Ipea: Friburgo é terceira cidade menos violenta do estado

Município só perde para Petrópolis e Teresópolis, também com mais de 100 mil habitantes, constata Atlas da Violência
terça-feira, 13 de agosto de 2019
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Ipea: Friburgo é terceira cidade menos violenta do estado

Nova Friburgo teve a terceira menor taxa de homicídios entre as cidades do estado do Rio com mais de 100 mil habitantes em 2017, aponta o Atlas da Violência - Retrato dos Municípios Brasileiros 2019, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última semana. O dado revela que o município era um dos mais tranquilos do Rio de Janeiro em 2017. 

De acordo com o estudo, a cidade registrou naquele ano 15 assassinatos e 17 mortes violentas sem causa determinada, o que gerou uma taxa de homicídios de 17,1 em 2017. Entre os 27 municípios fluminenses com mais de 100 mil habitantes, Friburgo ficou em 25º lugar entre os mais violentas, atrás de Teresópolis, que teve índice de 16,9, e Petrópolis, município com o maior número de habitantes da Região Serrana, mas que registrou a menor taxa de homicídio do estado: 13,9.  

A cidade mais violenta do Rio, conforme o Atlas, foi Queimados, na Baixada Fluminense, com índice de assassinatos de 115,6 naquele ano. Em seguida, vem Nilópolis (69), Itaguaí (68,4), Magé (66,5) e Japeri (65), Duque de Caxias (62,9), Nova Iguaçu (60,9), todas na Baixada Fluminense; Itaboraí (59,7), na Região Metropolitana; Araruama (59,6), na Região dos Lagos; e Angra dos Reis (59,4), na Costa Verde. A taxa de homicídio na capital foi de 35,6 em 2017. 

De acordo com o coordenador do estudo, o pesquisador Daniel Cerqueira, além dos problemas históricos de violência no estado, que envolvem as disputas por territórios entre as três facções criminosas cariocas - Comando Vermelho, Amigos dos Amigos (ADA) e o Terceiro Comando Puro (TCP) -, nos últimos anos aumentou muito a presença das milícias, não apenas na capital, mas também em muitas cidades do interior. 

“A guerra entre grupos de milicianos e narcotraficantes, bem como entre esses últimos, têm contribuído para aumentar o número de mortes não apenas na região metropolitana, mas em todo o estado. O governo estadual, por sua vez, por meio da sua política de segurança baseada na brutalidade e nos enfrentamentos letais, tem contribuído crescentemente para o aumento das taxas de letalidade: no primeiro semestre de 2019, a polícia foi responsável por 38% das mortes na Região Metropolitana”, afirmou pesquisador.

O Ipea analisou dados de 310 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes em 2017 e fez um recorte regionalizado da violência no país. O Atlas da Violência, elaborado em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que houve um crescimento das mortes nas regiões Norte e Nordeste influenciado, principalmente, pela guerra do narcotráfico, a rota do fluxo das drogas e o mercado ilícito de madeira e mogno nas zonas rurais. O estudo identifica uma heterogeneidade na prevalência da violência letal nos municípios e revela que há diferenças enormes entre as condições de desenvolvimento humano nos municípios mais e menos violentos.

Campeões da violência estão no nordeste fluminense

O município mais violento do Brasil, com mais de 100 mil habitantes, foi Maracanaú, no Ceará. Em segundo lugar estava Altamira, no Pará, seguida de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Dos 20 mais violentos, 18 estão no Norte e Nordeste do país. Segundo Daniel Cerqueira, os municípios mais violentos têm 15 vezes mais homicídios relativamente que os menos violentos. 

“Em termos proporcionais, a diferença entre os municípios mais e menos violentos corresponde à diferença entre taxas do Brasil e da Europa”, compara. Nos municípios mais violentos, o perfil socioeconômico é mais parecido com os países latino-americanos ou africanos: as pessoas, em geral, não têm acesso à educação, desenvolvimento infantil e mercado de trabalho.

Apesar do aumento da violência em algumas regiões, o estudo do Ipea identificou também que 15 estados tiveram redução no índice de criminalidade entre 2016 e 2017. O levantamento apontou que, entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Jaú é a cidade menos violenta, seguida de Indaiatuba e Valinhos, todas em São Paulo. No ranking dos 20 municípios menos violentos, 14 são paulistas. Nas cidades menos violentas, os indicadores de desenvolvimento humano são mais parecidos com os países desenvolvidos.

Alguns dados surpreenderam os pesquisadores. Apesar de Santa Catarina ser um dos estados mais pacíficos, a taxa de homicídios em Florianópolis aumentou 70%, de 2016 para 2017. Por outro lado, houve diminuição das mortes em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde há uma boa organização policial e a solução de homicídios é maior do que no resto do país.

Os desafios no campo da segurança pública no Brasil são enormes, na avaliação do coordenador do estudo. “Há luz no final do túnel para dias com mais paz no Brasil e a luz passa por políticas focalizadas em territórios vulneráveis”, acredita Cerqueira. “Quando essas políticas são feitas e concatenadas com a política de qualificação do trabalho policial, com inteligência e boa investigação, se consegue, a curto prazo, diminuir os homicídios no país”, afirma.   

A solução, sugerida pelo estudo conjugaria três pilares fundamentais. Em primeiro lugar, o planejamento de ações intersetoriais, voltadas para a prevenção social e para o desenvolvimento infanto-juvenil, em famílias de situação de vulnerabilidade. Em segundo lugar, a qualificação do trabalho policial, com mais inteligência e investigação efetiva. Por fim, o reordenamento da política criminal e o saneamento do sistema de execução penal, de modo a garantir o controle dos cárceres pelo estado.

 

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