No meu jardim tem um horto Fê-Lis

sábado, 14 de dezembro de 2019
por Elisabeth Souza Cruz*
Flores de Elisabeth Souza Cruz (Arquivo AVS)
Flores de Elisabeth Souza Cruz (Arquivo AVS)

Meu pai gostava de geografia, de mapas. Minha mãe amava a astronomia e estudava astrofísica como quem vai ao cinema. Com eles passei a ter noção das grandezas do Universo. Minha avó gostava de plantas. Com ela comecei a ter consciência dos metros quadrados do quintal, entendendo que aquele pedaço de terra era parte inseparável da Terra que meus pais tanto cultuavam. 

Vovó multiplicava as mudas. As cinzas do fogão de lenha espalhadas nos canteiros espantavam as formigas e as cascas dos legumes e das frutas serviam para adubar a terra. E ela conversava com as plantas, pedindo licença para podá-las. O entendimento entre elas era tanto que a conversa fluía em botões de rosas, dálias amarelas e gerânios rosados. 

Da infância, então, eu trouxe um gosto especial pelas plantas e mais do que um hobby, é um dever perpetuar os aprendizados. Eu sinto essa perpetuação, observando Fernanda cuidando de sua coleção de cactos e suculentas. Temos ideia de um empreendimento entre mãe e filha: “Horto Fê-Lis”. 

A natureza, se a deixarmos fluir, não perde a hora de se renovar. No meu jardim aprendo as lições de que há tempo de plantar e tempo de colher. A flor de maio vem depois de abril. Em agosto as orquídeas chegam pontualmente. O manacá lilás perfuma as tardes de setembro, simulando um frasco de perfume aberto no jardim. A florada dos agapantos em novembro é um deslumbre e se mistura ao fascínio das flores exóticas das sianinhas, que se fecham quando expostas ao sol. 

E eu nem me importo de sair da cama às cinco da manhã para lhes tirar belas fotos. Mas eu ainda não falei das minhas avencas, as transgressoras das regras, que resolveram brotar pelos furinhos das jardineiras da janela da cozinha. Eu as apelidei de “filhas de José Régio”, pois a transgressão parece me dizer – “Sei que não vou por aí...”.  

Já a Estrela de Natal passa onze meses escondida em seu bulbo sob a terra, para eclodir em dezembro, numa indescritível beleza. No entorno, a cerca viva exibe a floração da esponjinha, que eu batizei de “explosão cósmica”. E as sálvias, floridas o ano inteiro! O espetáculo se abre nas molduras das janelas, na graça da maior simplicidade. Passarinhos, colibris e borboletas são as visitas de sempre...

 

No Reino dos Florais

 

"Agapantos e orquídeas de novembro

ornam, da Lis, a esplêndida Mansarda!...

Florindo a vida, ali, de todo membro,

eis seu belo jardim, jarda após jarda!

 

E, florescendo, adentrará dezembro

que virá em seguida - e já não tarda,

junto a mais flores que em Friburgo lembro

e que a minha alma com saudades guarda:

 

Orquídeas, agapantos, manacás

e jasmineiros a florir, fulgindo

ao lado de prolíferos rosais!...

 

Tudo, enfim, que nos fascina sorrindo,

ali reluz, nesse recanto lindo

da Princesa do Reino dos Florais!"

(Cleber Roberto / São João de Meriti/RJ)

 

*Elisabeth Souza Cruz é jornalista e presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT.

 

 

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