Márcia Machado: uma vida dedicada aos livros

Coordenadora da biblioteca da Secretaria de Educação de Nova Friburgo fala sobre e leitura nos dias de hoje
sábado, 20 de abril de 2019
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Márcia Machado em meio aos livros (Arquivo pessoal)
Márcia Machado em meio aos livros (Arquivo pessoal)

Márcia criou seus filhos “entre as páginas de muitos livros, editores, autores e contadores de história”, e se fez uma “anunciadora” dos mais diversos contos. Começou na secretaria de Cultura, “mas foi na Educação que a Mala de Histórias tomou forma, gosto e poesia. Uma pequena biblioteca para a rede e muitos sonhos… até que um deles pegou a estrada e virou uma biblioteca móvel. Despertando a curiosidade e o gosto pela leitura no imaginário de muitas crianças friburguenses. Hoje, a biblioteca da SME, possui um grande acervo, projetos e salas de leitura em quase todas as escolas municipais. E ainda não parou de crescer e encantar”, revela a agente de leitura, como Márcia Machado gosta de ser reconhecida.

Na Biblioteca da secretaria municipal de Educação estão catalogados quase 10 mil livros. Dessa central saem os exemplares que abastecem as salas de leitura espalhadas pelas escolas da rede municipal e o ônibus onde funciona a Biblioteca Móvel. A responsável por cuidar desse patrimônio é a técnica em biblioteconomia Márcia Machado, coordenadora da biblioteca da SME e gestora das salas de leitura e da biblioteca móvel.  

A rede municipal tem 122 escolas, das quais 58 têm salas de leitura, batizadas com os nomes de autores de literatura infanto-juvenil e ex-secretários de Educação. Alguns nascidos ou radicados aqui, como: Francisco Gregório, Álvaro Ottoni, Robério Canto, Janaina Botelho, Davi Massena, Maria Clara Cavalcanti, Anna Claudia Ramos, Tânia Braune, Ruth Rocha, Marina Colasanti, entgre outros. E ex-secretários de Educação do município, como os professores Jorge Carvalho, Ledir Porto, Beatriz Abicalil, Marcelo Verly, Hamilton Werneck.

Além da aquisição de livros feita pela própria secretaria, o MEC (Ministério da Educação) e o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) também abastecem a biblioteca com títulos que abrangem literatura e pedagogia. Para ter acesso ao acervo da biblioteca, basta que os professores se cadastrem.

É sabido que brasileiro lê pouco e compra livros menos ainda. Apesar da reclamação generalizada sobre preço, considerado proibitivo pela maioria da população, Márcia lembra que as feiras de novos e usados facilitam a aquisição a preços bem acessíveis. Se mesmo assim esse “consumo” não couber no orçamento, sempre se pode recorrer às bibliotecas públicas. Enfim, como ela costuma dizer, quando uma pessoa quer, realmente, ler, sempre há um jeito, como, por exemplo, se associar a uma biblioteca: no caso de Friburgo, temos a Biblioteca Municipal Maria Margarida Liguori, no centro da cidade.

“Temos feiras de livros a preços populares, todos os anos, em abril e outubro, com uma oferta bem variada de gêneros, para todas as idades, como essa que está montada agora na praça Getúlio Vargas”, reiterou Márcia.

Se descobrindo através da leitura

Foi na década de 1970, que Márcia, adolescente, começou a se aproximar da literatura, em uma feira de livros na Praça Getúlio Vargas, no momento reeditada neste mesmo lugar. “Ali, eu, uma menina, comecei a amar os livros. Conheci o seu Giovanni Cassano, dono de uma livraria, e fui trabalhar com ele. Depois, segui nessa área, de degrau em degrau, e, chamada pela livreira Graça Simões fui trabalhar na loja dela, a inesquecível Livraria Simões, na Farinha Filho. Foi a Graça que me incentivou, orientou, me encaminhou para cursos e bienais, e me levou a descobrir o que queria fazer da minha vida: trabalhar com livros”, conta.

Principalmente, levar crianças e jovens a sentirem o mesmo que ela sentiu em seu primeiro contato com a literatura. “Despertar nas crianças o gosto pelos livros passou a ser minha missão. E, até hoje, nada me deixa mais feliz do que ver um aluno com um livro nas mãos”, completa.

Ela tinha 14 anos quando seu pai, João, que era analfabeto, a levou trabalhar nessa feira de livros, para ganhar um ‘dinheirinho’. “O gerente da feira só me aceitou porque meu pai se responsabilizou por mim. Eu estudava no Colégio Modelo pela manhã e à tarde ia pra feira. No fim do dia, voltava para casa com meu pai. Olha como as coisas acontecem: o seu Giovanni comprava livros nessa feira para vender na loja dele. Depois, era eu que ia na Papelaria Simões comprar ou encomendar livros com a Graça para o Giovanni. Daí, quando a livraria dele fechou, fui trabalhar na Simões”, relaciona.

Márcia lembra até hoje a data que considera marcante em sua vida: 21 de agosto de 1980, seu primeiro dia na Livraria Simões. “Foi lá, onde fiquei por 16 anos, que me decidi pela carreira de bibliotecária. Fiz cursos, me formei. Acredito que tudo que sou e tenho hoje, devo à Graça. Assim se fechou um ciclo de aprendizagem que começou quando eu tinha 14 anos. Vinte anos depois, então preparada e com um razoável conhecimento de literatura e consciência crítica formada, cheguei à secretaria de Educação, onde estou há 26 anos”.  

A conquista de uma biblioteca sobre rodas

Em contato direto e permanente com os professores para debater o trabalho de leitura de livros, Márcia defende que não basta botar um livro na mão da criança. “Há alunos que precisam ser incentivados a ler. Daí a importância do contador de história, da capacidade desse profissional despertar o interesse do aluno.

“A nossa Biblioteca Móvel, por exemplo, é um projeto antigo, de 2006, quando a professora Beatriz Abicalil era a secretária de Educação. Eu, o Dalmo (Latini) e a Neide Maduro, muitas vezes íamos de ônibus às escolas carregando livros numa caixa. Eu contava histórias, o Dalmo encenava números musicais e a Neide Maduro levava material para fazer o TV Escola. Às vezes, a Beatriz conseguia um carro para nos levar à zona rural. Um dia, ela sugeriu um projeto com uma kombi, para nos livrar dos ônibus e de agendamento de carros. Até que a prefeitura comprou o ônibus para ser a nossa biblioteca itinerante, com verba do Fundeb. Uma linda surpresa! Começamos a montar o acervo e hoje o ônibus conta com 2.000 livros”, revela, orgulhosa do trabalho que vem desenvolvendo, juntamente com toda a equipe de professores e funcionários da Educação.   

Ainda é pouco

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura, realizada em 2018, 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. Mesmo assim, o panorama melhorou. Há um pouco mais de leitores no Brasil, hoje. Se em 2011 eles representavam 50% da população, em 2015 passaram para 56%. Mas ainda é pouco. O índice de leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria.

Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano. Os dados integram a 4ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, entidade mantida pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros). A pesquisa ouviu 5.012 pessoas, alfabetizadas ou não, mesma amostra da pesquisa passada. Isso representa, segundo o Ibope, 93% da população brasileira. (fonte: blog BurnBook, via cultura.estadao).

 

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