Mestre Anderson França agradece a confiança de Amanda Nunes

"Ela acreditou no meu trabalho e foi brilhante do início ao fim", diz treinador da bicampeã do MMA
quinta-feira, 10 de janeiro de 2019
por Vinicius Gastin
Anderson e Amanda após um treino (Arquivo pessoal)
Anderson e Amanda após um treino (Arquivo pessoal)

No último dia de 2018, Amanda Nunes chocou o mundo ao nocautear Cris Cyborg de forma avassaladora, em apenas 51 segundos, e destronar a lutadora apontada como a maior da história do MMA. O combate aconteceu no dia 31 de dezembro, pelo UFC 232, e a campeã do peso-galo conquistou um inédito segundo cinturão da organização, o da categoria pena.

Nas fotos da preparação e da conquista de Amanda, lá está o mestre Anderson França. Depois de Frankie Edgard, Chris Weidman (responsável por destruir o reinado de Anderson Silva, no Ultimate), Vitor Belfort e outros, o mestre friburguense passou a integrar a equipe American Top Team, nos EUA, e passou a morar no país norte-americano.  Desta forma, fez parte do camp da brasileira para aquela que foi considerada como a maior luta de MMA feminino, de todos os tempos.

“A minha dedicação e dos meus professores foram dirigidos aos mínimos detalhes. Era coisa de movimento de mão. Eles chegavam com as fotos, explicando, e eu perguntava o que era. Eu dizia que era “maluco”, mas um “maluco” que me ajudou a ser inteligente. O Anderson França é um cara bom, inteligente pra caramba. Meu professor de stricker é um fenômeno. O que eu evoluí como atleta e pessoa desses tempos pra cá, é incrível. E eu consegui administrar muito bem, com toda a paciência. Estou muito feliz com tudo que conquistei, por tudo que passei.”

O depoimento de Amanda Nunes, durante entrevista a um canal de TV especializado, comprova a importância de Anderson França na preparação da brasileira. Responsável por formar Edson Barboza e Marlon Moraes, friburguenses que hoje brilham no UFC, o mestre de muay thai entrou para a história também do MMA feminino.

“Eu torcia para a Cris Cyborg ir para a briga, porque ia dar mais brechas para a gente. A Cris tem poder fantástico de nocaute, mas a Amanda tem a mão pesada. Jogamos no erro da Cris. Ela acertou, veio na fome de acabar com a luta e achávamos que seria a hora certa de a Amanda conectar. A Cris estava respeitando, mas é dela ser uma atleta aguerrida. Quando conectou, achou que poderia definir a luta. Fico um pouco surpreso, porque achava que a Cris seria mais inteligente. Estava torcendo para ela ir pra briga, perdesse a razão. Foi ótimo pra gente, porque a Amanda é extremamente perigosa também.”

O sucesso dos alunos que passam pelo crivo de Anderson França fez as portas do MMA se abrirem para o mestre de Nova Friburgo. Aos 46 anos de idade, ele luta desde os sete, quando começou a praticar o taekwondo. Mas foi no muay thai que começou a trilhar o caminho do sucesso, tornando-se tetracampeão estadual e tricampeão brasileiro de muay thai. Entre a modalidade e o kickboxing foram 29 lutas e 29 vitórias. Em 1996 Anderson ganhou a primeira oportunidade para dar aula na Academia Brasil Fight Center. Credenciado pelo título de melhor atleta do país, o lutador pôde repassar aos alunos todo o conhecimento, durante quatro anos.

Pouco tempo depois, o lutador ganhou uma academia de presente e realizou as primeiras aulas de muay thai para um número reduzido de alunos. Marlon Moraes e Edson Barboza já treinavam e despontavam como destaques no cenário das artes marciais. É desta forma que Anderson construiu uma trajetória que cada vez mais ganha capítulos vitoriosos.

Em conversa exclusiva com A VOZ DA SERRA, o mestre de Nova Friburgo fala sobre a preparação de Amanda para a luta, a adaptação aos EUA e revela o motivo de a atleta tê-lo apelidado de “maluco”.

AVS: Conte-nos um pouco sobre como foi feita a preparação da Amanda para a maior luta da história do MMA feminino. Houve algum ingrediente a mais, especial na comparação com outras lutas “comuns”?

Anderson França: Com certeza, a preparação pra essa luta foi feita de uma forma diferente, por se tratar de uma oponente perigosa. Cris era considerada a melhor lutadora do mundo. Tínhamos que ter certeza de que toda a equipe estaria em sintonia, desde a preparação física, quando precisamos garantir que ela estivesse mais forte e mais rápida, até a parte técnica. Todos nós da equipe, juntos, montamos a estratégia a ser trabalhada. Eu assisti aos vídeos de lutas da Cris praticamente todos os dias, para que eu pudesse ter certeza de que estaríamos aproveitando todas as brechas. A Amanda foi brilhante do início ao fim. Ela acreditou no meu trabalho. Todos os dias eu levava para o treino fotos de golpes que a Cris usou em outras lutas, para que a Amanda pudesse entender melhor como poderíamos trabalhar em cima dos golpes dela.

 “Um maluco que me ajudou a ser inteligente. O Anderson França é um cara bom, inteligente pra caramba”. Foram mais ou menos essas as palavras de Amanda sobre você. Como você as recebeu?

Como eu disse, estudei muito as lutas da Cris. Tentei não perder nenhum detalhe. Todos os dias eu levava fotos de algo diferente que poderia nos ajudar a vencer essa luta. A Amanda já vinha logo falando: “O que é isso, professor? De novo?” E eu respondia, “não repara Amanda, eu sou meio maluco” (risos). Foi daí que surgiu o comentário do “maluco gente boa”. Com certeza foi um dos momentos mais gratificantes da minha carreira. Eu me esforcei muito para ajudar a Amanda, o máximo que pude, e ver esse reconhecimento, com certeza, foi muito especial.

Após as vitórias sobre Rousey e Cyborg, na sua visão, a Amanda já pode ser considerada como a maior lutadora da história do MMA feminino?

Eu acredito que cada atleta tem o seu momento. Com certeza esse é o momento da Amanda Nunes. Ela simplesmente venceu a Ronda Rousey e a Cris Cyborg. Ela fez história! Eu lembro que falava com ela que a Cris é a atleta mais perigosa que enfrentou. Mas que ela poderia vencê-la. Só precisava acreditar e jogar os golpes junto com a Cris. Essa é a única maneira de derrubá-la. Amanda logo respondeu: “Então vamos fazer isso, vamos fazer ela me respeitar”. Essa é a atitude de uma verdadeira campeã. Estou muito orgulhoso da Amanda.

Há alguns meses, você mudou para os EUA. Como está sendo essa sua nova rotina? E a convivência com os lutadores?

A minha adaptação aqui foi melhor do que eu esperava. Fui muito bem recebido por toda a equipe da American Top Team. Isso com certeza foi fundamental para que eu alcançasse os resultados que tenho alcançado. Trabalho de segunda a sábado com vários atletas, priorizando os que estão com luta marcada. Com alguns lutadores tenho contato mais dentro da academia, com outros já criei uma amizade maior, mas no geral tenho uma convivência maravilhosa, não só com os lutadores, mas com todos da equipe. E isso foi essencial para mim nessa fase inicial. Só fica a saudade da minha família e dos meus alunos no Brasil, mas isso a gente vai administrando.

Além de Amanda, Marlon e Edson, quais outros lutadores você tem trabalhado atualmente?

Tenho trabalhado com grandes nomes do MMA, dentre eles, Nina Ansaroff, Renato Moicano, Pedro Munhoz, John Lineker, Renan Barão, Thiago Pitbull, Philipe Lins, Rany Yahia, Mara Borelo, Junior Cigano, Tony Martin, Kayla Harrison e outros.

Em fevereiro, Marlon Moraes faz a luta que pode levá-lo à sonhada disputa de cinturão. Qual a sua expectativa para esse combate? Acha que Marlon está preparado para buscar o título da organização?

Acredito que, novamente, será um combate muito equilibrado. Mas Marlon está numa crescente e eu tenho certeza de que irá se soltar mais nesse próximo combate. Tenho certeza que Marlon será o próximo desafiante ao cinturão. Temos uma ligação de pai e filho. Apesar de não estar treinando ele para essa próxima batalha, nos falamos toda semana. Hoje ele reside em New Jersey e treina com a equipe do Ricardo Almeida e Mark Henry, e com certeza está sendo muito bem preparado. Dessa vez, mesmo estando em Fortaleza, pois tenho atletas lutando no mesmo evento, não estarei no corner com ele, mas meu coração com certeza estará naquele octógono durante a luta.

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