A história do vinho “bebível” mais antigo do planeta

Passados mais de 500 anos vinho ainda repousa nas caves históricas de hospital em Strasbourg
sábado, 09 de novembro de 2019
por (Por Arnaldo Grizzo)
A história do vinho “bebível” mais antigo do planeta
A adega do Hospital de Strasbourg, que contém o que é considerado o vinho “passível de ser consumido” mais antigo do mundo, foi construída em 1395, quando a instituição teve que ser transferida para fora da cidade de Strasbourg, na França. 

“É um mistério enológico. O vinho tem muita estrutura e permanece ácido apesar dos séculos”

Enóloga Pelagie Hertzog

Na época, os monges ofereciam abrigo aos pobres, peregrinos e doentes, e os pacientes costumavam “pagar” pelos serviços com doações de terras, muitas delas, com vinhedos, ou então de colheitas de todos os tipos, de cereais a uvas. 

Ao se tornar dono de diversas terras, precisou criar meios de estocar os mantimentos e, obviamente, vinificar as uvas que recebia. Vale lembrar que, durante a Idade Média, o vinho muitas vezes era ministrado como parte do tratamento dos doentes. Aliás, diz-se que os pacientes do hospital de Strasbourg recebiam cerca de dois litros por dia. Isso sem falar do uso do vinho nos trabalhos religiosos.

A adega abriga três barricas muito antigas dentre as cerca de 50 peças em uma área de 1.200 metros quadrados. Desses, três estão datados como sendo de 1472, 1519 e 1525. Dentro do primeiro, com capacidade para 300 litros, repousa um vinho branco seco, atestado como apto para ser bebido, na última vez em que foi analisado, em 1994.

Na época, enólogos do laboratório interregional da Direction Générale de la Concurrence, de Strasbourg, realizaram um exame e o veredicto foi: “O vinho tem uma cor bonita, brilhante, muito âmbar, um nariz poderoso, muito fino, muito complexo, com aromas reminiscentes de baunilha, mel, cera, cânfora, especiarias finas, avelã e licor de frutas...”

A enóloga Pelagie Hertzog, sintetizou: “É um mistério enológico. O vinho tem muita estrutura e permanece ácido apesar dos séculos”. 

De sobrevivente a fonte de renda

Poucos sabem o que esse vinho sofreu ao longo dos séculos (apesar de todas as tecnologias disponíveis, ele sequer teve contato com o ar), e desconhece as crises que superou.

Uma das mais graves foi o incêndio de 1716 que assolou todo o hospital. A adega subterrânea com seu teto de tijolos abobadados, porém, milagrosamente permaneceu intacta. Algumas décadas mais tarde, eclodiu a Revolução Francesa. As terras da igreja foram expropriadas e o local perdeu grande parte de seus vinhedos. Mas, os vinhos da adega, mais uma vez, sobreviveram.

Com menos terras para cultivar e com foco na parte médica – que foi paulatinamente deixando de receitar vinho como remédio –, o hospital também foi deixando de lado a adega. E ainda se sucederam diversos conflitos, especialmente as duas guerras mundiais. 

Até que, em 1994, já totalmente sem vinhedos, a adega foi abandonada. Os barris de madeira degradaram-se rapidamente, com os menores começando a apodrecer, e os maiores secando. Devido à falta de resultados e sem perspectiva de desenvolvimento, a adega estava condenada. Assim como o vinho. 

Porém, uma nova política de gestão do hospital procurou restaurar o legado vínico do local, transformando-o em um museu, abrindo espaço para visitações e venda de vinhos que voltaram a ser produzidos lá. Atualmente, a adega é uma fonte de renda para o hospital.

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