Neste Dia da Cultura friburguense, Euterpe celebra 156 anos

Ensaiando e tocando por mais de um século e meio, banda é uma das mais antigas do país
terça-feira, 26 de fevereiro de 2019
por Girlan Guilland (girlan.guilland@gmail.com)
Apresentação da  Euterpe  (fotos de divulgação)
Apresentação da Euterpe (fotos de divulgação)

O tradicional desfile, a partir das 19h, no trecho entre o largo João Baptista Bussinger e a sede da agremiação musical, no número 53 da Avenida Euterpe Friburguense, e uma cerimônia, logo em seguida, em seu salão nobre, vão marcar a celebração de mais um aniversário da Real Banda Euterpe Friburguense, uma das mais antigas bandas de música do país, em funcionamento ininterrupto por mais de um século e meio. 

Terça-feira, 26 de fevereiro, completam-se 156 anos que, juntamente com um grupo de abnegadas e influentes personalidades daquela Nova Friburgo - então Vila da Freguesia de São João Batista -, um lugarejo ainda a completar seus primeiros 45 anos de fundação - o maestro lisboeta Samuel Antônio dos Santos (foto) concretizava a primeira de suas duas promessas ao seu santo de devoção.


Uma história que se confunde com a própria trajetória de Nova Friburgo, num enredo que mescla crença e fé. Para conhece-la por inteiro é preciso voltar meia década no relógio do tempo, antes de 1863. Corria o ano de 1858. Em meio à travessia marítima Lisboa-Buenos Aires, o nosso personagem viverá momentos de tensão: em razão de uma tormenta, por pouco a tempestade não leva a
embarcação e todos a bordo. Devoto de Santo Antônio, o maestro Samuel ora e promete que, a salvo, logo no primeiro porto pediria baixa na Marinha, e na cidade que se fixasse
criaria uma banda com uma escola para ensinar música e, ainda, ergueria um templo em louvor ao santo casamenteiro.

No Rio de Janeiro, após pedir desligamento ao comandante do navio, trabalhou como professor e regente e conheceu o coronel Galeano das Neves, então presidente da Câmara da Vila de Nova Friburgo, quem o informou sobre o Colégio Freeze estar precisando de professor de música. Apresentado ao diretor, foi contratado fixando-se em Nova Friburgo, onde encontrou ambiente perfeito para a música e seus planos. Contanto com
importantes apoios, entre os quais do comerciante português Antônio Clemente Pinto (o Barão de Nova Friburgo, primeiro Presidente da banda), o maestro Samuel fundou a Euterpe, sendo seu regente por seguidos 22 anos.

A segunda promessa, a construção do templo, se concretizaria 21 anos depois da fundação do grupo musical, contando inclusive com apoio de músicos, diretores e abnegados da própria banda, voluntários nas quermesses organizadas por sua mulher, Guilhermina Pascal, angariando fundos para a obra. Em 13 de junho de 1884, dia de Santo Antônio e durante a festa em seu
louvor, inaugurou-se a capela de Santo Antônio, até hoje existente na Praça do Suspiro um dos tradicionais atrativos turísticos friburguenses.

Formando músicos e cidadãos melhores Samuel Antônio dos Santos, o maestro fundador, inspiração para as futuras gerações da chamada ‘Família Euterpista’, além de referência da banda,
virou nome da Escola de Música, que ele mesmo criou, juntamente com a agremiação musical, há mais de um século e meio como o primeiro curso
profissionalizante do município. 

Aliás, o sonho de Samuel vem se mantendo até os dias de hoje: muito além de banda de música, a Euterpe Friburguense tem como sua principal missão
formar novos músicos, num trabalho de inclusão socioeducativo e cultural, beneficiando anualmente dezenas de jovens, que têm a alternativa da
profissionalização, através da música. 

Coincidentemente na véspera do aniversário da Euterpe (Dia da Cultura Friburguense instituído pela lei municipal 3.244/2003), 25 de fevereiro assinala também outra data especial, pois em 1886 nascia, também em Nova Friburgo, Alberto da Veiga Guignard, que se tornaria o renomado pintor modernista, que ganharia notoriedade a partir da Semana de Arte Moderna, de 1922, em São Paulo. Também por uma lei municipal, 25/2 é o Dia da Pintura Friburguense, em homenagem ao filho ilustre. 

Além de Guignard, muitos outros expoentes nos diferentes setores de atividades artístico-culturais conferem à Cidade o atributo de ser celeiro de valorosos talentos, nas mais diversas expressões artísticas: da música à dança; das artes plásticas às artes cênicas e ainda sem esquecer da literatura. Além dos diversos casos de filhos ilustres, Nova Friburgo sempre foi frequentado por grandes personalidades, como constam de seus registros históricos: de Joaquim Nabuco a Machado de Assis, passando por Rui Barbosa, Heitor Villa Lobos, que fez sua estreia mundial como compositor na cidade, em 29 de janeiro de 1915, a Carlos Drummond de Andrade, que estudou no Colégio Anchieta (e foi testemunha ocular da celebração do Centenário do município, em 1918) são apenas alguns dos muitos nomes que se tornaram personagens da 
história friburguense, ao longo de seus dois séculos de existência.

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