Escolas de samba friburguenses dão show na avenida

Alunão, Imperatriz, Saudade e Vilage desfilam enredos criativos e empolgam na Alberto Braune
segunda-feira, 04 de março de 2019
por Vinicius Gastin
Luxo: carro alegórico da Vilage mostra o esplendor do carnaval friburguense (Fotos: Daniel Marcus e Leonardo Velozo/ PMNF)
Luxo: carro alegórico da Vilage mostra o esplendor do carnaval friburguense (Fotos: Daniel Marcus e Leonardo Velozo/ PMNF)

Nas raízes da Alunos do Samba, o surgimento da folia no município

 Na Avenida Alberto Braune, a escola mais antiga de Nova Friburgo e do interior do Estado, contando parte da própria história, e por consequência um pouco do surgimento da folia no município. Com o enredo “Eu sou Alfa e Ômega. O início meio e fim. Venho exaltar minhas histórias de glórias”, o Alunão abriu o desfile com um surdo gigante, trazendo os símbolos da Escola e do Fluminense Atlético Clube, antigo time de futebol da cidade, a partir do qual a agremiação de Conselheiro Paulino foi idealizada.

O Alunão passeou por personagens importantes, tais como o carnavalesco Elói Machado, autor de dois enredos campeões: Historiada Tupiniquim, em 1987, e Brasileiríssima, em 1990. O primeiro falava sobre a corrupção no Brasil, e era relembrado, por exemplo, na fantasia da Bateria Terremoto da Serra, de Mestre Arilson. O segundo tema campeão exaltou a cachaça brasileira, e suas origens nas culturas negra e indígena.

 

Com olhar diferenciado para comissão de frente, bateria e organização das escolas de uma forma geral, Elói revolucionou o carnaval friburguense. Foi mais um personagem marcante que o Alunão trouxe para a folia local, assim como o carnavalesco Alaelson, responsável pelos desfiles vitoriosos da escola nos anos 90. Ele, inclusive, veio junto ao Zé Carioca no encerramento da passagem da Escola pela Alberto Braune.

A Alunos do Samba continua na linha de evolução ano a ano, e fez um carnaval digno da comunidade Conselheiro Paulino, de seu pioneirismo e de suas tradições.

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Bicampeã, Imperatriz canta Dandara com belo samba

Uma Imperatriz que coroou Dandara, a mulher de Zumbi dos Palmares. Se a história da guerreira, símbolo feminino dos quilombos ainda é cercada de mistérios, a vermelho e branco de Olaria fez questão de mexer com o imaginário popular e exaltar toda a resistência do negro e as belezas da cultura africana com o enredo “Dandara, a luta sob o sol de um povo sonhador”.

Ao começar o desfile com a belíssima coroa, símbolo maior da escola, junto à comissão de frente, a Imperatriz abriu alas para a riqueza de detalhes em fantasias e carros alegóricos.

As muitas esculturas que compuseram as alegorias exaltaram guerreiros e figuras negras, com destaque para Zumbi dos Palmares. Se as feições de Dandara ainda são desconhecidas, de forma concreta, o maior referencial dos negros na luta pela liberdade teve na força da mulher de Zumbi, a companheira certa para organizar os quilombos, planejar a resistência e organizar as atividades das comunidades, tais como a caça e a pesca. Tudo isso relembrado com muito bom gosto pela escola de Olaria.

Além do show à parte da bateria Swing Total, de Mestre Fred, a Imperatriz - que não pôde contar com Kaísso este ano - apostou na experiência do intérprete Bruno Ribas, uma das vozes mais conhecidas do carnaval carioca.

O samba-enredo, um dos pontos altos da vermelho e branco, trouxe um refrão fácil de ser cantado por componentes e torcedores. Resta aguardar as notas dos jurados para tentar concretizar o sonho do tricampeonato.

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Saudade impressiona por luxo e alegorias gigantes

Como havia prometido a direção da Escola, a Unidos da Saudade levou para a Avenida Alberto Braune caracaterísticas que a tornaram uma das maiores campeãs do carnaval de Nova Friburgo: força, garra, luxo e bastante imponência. O tamanho das alegorias e o acabamento impecável das fantasias foram os destaques do enredo "Galanga, a Saga de Chico Rei."

A chuva, que começou a cair praticamente na metade da passagem da roxo e branco pela passarela, nem de longe apagou o brilho de quem apresentou um carnaval para brigar pelo título.

Como não poderia deixar de ser, a cultura africana foi bastante exaltada no desfile. A Unidos da Saudade fez uma viagem pela trajetória de Galanga, ex-monarca do Congo, capturado por comerciantes de escravos portugueses e trazido para as Minas Gerais, em Vila Rica, atual Ouro Preto.

O navio Madalena, que o trouxe com a família para o Brasil, veio em forma de criativa alegoria, cercada por caveiras, que retratavam a dor daquela viagem, onde Galanga acabou por perder a mulher e uma filha.

Da prosperidade do reino do Congo, a Saudade passou pelo ouro de Minas Gerais até chegar à Alforria de Galanga, agora Francisco, após juntar riqueza o suficiente para comprar a própria liberdade e a dos demais escravos. Ali se estabelecia o reinado de Chico Rei, misturando crenças africanas e brasileiras, à exemplo da fé.

A famosa Capela de Nossa Senhora do Rosário veio no último carro da escola. Também no setor final, Betão e Alexandra, casal de Mestre Sala e Porta Bandeira de Honra, completando 23 anos de Avenida. O talento de Guto, intérprete e pegada forte das 42 caixas da Bateria Treme-Terra, também marcaram a bela apresentação da Saudade.

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Vilage emociona com história de superação

Se ainda restava alguma chama de tristeza nos corações verde e brancos, agora ela não existe mais. Não apenas por conta da chuva, marcante durante a passagem da Vilage no Samba pela Avenida Alberto Braune, fechando os desfiles do Grupo Especial de Nova Friburgo com o enredo "Vamos renascer das cinzas." Mas principalmente pela capacidade de superar um incêndio, reconstruir o barracão e apresentar um carnaval do nível observado já na madrugada desta segunda-feira (4). Do ninho da águia, emergiu a força para ressurgir, tal qual uma fênix, o pássaro capaz de renascer das cinzas.

Aliás, foram 14 fênix(s) em torno de uma águia na Comissão de Frente, repleta de coreografias e efeitos especiais. Logo em seguida, a águia acuada em meio ao fogo, escondendo a própria cabeça através de movimentos, protegendo-se da maldade retratada no primeiro setor da escola. Exemplos de outras histórias, através de mitologias diversas, também foram contados para exaltar a capacidade de superação, renascimento e luta contra a morte. Osíris, o Deus do Julgamento, e a esposa Isis, foram retratados em fantasias e em uma das alegorias da escola.

Como o amor de carnaval "é imortal e não acaba quarta-feira", a Vilage no Samba passou a contar um pouco sobre o processo de reconstrução e a exaltar antigos e novos modos de brincar a folia na parte final do desfile. A bateria Sinfônica da Vila, de Mestre Negreti, promoveu um verdadeiro espetáculo, com direito a um paradão de todos os intrumentos, além do repertório de bossas. No final, a águia surge - e ressurge -, verde e iluminada, gritando alto.  

Já não há mais cinzas ou tristeza, e sim, a alegria e a esperança em levar para o reconstruído barracão o 25º título do carnaval friburguense.

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