Friburgo ainda não reaproveita resíduos têxteis como deveria

Trabalhos desenvolvidos com artesãos não são suficientes para reciclar todos os rejeitos produzidos na Capital da Moda Íntima
sábado, 18 de maio de 2019
por Paula Valviesse (paula@avozdaserra.com.br)
Descarte irregular de confecções em rua no Cônego (Arquivo AVS)
Descarte irregular de confecções em rua no Cônego (Arquivo AVS)

A sustentabilidade na indústria têxtil é um assunto que já vem sendo discutido e pesquisado há alguns anos, e, inclusive, tem sido um dos principais destaques das últimas edições da Fevest - a maior feira do setor de moda íntima, praia, fitness e matéria-prima. Do reaproveitamento de resíduos surgem boas oportunidades de negócios, com aplicações não só na moda sustentável, mas também na construção, com as chamadas madeiras plásticas, e na produção de mobiliário urbano, entre tantas outras. Mas em Nova Friburgo, cidade que é um dos principais polos de moda íntima do estado do Rio, existe a oportunidade, mas faltam empresas interessadas.

Criado em 2015 pela Assessoria de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o “Protocolo de Gestão Responsável de Resíduos da Indústria da Confecção” serve como guia para as empresas locais quanto aos seus processos produtivos e também a geração de resíduos. A intenção da publicação é de que as empresas tenham maior conhecimento da legislação e também viabilizem ações mais sustentáveis em seus processos, desde a criação até o descarte.

O relatório traz informações referentes ao ano anterior à sua publicação, quando foi estimada pela Empresa Brasileira de Meio Ambiente (EBMA), a geração de mais de 56 mil toneladas de resíduos domésticos. Naquele ano, os resíduos têxteis ainda eram recolhidos pela empresa, que é responsável pela coleta e tratamento do lixo em Nova Friburgo, mas atualmente, conforme estabelecido em lei, as confecções precisam fazer o descarte dos próprios materiais, o que normalmente é realizado por empresas terceirizadas especializadas nesse serviço.

Hoje em dia, segundo a diretora do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), Neuciléia Layola Porto, entre 20% e 25% do que é consumido pela indústria de confecções viram resíduos. Considerando que só o polo friburguense de lingerie tem registradas 1.320 confecções, o volume gerado é muito grande.

“As empresas se preocupam em fazer o descarte correto do resíduo e as maiores terceirizam o descarte. Mas não há interesse por parte do setor em também atuar na área de reaproveitamento. Isso porque é necessário juntar uma grande quantidade de materiais para ter um projeto e quando o material vira resíduo ele perde muito o valor, não compensando o investimento. São duas frentes de atuação muito diferentes, são negócios diferentes”, explica Neuciléia.

Artesanato recebe apoio, mas uso é irrisório

Quanto à reciclagem, a diretora do Sindvest informa ainda que muitas confecções disponibilizam uma parte dos resíduos têxteis para a fabricação de artesanato e também para o reaproveitamento por empresas menores, mas o valor absoluto das sobras é muito grande em comparação ao que pode ser absorvido nessas ações.

Para ela, uma solução seria uma empresa privada se interessar pelo setor e investir: “Tivemos algumas conversas com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente sobre a possibilidade de uma locação para reunir todo o resíduo gerado pelas empresas locais e, com isso, iniciar um projeto de reaproveitamento, cujo produto final poderia ser usado em prol da cidade: madeira para obras, mobiliário, mas ainda é um longo caminho a percorrer. O investimento inicial, na fabricação desse plástico ecológico, por exemplo, é alto. Talvez, o ideal seja uma empresa privada reconhecer essa oportunidade e entrar nesse mercado”, observa Neuciléia.

O que diz a prefeitura

Questionada sobre ações de reaproveitamento de resíduos têxteis, a prefeitura de Nova Friburgo afirmou  que os resíduos de confecções não devem ser descartados junto com o lixo doméstico. “A Prefeitura de Nova Friburgo informa que as confecções licenciadas para o serviço precisam comprovar o destino adequado dos resíduos de produção, que é, inclusive, uma determinação para a liberação do licenciamento, mas as empresas informais não têm preocupação em cumprir a lei, uma das dificuldades enfrentadas atualmente. A Secretaria de Meio Ambiente informa que está de portas abertas para orientar e atender a todas as empresas que precisam se licenciar e ainda lembra que realizar o descarte irregular de restos de produção é considerado crime ambiental e o indivíduo que for flagrado nesta situação será multado e detido”, informou em nota.

Sebrae indica projeto da Uerj

Perguntado sobre projetos desenvolvidos junto às empresas ou por parceiros, o Sebrae indicou a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que por meio do Laboratório de Sustentabilidade e Química de Polímeros (LaSQPol), desenvolve uma linha de pesquisa em reciclagem de resíduos têxteis.

“O laboratório atua no desenvolvimento da tecnologia de reciclagem de retalhos de poliamida e poliéster. Utiliza o material reciclado na confecção de acessórios da moda íntima, como barbatanas e cabides. Nosso projeto mais recente é o desenvolvimento de solados com o reciclado têxtil. Também estão desenvolvendo a reutilização dos retalhos, sintéticos ou naturais, para confecção de peças artesanais”, explica Ana Moreira, uma das responsável pelo projeto.

 

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