ELEIÇÕES 2014 - Dois candidatos de Friburgo eleitos

A Voz da Serra entrevista o deputado federal Glauber Braga e o deputado estadual Wanderson Nogueira
segunda-feira, 06 de outubro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
ELEIÇÕES 2014 - Dois candidatos de Friburgo eleitos
ELEIÇÕES 2014 - Dois candidatos de Friburgo eleitos

Deputado federal pelo PSB, Glauber Braga teve neste pleito uma votação histórica: 45% dos votos do município. Do total dos mais de 80 mil votos, 39.375 foram de eleitores friburguenses. Já o vereador Wanderson Nogueira, do mesmo partido, teve o apoio de 18.605 eleitores de Nova Friburgo. Ele será substituído na Câmara Municipal pelo suplente Ceará. Confira abaixo as entrevistas dos eleitos. 

O senhor teve 51 mil votos em 2006, 57 mil em 2010 e agora deu um salto para 82 mil. De que forma essa responsabilidade o atinge?

Nessa análise de votação tem um elemento importante, que é a ampliação da votação nos municípios adjacentes a Friburgo. Nesses locais a gente pôde mostrar mais claramente o que é esse trabalho de mandato participativo, com a população tendo a oportunidade de acompanhar a vida do parlamentar, de saber o que ele está fazendo no Legislativo, podendo opinar e construir em parceria. Na minha opinião, a demonstração que a gente já tinha recebido em 2010 só foi reforçada. Em 2006, eu defendi a renovação de boa parte dos deputados federais que nos representavam em Brasília, e também das práticas políticas. Entre 2009 e 2010, a gente teve um ano e três meses de um mandato participativo. Nos doze municípios tivemos um crescimento de votação, e agora a gente cresce em votação de novo em todos essas localidades. Para mim, o que há de mais simbólico é a demonstração de que as pessoas anseiam por uma prática política diferente daquela que, no passado, foi considerada usual. Eu reconheço o tamanho da responsabilidade e a encaro com serenidade. Sei que a gente dará conta dessa tarefa exatamente porque nesse novo jeito de fazer política que a gente propõe, existe a participação da população nas decisões sobre aquilo que pode ou não ser feito. Como presidente estadual do partido, eu tenho outras atribuições, mas a gente também procura estabelecer um diálogo franco nas instâncias partidárias, seja no Rio ou na interlocução com o diretório nacional do partido. A responsabilidade aumenta conforme a votação, mas eu tenho a certeza de que cumpriremos essa tarefa rodeados de pessoas que acreditam no trabalho que está sendo feito. Nós conseguimos cativar as pessoas para esse formato de política que propomos. Então, também estou sendo um mediador de uma posição que não é isoladamente a minha, mas de um grupo grande de pessoas, de uma parcela de indivíduos que esperam exatamento isso da representação política.

O que você tem a dizer aos eleitores das cidades das zonas de influência de Nova Friburgo com relação ao seu próximo mandato?

Um dado relevante, como já afirmei, é o crescimento em todas as cidades. Onde a gente apresentou esse novo tipo de política as pessoas tiveram quatro anos para analisar e mostraram ser isso o que elas querem. Então, as pessoas podem esperar que eu seja um representante que aprofunde esse formato aprovado por elas. Eu quero já em janeiro de 2015 mostrar o calendário das audiências públicas de prestação de contas dos 12 meses do próximo ano. As pessoas poderão saber onde estarei em cada mês. Haverá a demonstração de um planejamento desse formato, onde a participação popular interfere no mandato. Quero que as pessoas se sintam protagonistas do mandato. Quero ser um mediador de muitos protagonistas. Na região, eu vou tentar intensificar esse trabalho já iniciado com o acompanhamento claro das verbas federais, procurando fazer com que o interior possa ter uma representatividade que foi perdida ao longo dos anos. Na última legislatura, dos 46 deputados federais, aproximadamente 40 eram das regiões metropolitanas. Poucos defendiam os interesses do interior, apesar de o deputado federal ser uma representação de todo o estado. Eu vou poder trabalhar junto ao governo estadual e ao federal para que o interior possa ter essa respeitabilidade de ser uma região de grande relevância para o estado, sendo, inclusive, importante para o desenvolvimento dele.

O formato participativo funciona bem com as emendas, mas também funciona com sugestões de legislação? Como as pessoas podem dar essas sugestões?

Durante os quatro anos do mandato, eu procurei influenciar as pessoas a apresentarem projetos através de suas respectivas associações na Comissão de Legislação Participativa da Câmara. Se um presidente de associação de moradores me trazia um projeto para que eu apresentasse como deputado, eu poderia somente apresentá-lo e ficar com os méritos, mas sempre preferi indicar uma comissão que poucos conhecem, na qual uma pessoa pertencente a qualquer associação pode apresentar um projeto e tem a possibilidade de, como representante da associação, ir a uma audiência na Câmara dos Deputados, onde o cidadão pode defender o seu projeto. Eu fiz muito isso no meu mandato, e acho plenamente possível que esse tipo de ação seja realizada. A gente precisa fortalecer esta comissão. Eu quero ser deputado em um plenário onde vou discutir uma ideia, e no qual uma pessoa com acúmulo [de conhecimento] em uma determinada área vai estar na tribuna, fazendo a defesa de idéias. Os demais deputados, por sua vez, estarão ouvindo essa defesa, a fim de que, a partir das propostas defendidas através de instrumentos de participação direta, possam formar suas convicções e também seus votos. Nós não temos que abrir mão da representatividade. Devemos tê-la em conjunto com os instrumentos de participação direta da sociedade. Essa é a defesa que nós fazemos. Muita gente faz o diagnóstico de que o sistema representativo brasileiro de hoje está falido. E quando se pergunta qual é o antídoto, eu acredito que o melhor caminho é fortalecer a representação. Porém, com canais através dos quais a população possa interferir diretamente no mandato dos parlamentares.

Como você se avalia hoje para começar um terceiro mandato em relação ao Glauber de 2009?

Quando eu assumi o mandato de deputado, a gente iniciou com algumas ações simples, porém diferentes das práticas habituais. Alguns parlamentares diziam que eu tinha essas ideias pois estava acabando de chegar, e que com o tempo eu veria que minhas propostas não dariam certo, que eu sucumbiria à prática. Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. O passar do tempo reforçou em mim a certeza de que precisamos ter uma nova prática política. Esta, para mim, é aquela em que necessariamente envolva as pessoas em um projeto de participação. E depois que você se acostuma, você não faz mais de outra forma. No essencial, eu reforcei o meu entendimento de que é esse o caminho correto. Não vou abrir mão dele, pelo contrário: vou aprofundá-lo e reforçá-lo. Estou completamente motivado pelo exercício do mandato e quero afinar bem o planejamento na busca dos resultados, também de maneira bastante efetiva.

Em sua avaliação, qual o significado da eleição de Wanderson Nogueira na Alerj para Nova Friburgo e região?

O Wanderson demonstrou em seu primeiro mandato como vereador as suas capacidades políticas. Ele foi um parlamentar competente, além de corajoso e combativo em temas difíceis. Para Friburgo e para a região é fundamental ter um representante na Assembleia Legislativa com as características que ele tem. O desafio é grande e ele está totalmente preparado para a tarefa. Para Friburgo, ele será um grande articulador de ações administrativas e de planejamento, para poder fiscalizar os atos do governo do estado, o que a gente não teve nos últimos anos. Eu considero a eleição dele fundamental.

Qual seu recado para os moradores de Nova Friburgo e região, que votaram ou não no senhor?

Primeiro, tenho que agradecer. Eu recebo o resultado as urnas com muita alegria e sei o tamanho da responsabilidade que foi depositada em mim. A recebo com humildade, tranquilidade e serenidade, sabendo que esse desafio tem que ser muito bem cumprido, porque o que está em jogo é a apresentação de um modelo que a gente está construindo, um novo jeito de fazer política.  

 Wanderson Nogueira: "Friburgo não perdeu um vereador, ganhou um deputado”

Esse ano foi muito marcante para o senhor...

Foi tudo muito rápido, tudo muito movimentado, mas acho que é o tumulto natural da vida. Tive a perda da minha mãe, depois passei por um momento difícil em que cheguei a pensar em desistir da política. Mais tarde, no entanto, percebi que a política é ocupação de espaço, e é preciso ocupá-los com pessoas comprometidas com seus ideais. Eu não admito a possibilidade de trocar de idealismo como quem troca de roupa. Se política é isso, então é preciso que a gente trabalhe até que um dia pessoas com ideias sólidos sejam a maioria, e que não precisemos andar sempre na direção contrária. É uma tarefa complexa, árdua, mas as ruas mostraram que dá para ser diferente.

O senhor recebeu mais de 20 mil votos, um salto enorme para quem teve menos de mil na eleição para vereador, dois anos atrás. Como essa votação expressiva o afeta?

A gente ganhou uma eleição de vereador por cinco votos de diferença. Esse é um dado interessante, porque na história de Nova Friburgo nunca ninguém da área de comunicação havia sido eleito para nenhum cargo. Então, não havia a expectativa para uma vitória minha na primeira eleição. No começo do mandato já começaram as dificuldades, pois já se estabeleceu quem estava de qual lado. Participamos de um processo de manutenção do legado do PSB, no qual a gente não podia deixar aqueles ideais se perderem, e ao mesmo tempo precisávamos cumprir com os sonhos da cidade. A gente também estava em uma administração municipal muito complicada, que, infelizmente, vem errando mais que acertando, e a gente partiu para o que pensava ser correto, de uma maneira justa e colaborativa. O meu trabalho foi como um espelho do trabalho do Glauber. Ao invés das pessoas irem ao meu encontro, eu fui até elas. Foi assim no movimento da passagem de ônibus, na carta da juventude, quando fui nos congestionamentos buscar sugestões sobre como melhorar o trânsito, entre outros. Trabalhamos muito, o que nos credenciou para a candidatura de deputado estadual, sem obrigação de vitória. O partido não me pôs o peso de ganhar a eleição. Eu só precisava da chance de mostrar que era possível.

O senhor está começando agora um novo mandato na esfera estadual, após cumprir dois anos como vereador de Nova Friburgo. No seu caso, a responsabilidade acaba sendo ainda maior, uma vez que você precisa justificar, através de sua atuação na Alerj, sua ausência na Câmara Municipal. O que você pode passar para a gente das suas intenções de trabalho?

Eu não acho que seja uma ausência da Câmara, pelo contrário. É uma presença ainda mais forte, com mais possibilidade de trabalho. Em dois anos de vereador, acho que a gente conseguiu incomodar na Câmara, entusiasmar outros, e demonstrar que a gente precisa acelerar. Friburgo vem sendo conduzida com o freio de mão puxado e dessa forma não pode continuar. Em dois anos a gente acelerou muito, então acho que a gente não perdeu um vereador, e sim ganhou um deputado. Eu penso que a gente deve ficar cada vez mais próximo dos vereadores que estão dentro desse sonho coletivo que a gente tem. O mandato de deputado estadual é para servir sim, à Câmara de Vereadores, dentro do que é possível, e também à administração municipal. Sem, é claro, ser submisso. Meu objetivo é construir junto, mas projetos que sejam coletivos, que a gente acredite que sejam os melhores para a cidade.

Independentemente de onde venham?

Independentemente de onde venham. Se vamos representar o município no estado, eu estou representando inclusive correntes com as quais eu possa ter discordâncias ideológicas. Se for para o bem do município, eu não tenho problema algum em sentar à mesma mesa com pessoas cujos ideais eu não compartilho. Só não vou me reunir com quem realiza práticas das quais discordo. O momento é de agregar pela cidade. Na hora da eleição a gente vai para a disputa normalmente, mas agora é momento de união.

Nova Friburgo ficou muito tempo sem representação na Alerj. Por mais que alguns deputados tenham vínculos com a cidade, é diferente ter um cidadão nascido aqui nos representando. Como você sente seu papel agora nos próximos quatro anos?

Além de ter nascido aqui, eu tenho domicílio eleitoral em Friburgo e estou sempre na cidade. A partir de agora tenho que fazer planos de mandato. Para vencer as burocracias, a gente precisa reunir as entidades representativas, as associações de moradores, ir às praças públicas para construir esse plano. Enquanto a maioria dos deputados que vão assumir em janeiro só irão se encontrar em maio, eu irei chegar já na posse com vários projetos indicativos da região, dando entrada na Alerj para vencermos o processo burocrático. Eu quero construir coletivamente, conversar com as pessoas. Mas, para mim, já está claro que a questão do desenvolvimento econômico do município é fundamental. É preciso que consigamos incentivos fiscais importantes para Nova Friburgo e região. A gente tem que reverter essa situação de hoje, na qual o friburguense recebe pouco e, por isso, também gasta pouco, fazendo a produtividade ser menor e a contratação de funcionários também. É necessário quebrar essa corrente, viabilizando incentivos fiscais, batalhando para que essa questão aconteça. Nova Friburgo tem vocações fantásticas, como por exemplo o turismo. Mas para se tornar uma cidade turística, o município tem que avançar em diversos pontos. Uma cidade que é a segunda maior produtora de flores no estado não tem nenhum simbolismo ligado a essa situação, não tem flor no Centro. Então, tudo o que pudermos usar institucionalmente para mudar esse quadro, nós usaremos.

O senhor teve quase 2000 votos fora de Friburgo. O que você tem a dizer aos eleitores das cidades vizinhas?

Nós fomos os mais votados em todas as urnas de Friburgo, o que pra mim é uma característica importante. Friburgo é um município espalhado e grande, e isso mostra que o mandato de vereador conseguiu chegar ao município inteiro, as pessoas aprovaram. A candidatura não foi para um único distrito ou bairro, isso é fundamental para mim. Eu acredito que Friburgo é uma cidade polo, mas é preciso que as outras cidades da região estejam fortes, pois se um vizinho vai mal, acaba também piorando para Friburgo. É importante que a saúde, as condições gerais estejam boas nas outras cidades. Houve votos espalhados no estado todo, e é óbvio que vou fazer o mandato pensando no estado do Rio de Janeiro, mas a defesa vai ter vínculo com os interesses de Friburgo e região. 

O senhor cita o Glauber como um exemplo, o que sugere que também deve adotar o procedimento participativo. Os moradores de Nova Friburgo e região podem esperar esse tipo de acesso ao seu mandato?

É um mandato que vai de encontro às pessoas, nós devemos motivá-las. Dessa eleição a gente tem uma grande lição para ser tirada. A abstenção em Friburgo nunca foi tão grande, os friburguenses, por conta da tragédia em 2011 e de uma má administração da Prefeitura, deixaram de ter fé, o que é muito ruim. A tarefa, minha e do Glauber, é muito maior do que se possa imaginar. Não é só defender interesses da região, mas também resgatar a fé das pessoas e mostrar que a gente tem capacidade de tirar da vida pública os que têm de ser tirados, e fazer os espaços serem ocupados por aqueles que têm um compromisso coletivo.

Qual sua avaliação a respeito da reeleição do deputado Glauber?

O Glauber aumentou a votação dele em Friburgo, tornando-se o friburguense mais votado da história do município, o que é fantástico. E não foi por acaso. Ele trabalha tanto, que sinto que preciso trabalhar da mesma forma. Ele foi eleito como um dos vinte melhores deputados do país e quando falo que precisamos resgatar os nossos sonhos, como cidade, vejo nele o espelho para que esses sonhos se tornem realidade. Tudo o que ele fez não foi em vão — e a aprovação popular está demonstrando isso.

Qual o recado que o senhor gostaria de dar aos seus eleitores?

Tenho que agradecer a todos que confiaram em mim, e aos que não votaram, quero dizer que eles também têm todo o espaço para participar. E devem participar. Quero ser o deputado de todos os habitantes de Friburgo e região. Agora é trabalhar muito e lutar para que essa vitória represente o simbolismo de um sonho. Pois quando você tem um sonho e batalha por ele, você tem a capacidade de realizá-lo. Para mudar o mundo, temos que começar pelo nosso lugar. As pessoas têm que acreditar nos seus sonhos, e acreditar que as nossas vidas podem e devem ser muito melhores.

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