“Friburgo ainda pode ser considerada uma cidade pacata”

Em entrevista, Marcello Braga Maia fala sobre os primeiros dias à frente da delegacia de Nova Friburgo
sexta-feira, 05 de maio de 2017
por Alerrandre Barros
Marcello Braga Maia assumiu o posto, em fevereiro, na 151ªDP (Foto: Henrique Pinheiro)
Marcello Braga Maia assumiu o posto, em fevereiro, na 151ªDP (Foto: Henrique Pinheiro)

Desde que assumiu o posto como delegado titular na 151ª DP, Marcello Braga Maia, de 44 anos, vem buscando estreitar laços com os 42 policiais civis que estão sob seu comando. Experiente, há 15 anos é delegado da corporação, bem avaliado pela equipe, e tem cobrado resultados, especialmente sobre os casos mais graves e de maior repercussão em Nova Friburgo.

Antes de vir para a cidade, no dia 20 de fevereiro, comandava a delegacia Miguel Pereira, no Centro-Sul fluminense, e já foi responsável por outras sete delegacias no interior do estado, além de duas especializadas em casos sobre crianças, adolescentes e idosos. Também trabalhou em DPs na capital e na Região Metropolitana. Natural de Niterói e formado em direito pela Universidade Cândido Mendes, Marcello é acessível, mas reservado, e optou por responder as perguntas de A VOZ DA SERRA por e-mail.

A VOZ DA SERRA: Em meio à crise no estado, como está a estrutura da 151ªDP hoje: atendimento ao público; limpeza; manutenção de viaturas e demais recursos para execução dos serviços internos e externos?
Marcello:
A estrutura da 151ªDP, se comparada com outras, pode ser considerada boa. Temos 42 policiais distribuídos por vários setores. Os policiais são de excelente qualidade. A equipe mescla a vontade dos mais jovens com a experiência dos mais antigos, sendo importante mencionar que a grande maioria é da cidade, o que muitas vezes facilita as investigações.

Com o objetivo de não permitir qualquer interrupção na prestação de seus serviços, a Polícia Civil criou em âmbito estadual o projeto “Junto com a Polícia”, que procura viabilizar o envolvimento do setor privado na questão da segurança pública, através da contribuição para a manutenção dos serviços dos órgãos de execução, neste caso, a Polícia Civil.O programa busca promover a aproximação entre setores públicos e privados, permitindo que empresas contribuam com manutenção de bens e serviços indispensáveis ao bom funcionamento da unidade. A contribuição pode se dar através da doação de bens e equipamentos, fornecimentos de serviços, contratação de terceiros ou execução de obras e serviços.

Ciente de que também o setor privado é atingido por um cenário econômico nacional desfavorável e considerando a grande demanda por bens e serviços necessários, a polícia procurou, em primeiro lugar, estabelecer prioridades, ou seja, definir quais bens/serviços afetariam de forma mais imediata a prestação de serviços à sociedade.

Estamos buscando a implementação deste programa. Já conversamos com a Prefeitura de Nova Friburgo, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), dentre outros, para suprir nossas necessidades, devendo-se mencionar ainda que o Juizado Especial, através das transações penais, também já vem contribuindo com isso.

Sem pagamento do extra, o Regime Adicional de Serviço (RAS), e de premiações por produtividade aos policiais pelo estado, como está sendo gerir a delegacia? Você acredita que a motivação dos agentes foi afetada?

É lógico que se os policiais estivessem com os salários em dia tudo seria mais fácil. Mas o que venho observando nos servidores da unidade é um profissionalismo inestimável, sobretudo em se chegar às autorias dos crimes mais graves e de repercussão social, buscando sempre preservar a sensação de segurança digna da convivência social. Todos se ajudam, isso é espetacular! A motivação dos policiais, muitas vezes, está atrelada à satisfação pessoal de conseguir encerrar um caso com êxito, com uma prisão de repercussão, com o agradecimento da população.

Em comparação com outras cidades do interior, a delegacia de Nova Friburgo tem uma quantidade de ocorrências maior. O número de servidores é suficiente?

Como disse anteriormente, na 151ªDP todos se ajudam. Certamente a necessidade de mais policiais existe, mas buscamos colocar cada servidor no setor que mais pode produzir e trazer benefícios para a investigação, e, principalmente, para dar mais qualidade ao atendimento ao público. Para que tivéssemos o quadro completo, precisaríamos de mais quatro delegados e de, pelo menos, mais dez inspetores.

Quanto tempo, em média, os custodiados ficam na delegacia até serem transferidos para presídios? Qual a capacidade da sala de custódia? Os presos recebem alimentação? A crise afetou o tratamento deles de alguma maneira?

Não deixamos passar mais de três dias, tudo depende do número de presos nas celas. Caso estejam cheias em um dia, no dia seguinte providenciamos o transporte. Temos duas salas de custódia com capacidade para cinco pessoas.

Antes tínhamos um cartão fornecido pelo estado para a concessão da alimentação dos presos. Com a crise econômica, os créditos terminaram e pedimos para que as famílias tragam os alimentos. Isso toma o tempo do policial, que também tem que atender aos familiares dos detidos e ainda vistoriar os alimentos.

A 151ª DP tem um página no Facebook (facebook.com/151DP) e um número no aplicativo de mensagens WhatsApp (22) 98119-9711. As denúncias têm aumentado com a adoção dessas novas ferramentas?

As denúncias aumentam proporcionalmente à credibilidade que a sociedade passa a ter na Polícia Civil, com os crimes sendo desvendados, com a ida ao local pelo policial para verificar o teor da denúncia apócrifa [suspeita]. Se a polícia não dá importância, a população para de fornecer informações e, definitivamente, não há uma boa e competente polícia se ela for desprovida de informações por parte dos cidadãos. Como frisado no artigo 144 de nossa Constituição Federal, “a segurança pública é responsabilidade de todos”.

Qual sua avaliação da demanda de ocorrências e inquéritos em Nova Friburgo, em comparação com as outras delegacias onde atuou?

Primeiramente, é bom que se diga que Friburgo ainda pode ser considerada uma cidade pacata e sossegada, em comparação com outras da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A delegacia recebe muitas notícias de infrações penais, uma média de 20 registros diários, mas muitas desprovidas de violência ou grave ameaça à pessoa. A imensa maioria diz respeito a infrações de menor potencial ofensivo que são direcionadas ao Juizado Especial Criminal.

Nós buscamos sempre priorizar as investigações de homicídio, de crimes violentos, como o roubo, latrocínio [roubo seguido de morte], a extorsão, estupro, dentre outros, além do tráfico de drogas, não nos esquecendo dos furtos de residência, comércio e escolas. É bom que se diga que Friburgo bateu nesse primeiro trimestre todos os índices e metas estabelecidos pela Secretaria Estadual de Segurança Pública. Os índices estabelecidos para os casos de letalidade violenta [que contabiliza homicídio doloso, homicídio em confronto com a PM, latrocínio, lesão corporal seguida de morte], roubo de veículo e roubo de rua foram batidos e as polícias civil e militar devem ser parabenizadas.

Cada cidade e delegacia que trabalhei tem sua especificidade. As delegacias mais sensíveis são as especializadas. Na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), as investigações eram voltadas para o combate aos crimes relacionados à pedofilia e aos estupros de crianças e adolescentes. Lá, aumentamos em quase 300% o número de prisões realizadas. Durante minha gestão, ajudei a criar o Centro de Atendimento ao Adolescente e à Criança (Caac), que funciona no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio. Em um ambiente apropriado e psicologicamente favorável o jovem, vítima de violência sexual, é atendido por profissionais habilitados e multidisciplinares. A vítima tem atendimento médico, lá mesmo faz o exame de corpo de delito com legista especializado e é entrevistado por policiais preparados e qualificados, onde aplicando-se a técnica da entrevista investigativa, consegue-se fazer com que a vítima conte o que realmente ocorreu, tudo gravado e filmado. A mídia fica a disposição da Justiça e de outras instituições para ser analisada, evitando-se a revitimização da criança escutada, que não precisará ser novamente ouvida.

Na Delegacia de Homicídios da Zona Oeste, combatíamos os homicídios relacionados às milícias. Na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), combatíamos as grandes quadrilhas de roubos de automóveis. Na Delegacia Especial a Terceira Idade atuante em Delegacias e Distritos Policiais (DEAPTI), os crimes direcionados aos idosos.

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TAGS: entrevista | Segurança pública
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