No grupo de caronas, brincadeiras inspiram momentos divertidos

Motoristas bacanas são citados por tornarem viagens colaborativas passeios agradáveis
sábado, 18 de novembro de 2017
por Adriana Oliveira
Marlos (à esquerda) com caronas
Marlos (à esquerda) com caronas

Tinha que ser um palhaço. No melhor dos sentidos, claro. Por brincadeiras como perguntar no pedágio se têm troco ou se dão desconto e despertar risos de dentro e do lado de fora dos picadeiros, Fabiano Freitas José, de 43 anos, foi citado no principal grupo de caronas colaborativas de Nova Friburgo, com mais de dez mil membros, como uma das pessoas mais gentis que conhecem.

A enquete foi feita num post publicado no último dia 10 e recebeu mais de 50 comentários. Morador do Sana e de São Pedro da Serra, o sorridente Fabiano vê no riso e no bom humor uma forma de aproximar as pessoas e acha que a profissão de palhaço ajuda muito na fama que ele carrega.

“Me esforço para tentar deixar os outros mais felizes. Acho que ser gentil é ter consciência da importância de ter que retribuir”, resume Fabiano, que nunca pegou, mas sempre ofereceu carona, não por necessidade financeira, mas para poder usufruir de companhia durante as viagens de carro.

Integrante do grupo Doutores da Alegria há seis anos, ele se diz grato por ter ouvido coisas como “você salvou o meu dia” ao fim de um percurso. “É quando descemos dos palcos que começamos a viver a verdadeira arte”, compara Fabiano, que dá aulas de circo e perna de pau no Centro de Artes de Lumiar e se apresenta todos os fins de semana na região, com o projeto Circo a Céu Aberto.

Outro simpaticão mencionado pelos caroneiros de Friburgo é Marlos Coutinho, de 32 anos, mestrando em Administração na UFF. Desde fevereiro no grupo, ele soma nada menos que 120 viagens no trajeto Niterói-Friburgo, todas dando carona. A gentileza ao volante já lhe rendeu lanches deliciosos, alguns contatos profissionais e amizades de valor, como a de uma passageira fixa de Cordeiro que fez questão de sua presença no aniversário de 1 ano da filha.

“O universo conspira a favor. Ser gentil é a melhor forma de atrair coisas positivas de volta. Sem falar que uma conversa agradável ajuda a passar o tempo”, diz Marlos, que também aluga a própria casa pelo AirBnB e já ganhou presente caro de uma família holandesa apenas por ter caprichado no preparo de um churrasco, como qualquer brasileiro. “Adoro agradar. A vida traz tudo de bom de volta”, afirma.

Fundador do grupo há cerca de dez anos, o cineasta Pedro Kiua diz que episódios como o da jovem morta em Minas Gerais, dando carona para um suspeito que confessou à polícia ter entrado num grupo local com objetivo de latrocínio, são muito pontuais e não afetaram a comunidade em Nova Friburgo. O grupo de caronas friburguense recebe de 50 a 60 novas adesões a cada fim de semana e a gentileza tem um papel essencial. “O grupo foi criado com o objetivo de trocar serviços e criar relações  não baseadas apenas em dinheiro, mas também em valores como solidariedade, sustentabilidade, sociabilidade”, afirma Pedro, fundador também do Cineclube Lumiar e da Feira da Terra, evento precursor das feiras dominicais de Lumiar que acontecem até hoje.

Segundo ele, o grupo é baseado na auto-gestão: quem apresenta mau comportamento acaba sendo expurgado naturalmente, pelos próprios membros. Em todo este tempo, houve menos de 5% de denúncias, num universo de mais de dez mil pessoas. E, é claro, proliferam histórias de grandes amizades e até casamentos. Com muitos vivas à gentileza.

 

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