Com apenas 15 dias no cargo, secretária de Saúde pede demissão

Emmanuele Marques diz que questões partidárias contribuíram para decisão: “Não deram chance e condições de caminhar, por isso eu paro por aqui”
sexta-feira, 28 de junho de 2019
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)

Apenas 15 dias após assumir o cargo, Emmanuele Marques não é mais secretária municipal de Saúde de Nova Friburgo. A decisão partiu dela própria, que entregou seu pedido de exoneração no fim da tarde desta sexta-feira, 28. Segundo a agora ex-secretária, questões partidárias pesaram na decisão. Em depoimento exclusivo para A VOZ DA SERRA, Emmanuele afirmou que não é filiada a nenhum partido político e, fora essa questão, tinha condições de fazer um bom trabalho à frente de uma das secretarias mais problemáticas do município.

“Quando o prefeito (Renato Bravo) me procurou para assumir a Secretaria de Saúde eu aceitei, mesmo sabendo que seria um desafio muito grande. A saúde é problemática no município há muitos anos, mas eu não contava que a saúde fribrurguense fosse balizada por questões políticas e partidárias, porque para mim saúde não tem partido. O povo não pode ser penalizado por questões partidárias e o que vi foi isso”, revelou.

“À medida em que me associaram a partidos políticos, eu não consegui mais trabalhar. Eu passo dias tentando organizar questões muito sérias e que eu tenho plenas condições de organizar. Não é por uma questão técnica. Eu estou capacitada, sim. Se não fosse isso, eu teria condições de exercer um bom trabalho à frente da Secretaria de Saúde. Temos processos em evolução, uma ótima equipe e profissionais capacitados , continuou”.

Em pouco tempo, Emmanuele deu entrada para agilizar processos na Justiça que viabilizassem a vida de pacientes em casos de urgência. Segundo a ex-secretária, casos como a interdição de três setores do Hospital Maternidade Dr. Mário Dutra de Castro, ocorrida esta semana por determinação da Justiça, vêm desde 2016 e ela não poderia ser responsabilizada pelas atuais denúncias.

“Existem muitos processos que há muitos anos tramitam na Justiça e que estavam parados, mas caminhávamos para a resolução. A interdição da maternidade foi reiterada em 2018. À medida em que eu assumi a pasta, esta situação passou a ser responsabilidade da minha gestão, o que não deveria ser. As obras têm que ser feitas, sim, mas não estão ligadas ao governo atual, já que a situação vem de gestões anteriores. No entanto, nós temos condições de fazer essas intervenções que não andam para frente por conta de questões partidárias. Não me dão chance e condições de caminhar. Por isso eu paro aqui”, desabafou.

Ela também afirmou que não conseguiu montar uma equipe para dar continuidade ao trabalho desejado. E que nos próximos dias boa parte da equipe será exonerada.

“Em 15 dias eu não tive como montar uma equipe de confiança. Tive apenas duas pessoas, mas elas ainda não foram nomeadas. As pessoas que encontravam-se nos cargos estavam de férias e por isso eu não consegui formar uma equipe. Nós temos pela frente um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em que pessoas com longa experiência à frente da pasta vão ter que sair. Teremos muitas exonerações e, por consequência, uma secretaria sem condições de caminhar com os funcionários que lá ficarão. Eu não posso trabalhar sem uma equipe de confiança. Sozinha eu não consigo”, disse Emmanuele.

Sexta mudança na pasta e crise sem precedentes

Com esta, é a sexta mudança no comando da secretária de Saúde desde o início do governo Bravo, em janeiro 2017. Emanuelle havia deixado a Secretaria de Assistência Social para assumir a Saúde. 

Emmanuele Marques pediu para sair apenas dois dias depois de o diretor médico do Hospital Municipal Raul Sertã, Thiago Vicente Canto, também deixar o cargo. Ele também pouco esquentou a cadeira -  quase dois meses - no lugar do médico Arthur Mattar Gremion Soares, que também pediu demissão em maio, quando divulgou uma carta em que dizia sair “por não compactuar com esta gestão”. 

As mudanças na principal emergência da região ocorrem em meio a uma crise sem precedentes na Secretaria Municipal de Saúde, que é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara, investigações do Ministério Público Federal (MPF) e ações ajuizadas pelo Ministério Público do estado (MPRJ). 

A gota d'água para a demissão de Gremion foi um áudio de WhatsApp que culminou no afastamento da então secretária de Saúde, Tânia Trilha, antecessora de Emmanuele. Na conversa, Tânia disse: "Arthur, meu querido, olha só! Eu preciso só que resolva, que opere o paciente ou que ele morra, entendeu, pra gente se ver livre do problema, mas é só o que  eu preciso porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial, você me ajuda nisso, por favor? Obrigada, meu querido".

O teor do áudio causou polêmica e repercutiu nacionalmente. Sem o apoio do governo e pressionada, Tânia deixou o cargo. Em comunicado, ela disse que foi mal interpretada. Contou que o caso se tratava de um paciente em estado grave, que necessitava de transferência com urgência para outro hospital já que não havia vaga no CTI do Raul Sertã. “Após horas e horas de discussão a respeito da situação do paciente, aguardando posicionamento do diretor médico, eu disse com ênfase as frases veiculadas no áudio de forma isolada, buscando não a morte do paciente, mas a resolutividade da circunstância”, afirmou ela, acrescentando que iria processar quem vazou a conversa.

CPI em curso na Câmara

Alvo de uma CPI que apura irregularidades em contratações emergenciais da ordem de R$ 6 milhões para fornecimento de alimentação a funcionários e pacientes do Raul Sertã, a Secretaria municipal de Saúde e seus antigos gestores também são investigados pelo MPF e a Polícia Federal por contratos suspeitos. 

O MP estadual também apura a demora na conclusão de obras no hospital, a manutenção de equipamentos, aquisição de insumos e medicamentos e as licenças sanitárias. Na última quarta-feira, 26, a Justiça atendeu a um pedido do órgão e determinou que a prefeitura apresente em 90 cronograma de adequação às condições mínimas de funcionamento da unidade. 

Esta semana a Justiça interditou a cozinha, a despensa e a lavanderia do Hospital Maternidade Dr. Mario Dutra de Castro, até que sejam realizadas obras de conservação nos locais. A falta de higiene, organização e estruturação dos locais viola normas de segurança indicando risco à saúde e à vida dos bebês recém-nascidos e das gestantes.

Também por ordem judicial, a prefeitura recebeu um prazo de 90 dias para apresentar um plano de obras no Hospital Municipal Raul Sertã, sob pena de multa diária. 

 

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TAGS: saúde | Governo
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