Especial professores: A paciência como vocação

Com quase 100 anos, dona Brigitte Schlupp rememora os tempos do Cêfel
sábado, 14 de outubro de 2017
por Alerrandre Barros
Dona Brigitte fala com a voz empostada de quem já falou para muitos alunos em sala de aula (Foto: Alerrandre Barros)
Dona Brigitte fala com a voz empostada de quem já falou para muitos alunos em sala de aula (Foto: Alerrandre Barros)

Na varanda do apartamento na Rua Farinha Filho, dona Brigitte Schlupp dá voltas entre as plantas e toma sol num dia de céu azul. Não sabia que tinha entrevista, mas entrou na sala de estar, sentou-se numa poltrona confortável, colocou dois aparelhos auditivos e tentou puxar na memória histórias da época em que deu aulas de inglês no Cêfel.

“Eu tinha um caderno de vocabulário. Era muito diferente o ensino aqui e em Cambridge (na Inglaterra, onde passou alguns dias fazendo curso de aprimoramento). Hoje também é diferente o ensino do inglês”, disse ela, tentando lembrar de 1960, quando dividiu a função de professora com a de secretária na escola gerida pelo marido, o pastor luterano Schlupp.

Com quase 100 anos, a ex-professora enfrenta problemas típicos da idade avançada, dificuldades para ouvir, ver e caminhar, mas tem a voz empostada de quem já falou para muitos alunos em sala de aula. A memória às vezes falha, mas, com a ajuda da nora Regina, ela rememorou uma curiosidade.

“Uma vez a fábrica de rendas Arp emprestou para a gente uma calculadora Facit para calcularmos as médias dos alunos na escola. A máquina fazia contas à manivela. Eram muitos números e facilitou muito a nossa vida. Antes, saíamos zonzas do colégio de tanto fazer conta”, contou às gargalhadas.

Quando sai de casa para comprar pão ou para comer no Da Terra, costuma encontrar ex-alunos, inclusive dos tempos em que passou lecionando o idioma no antigo Colégio Nossa Senhora das Graças, em Olaria. Ela diz que não se lembra do nome de quase ninguém, mas, quando vê a pessoa, o nome surge na memória.

“Eu escuto que alunos agridem professores. Isso na minha época não existia. Havia respeito. Os pais ensinavam os filhos a respeitar o professor”, comentou Brigitte, que naquela época saía de madrugada para subir a Catarina e o Caledônia com os alunos para ver o sol nascer.

Ao ser perguntada se tem saudades daquele tempo e que conselho daria a um jovem professor, disse: “Tenho saudades de muitas coisas. Nós, velhos, temos saudades de muitas coisas. Já o professor precisa ter paciência. É uma carreira que requer vocação”.  

Nascida na Alemanha, Brigitte veio para o Brasil ao 4 anos, na década de 1920. Morou com a família na Bahia, mas logo se mudou para o Rio, onde viveu a adolescência. Casou-se e veio morar em Friburgo. Em 1949, o pastor Schlupp adquiriu o Colégio Cêfel, fundado anteriormente como Cooperativa Educacional Friburguense Evangélica Ltda e gerido por presbiterianos e metodistas.

O colégio se tornou um dos maiores estabelecimentos educacionais da cidade, ao lado dos católicos Anchieta e Nossa Senhora das Dores. Do jardim de infância ao primário/ginasial (atual ensino fundamental) e científico (ensino médio), passando pelos cursos de formação de professores e secretários escolares, o colégio formou milhares de alunos e hoje segue oferecendo o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), no Paissandu.

 

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