um hospital moderno e bem equipado e em cerca de um ano e meio já deve estar sendo concluído”, disse Pezão, na época.

 

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