Homens quebram tabu e também gostam de moda

Cada vez mais abertos ao novo, eles estão mais vaidosos e preocupados com a aparência
segunda-feira, 24 de julho de 2017
por Karine Knust
O estilista Bruno Nova:
O estilista Bruno Nova: "O tabu de associar vaidade à falta de masculinidade é algo que o homem atual e inteligente já não faz"

Na última semana, foi celebrado o Dia do Homem no Brasil. Ainda muito tímida em relação a outras datas marcantes do calendário brasileiro, a comemoração visa conscientizar a sociedade sobre a necessidade masculina de dar atenção a cuidados com o corpo e saúde. A data foi instituída na década de noventa, e de lá para cá, o Ministério da Saúde já revelou que a conscientização tem gerado resultados. Apesar da busca muitas vezes tardia, os homens têm procurado ir mais ao médico.

Saudáveis ou não, uma coisa é fato: os homens estão mais vaidosos e preocupados com a aparência. Sim! Eles pesquisam tendências, vão às compras, fazem combinações de look. Não, isso não é “coisa de mulherzinha”! Uma pesquisa concluída no Brasil em 2016 e realizada pela Minds&Hearts com 414 homens entre 16 e 59 anos apontou mudanças na forma de agir e na maneira de se comunicar e consumir do homem contemporâneo.

Cada vez mais abertos ao novo, eles assumem que gostam sim de moda: 45% dos entrevistados afirmaram buscar informações sobre novidades e lançamentos. É o caso do empresário friburguense Bruno Milhorance, de 32 anos. “Sempre me preocupei com o que vestia, mas, agora, esse interesse aumentou. Não considero, na verdade, uma preocupação. Eu realmente gosto e me sinto bem em estar bem vestido e antenado com o que é tendência”.

A caça por referências

Quem pensa que se vestir bem ainda é sinônimo de terno, gravata e um par de sapatos sociais lustrosos à la Clark Gable está redondamente enganado. Para um executivo, a caminho do trabalho, até pode ser... Mas a nova definição de estilo masculino vai muito além. Assim como no universo feminino, para encontrar referências de looks cada vez mais cheios de opções, detalhes e acessórios, é preciso pesquisar.

De acordo com o estilista Bruno Nova, de 28 anos, as referências podem aparecer de muitas formas. “Acho que o primeiro contato com essa atmosfera da informação de moda se dá em grupos distintos. Alguns homens acatam ou até mesmo buscam dicas úteis - que, muitas vezes, vêm de mulheres que são próximas a ele, esposa ou namorada, por exemplo. Já outros buscam inspirar suas imagens em seus ídolos, o que é bastante recorrente. A internet também ajudou a difundir essa questão no meio masculino pela facilidade da busca de informações”, acredita.

Apesar de ter uma blogueira de moda em casa - a esposa Daniele - Bruno Milhorance assume que é a internet e os músicos que gosta que o influenciam na escolha do vestuário. “O bom e velho Google ajuda muito, dali eu pego referências e adapto ao meu estilo. Muita coisa também vem das bandas que eu curto. Além de gostar da música a gente acaba vendo o estilo dos caras”, afirma o empresário.

E engana-se quem acha que esse comportamento é característico de uma classe social específica. Ainda de acordo com a pesquisa da Minds&Hearts, dentre os entrevistados que afirmam que estão buscando informações sobre novidades, atualidades e lançamentos, os números estão muito próximos em todas as classes sociais. Dos homens entrevistados que se identificaram como pertencentes à classe A, 47% deles admitiram o maior cuidado com a aparência; na classe B, 45% deles têm essa preocupação e entre os homens da classe C, foram 44% dos entrevistados. Ou seja, não é preciso ser rico para ter estilo.

“Por incrível que pareça, não sou uma pessoa de comprar muitas roupas. Eu compro peças em ciclos e depois eu só vou repondo conforme a necessidade e encaixando com aquilo que eu já tenho. Acho que esse é o grande segredo: conseguir estar antenado sem precisar gastar muito. Para isso, a gente aprende a usar a criatividade e pesquisar bastante. Dinheiro não é sinônimo de estilo, às vezes, pessoas ricas não sabem se vestir. Isso é relativo”, afirma B. Milhorance.

Desconstruindo velhos conceitos

“Mais propenso ao furor do que à ternura”. Já foi época em que o homem precisava provar sua macheza com hostilidade. Não existe coisa mais fora de moda do que a crença de que homem macho é homem ogro. Isso tanto no trato com outros indivíduos quanto na aparência. Mas apesar de ser combatido diariamente, o preconceito ainda existe.

“O tabu existe sim. Mas muitos homens que zoam os outros por se cuidarem e se preocuparem com a aparência, na verdade, têm medo de assumir que fazem o mesmo. O que é uma grande bobagem. Os homens que se cuidam têm estilo próprio, personalidade, não se deixam influenciar pelo preconceito e entendem que o importante é se sentir bem”, acredita Bruno Milhorance.

Para o estilista Bruno Nova, a questão vai muito além do estilo. “A desconstrução daquele velho conceito de que o homem não cuida da imagem e beleza foi o que abriu caminho para que a moda fosse enxergada de uma forma mais ampla e utilizada de modo mais prático. O homem moderno vê que a moda e estilo podem ajudá-lo a se posicionar em um determinado meio e entende a importância de melhor se apresentar em determinadas situações. O tabu de associar vaidade à falta de masculinidade é algo que o homem atual e inteligente já não faz mais questão de colocar em discussão, ele sabe que uma coisa independe da outra.  Em outras palavras, a masculinidade do sujeito precisa estar muito frágil para que ele ache que o estilo vai interferir nessa questão”, aponta Nova.

A curiosa saga da vaidade masculina

As mudanças no estilo e na relação entre a vaidade e a masculinidade estão longe de serem uma questão da era moderna. De acordo com historiadores, a saga sobre a aparência do homem está diretamente ligada aos padrões vigentes de cada época.

Na Grécia antiga, por exemplo, o atletismo era o caminho para a perfeição física e mental, um atalho para a divindade. Para os gregos, o bom cidadão da polis tinha de ser “kalós kai agathós”, dito de outro modo, belo e virtuoso.

No Egito, os nobres do passado se depilavam para remover as impurezas e assim ficarem mais perto dos deuses. Controlavam o peso por meio de dietas com frutas e verduras, usavam máscaras faciais e óleos para tratar e perfumar a pele. Luis XIV, o Rei Sol, governou de salto alto, corando o rosto com blush e usando peruca. Para ele e seus contemporâneos, o poder estava ligado à imponência estética.

Quase tudo que atualmente poderia ser visto como frescura ou caprichos de "mulherzinha" já foi feito por homens admirados por outros homens. Líderes, sacerdotes, guerreiros, artistas, reis. No entanto, no século XIX, a vaidade masculina voltou para o armário. A revolução industrial e o racionalismo colocam os homens como uma figura cartesiana e desprendida da estética. A identidade masculina dessa época se constrói negando tudo aquilo percebido como feminino.

Já após a metade do século XX, outra mudança. A preocupação com a aparência volta à cena, desta vez, para ostentar virilidade. Atualmente, eles se cuidam porque gostam e ninguém tem nada a ver com isso.

Moda na rede: os blogs voltados ao público masculino

 Assim como no universo feminino, a internet está repleta de blogs voltados ao público masculino. Listamos os cinco principais blogs ranqueados pelo Google com a expressão “blog moda masculina”. Confira:

 

Macho Moda

Endereço: www.machomoda.com.br

Curtidas no Facebook: 123 mil

 

Moda Sem Censura

Endereço: www.modasemcensura.com

Curtidas no Facebook: 66 mil

 

Blog do Kadu

Endereço: www.blogdokadu.com

Curtidas no Facebook: 23 mil

 

Moda para Homens

Endereço: www.modaparahomens.com.br

Curtidas no Facebook: 210 mil

 

O Cara Fashion

Endereço: www.ocarafashion.com

Curtidas no Facebook: 33 mil

 

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TAGS: estilo | moda
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