Ecoarte promove campanha de financiamento de livro com sarau em São Pedro

A história da MPB protagonizada por jovens nas décadas 1960/70, hoje artistas consagrados
quinta-feira, 16 de março de 2017
por Ana Borges
Gonzaguinha (fundo) e seus colegas na Jaceguai, 27
Gonzaguinha (fundo) e seus colegas na Jaceguai, 27

O Brasil vivia sob o regime militar no fim da década de 1960, início dos anos 1970, tendo como presidente o general Emílio Garrastazu Médici, quando um grupo de jovens estudantes do ensino médio e universitário se reunia toda semana, na casa da família Porto Carreiro, na Tijuca, para tocar, cantar, compor, criar, conversar, rir, chorar, se emocionar. Para tudo no final… virar música, música da melhor qualidade, com seus versos vibrantes,  no ritmo das batidas do coração, de cada um. Ninguém ali se importava com rótulos, talvez não soubessem, mas estavam fazendo música popular brasileira. MPB da melhor qualidade.

Entre muitos outros garotos(as), lá estavam Aldir Blanc, Ivan Lins, Gonzaguinha, César Costa Filho, Eduardo Lages, Lucinha Lins (na época namorada do Ivan), Marcio Proença, Sílvio da Silva Júnior, etc. Hoje, uns são artistas consagrados, outros não se sabe, e alguns enveredaram por outros caminhos.

Mas, foi naquele endereço, Rua Jaceguai 27, tradicional bairro da Tijuca, em tempos tão sombrios, que aquela garotada iluminada e cheia de esperança (como eu mesma, então em início de carreira), plantou uma semente que vingou e deu belos e eternos frutos musicais. Como “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, tão emblemática daquele período, embora composta anos depois. Nada sei do livro que há de ser lançado, mas, se conta a história daquele período, o qual tive o privilégio de testemunhar, certamente sua leitura valerá a pena.    

O nome do livro é esse mesmo: Jaceguai 27, e quem participou, passou por lá, ouviu falar, vai logo saber do que se trata. Assim como eu, que, mais de 40 anos depois, assim que recebi o email da Sheila Santiago, divulgando o evento “Sarau Jaceguai 27”, um chip foi acionado na minha memória, e tudo veio à tona. Guardado há tanto tempo, emergiu, nos mínimos detalhes. Bom, sem mais delongas, vamos ao que interessa:  

Encontro lança campanha de financiamento coletivo para publicação do livro de Leila Affonso e Jorge Fernando

Escrito pela carioca Leila Affonso e o mineiro Jorge Fernando dos Santos, a campanha de financiamento para a publicação do livro será lançada hoje (sexta-feira, 17), às 20h, na Ecoarte, Rua Rodrigues Alves, São Pedro da Serra. Entre os convidados, a compositora e cantora Luhli.

Foi lá também, na Rua Jaceguai, que o grupo criou o Movimento Artístico Universitário (MAU) e mais tarde participaria de inesquecíveis festivais realizados no Rio e em São Paulo. Segundo o jornalista Sérgio Cabral, o imóvel de dois andares dos Porto Carreiro foi tão importante para a MPB quanto à casa da Tia Ciata foi para o samba e o apartamento de Nara Leão, para a Bossa Nova.

Os Porto Carreiro

Em 1961, o psiquiatra e violonista Aluizio Augusto Porto Carreiro de Miranda e sua esposa, Maria Ruth, alugaram o imóvel e nele passaram a realizar reuniões com músicos da velha guarda, entre os quais, Bororó, Cartola, Donga e o também chargista Nássara.

Em 1966, suas filhas adolescentes, Regina e Angela, passaram a convidar os amigos e colegas, que transformaram as noites de sexta-feira em saraus cada vez mais frequentados. Mesmo com a importância histórica reconhecida, a antiga construção tijucana foi demolida em 2014, para dar lugar a um edifício de apartamentos. O livro “Jaceguai 27” revela bastidores daqueles encontros, revisita personagens e resgata um importante capítulo na história da MPB.

Como integrante da turma e cofundadora do MAU, Leila Affonso desfia suas memórias de forma coloquial, revivendo episódios da mocidade. Enquanto isso, o jornalista e escritor Jorge Fernando dos Santos, autor de 43 livros, entre eles “Vandré – o homem que disse não”, optou pela narrativa na terceira pessoa, acrescentando entrevistas e contextualizando os fatos. Em tempos de vacas magras no setor cultural, optou-se pelo financiamento coletivo da publicação, através do sistema Catarse. Nada mais sugestivo para divulgar a campanha de apoio que a realização de um sarau, que contará com a presença de Leila Affonso, e Luhli, artista que frequentava o endereço e que hoje faz parte de vários capítulos da MPB.

Para conhecer o projeto de financiamento coletivo do livro, basta acessar o link www.catarse.me/jaceguai27. O sarau conta com a produção executiva de Carla Strachmann, da Ecoar (Educando com Arte), e o livro, com a Mundo Produções e Editora Recanto das Letras.

  • A capa do livro

    A capa do livro "Jaceguai, 27"

  • Os donos da casa - Maria e Aluizio Augusto Porto Carreiro de Miranda com as filhas Regina e Angela

    Os donos da casa - Maria e Aluizio Augusto Porto Carreiro de Miranda com as filhas Regina e Angela

  • Na década de 60, a casa da Rua Jaceguai tornou-se um templo da MPB

    Na década de 60, a casa da Rua Jaceguai tornou-se um templo da MPB

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