Entrevista do Bispo da Diocese de Nova Friburgo Dom Edney Gouvêa Mattoso

Diocese de Nova Friburgo tem atenções voltadas para a Assembleia Diocesana
quinta-feira, 05 de janeiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Entrevista do Bispo da Diocese de Nova Friburgo Dom Edney Gouvêa Mattoso ao jornalista José Duarte
Entrevista do Bispo da Diocese de Nova Friburgo Dom Edney Gouvêa Mattoso ao jornalista José Duarte

José Duarte

Desde que foi empossado na chefia da Diocese de Nova Friburgo, o bispo Dom Edney Gouvea Mattoso tem implantado diversas mudanças na estrutura da Diocese. Dentro do seu projeto de adequação da administração diocesana, as modificações apresentaram, já agora, uma atuação eficaz, principalmente no clero diocesano. Ele realizou várias transferências de padres, criou cursos novos, movimentou o Seminário Diocesano Imaculada Conceição, reforçou o pensamento de integração, e com isso, projetou a Diocese a nível estadual.

Além das assembleias paroquiais e vicariais, Dom Edney colocou como meta principal a Assembleia Diocesana de Pastoral. Ele determinou a todos os padres, religiosos, seminaristas, líderes pastorais e povo em geral que se unissem na preparação do evento, que vai definir os novos rumos dos católicos das 55 paróquias espalhadas em 19 municípios.

Finalmente, dias 10 e 11 de março, nosso bispo vai realizar seu sonho e a Assembleia Diocesana será realizada no auditório do Colégio Nossa Senhora das Graças, em Olaria. Além de todo clero, estarão presentes três representantes por paróquia, que terão direito a voto.

Nesta entrevista inédita, Dom Edney fala deste evento, da Renovação Carismática Católica, Caminhada de Emaús, a importância da mídia na evangelização, entre outros assuntos.

 

 

A VOZ DA SERRA: Desde que chegou, o senhor implantou uma nova maneira de administrar a Diocese. Quais as modificações que o senhor julga mais importantes e quais as novidades para 2012?

D. EDNEY: A administração de uma Diocese é uma tarefa árdua, mas muito gratificante. Participar do pastoreio de Cristo é próprio da missão a que Deus me chamou e, às vezes, é necessário saber mudar os rumos dos caminhos, por uma natural adequação aos tempos em que vivemos. As mudanças mais importantes deste novo ano levarão a uma atuação pastoral mais eficaz junto ao povo de Deus. De forma exponencial citamos a reforma no governo diocesano e a Assembleia Diocesana de Pastoral, que será celebrada neste ano de 2012.

 

AVS: Ultimamente, só temos ouvido elogios sobre as maravilhas do Movimento Caminhada de Emaús. Qual a sua opinião sobre o projeto?

D. EDNEY: Toda a ação pastoral é válida e boa desde que seja pautada no espírito do Evangelho e se integre no conjunto da Pastoral da Igreja. O movimento Caminhada de Emaús atinge um determinado setor da sociedade de difícil acesso aos meios pastorais tradicionais e, deste modo, são uma importante ferramenta a serviço de Deus. É sempre bom recordar que, a partir de uma conversão que começa ou se aprofunda nos encontros, o trabalho dos cristãos deve-se fazer notar também em suas paróquias de origem.

 

AVS: Algumas correntes da igreja de Nova Friburgo contestam a Renovação Carismática. Há quem diga tratar-se de uma ramificação evangélica dentro do catolicismo. O que o senhor pensa para desmistificar o assunto?

D. EDNEY: A Renovação Carismática Católica (RCC) é um movimento de Igreja, como tantos outros, e, como tal, tem a missão de levar a mensagem e a vida de Nosso Senhor a todas as pessoas. É um desconhecimento afirmar que a RCC se identifique com o protestantismo. As formas de louvar e bendizer a Deus são variadas. O próprio rei David louvava a Deus dançando. Não quero dizer que se deve louvar desta ou daquela maneira. O importante é que todos louvemos.

AVS: No momento que em várias partes do mundo é percebida a falta de vocações sacerdotais, em Nova Friburgo a realidade é diferente. A que o senhor atribui essa procura pelo sacerdócio ministerial?

D. EDNEY: As vocações sacerdotais são um precioso dom de Deus à sua Igreja. Deus nunca permitiu que elas faltassem. Se, por vezes, algumas regiões passam por esta situação, imediatamente outras regiões mais fecundas vêm em seu auxílio por meio de missionários. Segundo as últimas estatísticas, que, aliás, vêm se repetindo ano após ano, o número de ordenações sacerdotais e de procura pela vida consagrada vem aumentando. A verdade é que a vocação sacerdotal só floresce em um solo irrigado pela verdade do evangelho. Quando a evangelização progride, naturalmente aumentam as vocações. Nossa Diocese completou recentemente 50 anos de fundação e a evangelização vem aprofundando-se, com a graça de Deus.

AVS: Como o senhor vê a realidade das igrejas pentecostais que fazem do dízimo a maneira mais fácil de cativar o povo?

D. EDNEY: Não sei exatamente como o dízimo pode ser a maneira mais fácil de cativar o povo. Talvez o que se estabeleça seja uma relação de câmbio, troca, na qual o fiel se sente responsável por “dar algo a Deus”, e por isso tranquilize sua consciência em relação às outras responsabilidades da vida cristã. É importante sustentar a Igreja em suas necessidades, também financeiras. Este é inclusive o 5º mandamento da Igreja, mas não pode ser este um paliativo das consciências. A Deus não se compra! Com Deus não se negocia. O dízimo é sempre uma oferta de generosidade e gratidão.

 

AVS: Falando da nossa cidade. O município passou por uma tragédia incomensurável. De que maneira a igreja pode minimizar a dor das mais de três mil famílias que perderam entes queridos?

D. EDNEY: A dor da perda de um ente querido é enorme, mas faz parte da vida. Uma tragédia é o que o próprio nome já diz, algo que foge ao cotidiano em sua dramaticidade, e é também um foco de preocupação da ação pastoral da Igreja. A mensagem de Jesus Cristo é aquela que dá sentido à nossa vida. A ressurreição de Cristo é a resposta definitiva à dura realidade da morte, que já não é o ponto final a todas as conquistas e projetos da vida, mas uma porta que dá acesso a uma esperança mais plena. A Igreja cumpre a sua missão quando vai ao socorro das vítimas de forma emergencial e, a longo prazo, esclarece as consciências não de forma partidária, mas educativa para o sagrado exercício do voto.

AVS: O momento político de Nova Friburgo é o pior dos últimos 20 anos. O senhor vê possibilidade de ajudar de alguma forma?

D. EDNEY: A política é feita de homens e mulheres. A boa administração dos bens públicos também. Temos muitas vezes a tendência a criar figuras abstratas, “a política”, “a máquina”, “o sistema”, e nos esquecemos que todos eles são formados por pessoas, muito parecidas a mim e a você, com anseios, qualidades e defeitos, e que são alvo da mensagem evangelizadora da Igreja. Formar as consciências dos eleitores e políticos é o primeiro passo para que se possa fazer algo, e logo, cabe também a todos os homens de boa vontade incentivar as boas iniciativas e denunciar as injustiças. Esta é a responsabilidade também daquele que leva a Palavra de Deus.

 

AVS: O senhor é favorável à candidatura de católicos para os cargos eletivos?

D. EDNEY: Claro que sim, como poderia ser contrário? É um direito garantido constitucionalmente para todos os cidadãos, dentre os quais também existem católicos.

 

AVS: Num município onde a educação é relegada a segundo ou terceiro plano, de que forma a igreja se insere nesse processo?

D. EDNEY: A Igreja tem uma forte história com a educação em todo o mundo, também no município de Nova Friburgo. Educar, formar os homens e mulheres de amanhã também é uma etapa no processo de evangelização, pois homens e mulheres bem formados podem colocar também este talento a serviço do Evangelho. A vocação docente é uma graça de Deus para aquele que a acolhe com generosidade. Também a Igreja é uma grande educadora e apoia todos os que abraçam esta nobre tarefa de educar e defende a primazia de uma educação do homem inteiro, também em sua dimensão espiritual.

AVS: O senhor é a única autoridade que tem mostrado a verdade dos fatos, inclusive suscitando a reação do povo que continua no “Luto Eterno”, ou esperando a “banda passar”. A que se atribui esse acomodamento da nossa população?

D. EDNEY: A mensagem do Evangelho sempre nos “desaloja” de nosso comodismo, nos leva a ousar para fazer o melhor, pois nos dá esperança! O acomodamento, como você mesmo diz, é sempre fruto de desesperança, de falta de projetos e horizontes novos, que só a fé é capaz de nos dar. Muitas são as correntes que tendem a disseminar uma má ideia sobre o homem, julgando-o sempre pelo seu lado mais obscuro, porém eu tenho esperança no homem! No homem alcançado por Cristo, cheio da graça, que se alimenta da Palavra e do Corpo do Senhor e pode ser neste mundo um fator de mudança para melhor. Corrijo apenas a expressão “permanece em luto eterno” ou “esperando a banda passar”. Isto não é mais verdade. Desde a Páscoa do ano que findou, deixamos o luto para desenvolver ações concretas que visam o resgate não só da autoestima do nosso povo, mas, e principalmente, da moral e da ética de nossa cidade.

 

AVS: De que forma a mídia pode ser importante na evangelização?

D. EDNEY: A mídia é um meio muito eficaz para levar uma mensagem. Há cerca de 80 anos, quando o grande cientista Guglielmo Marconi organizou, a pedido do papa Pio XI, a Radio Vaticana, ele disse: “Eu tenho a mais alta honra de anunciar que em uma mera questão de segundos, o Supremo Pontífice, Papa Pio XI, irá inaugurar a Rádio Estação do Estado da Cidade do Vaticano. As ondas elétricas do rádio irão transportar para todo o mundo estas palavras de paz e bênção”. É verdade, temos uma mensagem de paz e bênção, a mensagem de Cristo. E a mídia, em todas suas formas, pode ser muito útil, mas, logicamente nunca substituirá o contato pessoal. Os meios de comunicação devem unir as pessoas e humanizá-las.

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