Longa estiagem arrasa lavouras em Nova Friburgo

No lugar da esperada colheita, perda total. Sem chuvas fortes há quase três meses e com os rios e poços secando, agricultores friburguenses já perderam dezenas de milhares de reais
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
por Karine Knust
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

O agricultor Claudenir de Queiroz Ferreira, de 52 anos, mostrava o que restou de sua lavoura, no alto da localidade de Buracada dos Gomes, em Conquista, a agentes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), quando nossa equipe se aproximou. Ele é um dos poucos produtores da região que possuem contrato de financiamento de atividades e serviços rurais, oferecido pelo governo federal, e por isso, tentava conseguir a verba do seguro para minimizar o transtorno causado pelas secas.

Sem chuvas fortes há quase três meses e com os rios e poços secando, Claudenir já perdeu 20 mil pés de brócolis, o que contabiliza, pelo menos, R$ 40 mil de prejuízo. Ele conta que no ano passado chegou a ter perdas grandes, mas este ano a seca tem assustado mais. “O riacho que ajuda a abastecer a região e irriga a lavoura simplesmente secou, com isso a barragem que fizemos para puxar a água com a bomba também está quase vazia. No ano passado também foi muito complicado, mas se continuar assim vamos acabar perdendo tudo. São quatro famílias que trabalham em parceria nessa lavoura, não sabemos como vamos nos sustentar. É muito triste ver tudo indo embora”, diz o agricultor.

Há alguns metros dali, o agricultor e vice-presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Florândia da Serra, Renato Cordeiro de Araújo, de 32 anos, nos mostra mais estragos ocasionados pela estiagem. Em outra lavoura na parte baixa da localidade e próxima a outro rio, os prejuízos também são grandes e impressionam. Os pés de couve-flor, por exemplo, estão completamente minguados e a maioria deles chega a ser bem menor do que a palma da mão. “Só nessa plantação a perda já chega aos oito mil pés, mais de R$ 18 mil, e nós não temos nem seguro para tentar recorrer. No nosso caso é só Deus mesmo”, afirma Renato.

Para tentar minimizar os problemas trazidos pela estiagem, Márcio Pereira de Souza, de 30 anos, construiu com a ajuda de outros agricultores da região alguns reservatórios de água. No entanto, todos já estão praticamente vazios. “O que temos aqui não vai durar muitos dias. Algumas casas têm poço artesiano, mas o que assusta é que até alguns desses poços, que têm de 15 a 20 metros de profundidade e mais de dez anos de existência, e mesmo assim secaram”, revela ele, e ainda desabafa: “A minha plantação de brócolis foi toda perdida. Ainda tenho alimentos na estufa esperando para a plantação, mas também corro o risco de perder porque, com esse calor, o tempo máximo para eles ficarem na estufa é de dois meses e meio, mas estão lá há mais de três. Confesso que já pensei em desistir e cheguei a procurar emprego pela cidade, mas isso é a única coisa que sei fazer”.

De acordo com Renato, a localidade de Buracada dos Gomes tem cerca de 40 famílias ligadas ao trabalho agrícola e essa não é a única região que tem sofrido com a estiagem, garante ele: “Conhecemos produtores de várias localidades e todos têm reclamado da mesma coisa. Não tem jeito, se falta água, falta tudo. Alguns vereadores têm nos atendido. Agradecemos o apoio, mas também temos consciência que não basta força de vontade. A Secretaria de Agricultura não tem condições de atender tantas localidades ao mesmo tempo, não há caminhões-pipa suficientes. Será uma solução paliativa, porque o que precisamos mesmo é de chuva”.
    
Tempo deve continuar seco nos próximos dias

 No fim da tarde desta última quinta-feira, 22, uma chuva moderada chegou a cair em alguns pontos da cidade e trouxe esperança para a população. No entanto, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, apesar de algumas pancadas de chuva previstas, o tempo ainda deve permanecer seco, pelo menos até terça-feira, 27. Com isso, infelizmente, os efeitos da estiagem parecem estar longe de serem resolvidos. De acordo com a Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária, só nos primeiros meses deste ano cerca de 15% da safra foi perdida, cerca de R$ 375 milhões. Conforme a pasta, os prejuízos causados pela seca neste segundo semestre ainda estão sendo levantados.

De acordo com a concessionária Águas de Nova Friburgo, empresa responsável pelo abastecimento de água no município, a cidade enfrenta a pior seca dos últimos oito anos. Para se ter uma ideia, a adutora de  Debossan, por exemplo, que responde por 26% do abastecimento do município, enfrenta uma redução de disponibilidade de água de 25%.

Essa realidade chega a impactar cerca de 9,5% dos clientes. No entanto, ainda segundo a concessionária, “se a estiagem se prolongar por muito tempo, poderá haver maiores dificuldades para abastecer a população e uma maior sazonalidade no abastecimento das áreas já atingidas, principalmente nas cotas mais altas, além da necessidade de manobras em áreas que hoje têm abastecimento direto. A concessionária está realizando obras emergenciais para ampliar a capacidade de reforço dos sistemas menores e mais vulneráveis, utilizando água do Sistema Rio Grande (principal manancial do município) e modelo computacional para suporte às decisões operacionais”.

Água restrita

A estiagem deste ano não tem afetado somente os municípios da Região Serrana. O caso de seca em todo o estado é tão sério que em Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, por exemplo, a prefeitura instituiu, no último dia 16, estado de emergência hídrica. Devido ao decreto divulgado em boletim oficial, fica proibida a lavagem pública ou particular de veículos, barcos, lanchas, calçadas, frente de imóveis, ruas, quintais, telhados, paredes, calhas, garagens e outras situações que elevem o consumo. A situação por lá é tão precária que o prefeito também chegou a proibir que a população regue jardins e plantas. A proibição terá vigência pelo prazo de 120 dias, que podem ser prorrogáveis se houver necessidade. E para quem ousar descumprir a ordem, a punição pode chegar a multa e até abastecimento cortado.

  • Reservatório construído por Márcio e agricultores vizinhos chega a nível mínimo (Foto: Henrique Pinheiro)

    Reservatório construído por Márcio e agricultores vizinhos chega a nível mínimo (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Os agricultores Claudenir e Renato mostram os estragos causados pela estiagem (Foto: Henrique Pinheiro)

    Os agricultores Claudenir e Renato mostram os estragos causados pela estiagem (Foto: Henrique Pinheiro)

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