Chuvas: uma eterna preocupação dos moradores de Duas Pedras

Após a tragédia de 2011, galerias de águas pluviais ainda não foram construídas, casas estão abandonadas e encostas correm risco de deslizamento
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
por Alerrandre Barros
O motorista Vagner indica o local onde está uma galeria inutilizada há pelo menos quatro anos. Morador teme pela nova temporada de chuvas (Foto: Henrique Pinheiro)
O motorista Vagner indica o local onde está uma galeria inutilizada há pelo menos quatro anos. Morador teme pela nova temporada de chuvas (Foto: Henrique Pinheiro)

“A estrada vira um rio quando chove. Se chover demais, os carros são quase levados pelas águas”, conta o motorista Vagner Nunes de Barros. Ele nasceu e cresceu no bairro Duas Pedras, e mora às margens da RJ-130 (Nova Friburgo–Teresópolis), no trecho onde a falta de uma rede para o escoamento de águas pluviais é reclamação constante de motoristas e, principalmente, dos moradores de um dos bairros mais afetados pela tragédia climática de 2011.

Toda a água da chuva que escorre das montanhas que dá nome à localidade escoa pela rodovia e invade as ruas de acesso ao bairro antes de chegar ao Córrego dos Mosquitos e, em seguida, ao Rio Bengalas. “O problema é que é muita água. Além do risco de acidentes de trânsito na pista, nós tememos que outros deslizamentos aconteçam por causa da falta de canalização da água da chuva”, conta a cozinheira Lúcia Lima, que trabalha no restaurante da Lelê. O comércio está situado bem em cima de uma manilha por onde parte da água era escoada. A manilha ficou totalmente entupida com entulho e barro após a catástrofe.

O restaurante também está ao lado de uma galeria de águas pluviais na Rua Deolinda da Silva que, para os moradores, não funciona a contento. “Essa obra foi feita para inglês ver, porque não funciona direito”, critica Vagner. A calha da galeria está coberta por mato e caminhar pela rua é difícil porque a via ainda não foi reconstruída pela Prefeitura. Os moradores bloquearam a entrada da Rua Deolinda da Silva e também da Rua João Belório com material para pavimentação para evitar que as águas desçam e entrem nas casas ou inundem as demais vias do bairro.

Em alguns trechos do início da RJ-130, próximo à concessionária Águas de Nova Friburgo, faltam calçadas, e moradores e comerciantes reclamam que caminham sobre entulhos. “As pessoas têm que andar na pista porque falta calçada. A Prefeitura precisa destinar um gari para limpar esta área. Aqui tem lojas, confecções, empresas e até um hospital”, disse a comerciante Adélia Lima.

As principais ruas de Duas Pedras estão esburacadas por causa da falta de manutenção dos paralelepípedos soltos e também precisam de capina como na Rua Doutor Hélio Vige, por exemplo. O mato cresce no entorno do Córrego dos Mosquitos por onde boa parte da água da chuva é escoada e também onde ocorre o despejo do esgoto. A reforma dos brinquedos do parquinho e dos bancos e mesas da Praça Presidente Castelo, no meio do bairro, é outra demanda dos moradores.

O aposentando Gastão dos Santos, de 77 anos, mora nos fundos de um lote na Rua São Pedro, próximo à pracinha do bairro. Ele voltou a viver em Duas Pedras com a família há cerca de um ano após passar um período no Prado, distrito de Conselheiro Paulino, devido à tragédia. “Saí daqui por causa do medo, mas voltei porque pagava aluguel lá e aqui tenho casa”, contou. Em dias de chuvas, o idoso não dorme tranquilo porque atrás da casa dele a encosta não recebeu a proteção de concreto para evitar deslizamentos. A obra não foi feita em toda a encosta. “Parece que foi feita pela metade. Um equipe da Prefeitura esteve aqui há um mês para vistoriar a encosta, mas ninguém disse se haverá mais obras de contenção.”, disse.

Durante uma caminhada pelo bairro, Gastão ainda chamou a atenção para um vazamento de água em frente ao Colégio Estadual Doutor Tuffy El-Jaick. O buraco, cercado por uma faixa de isolamento, está aberto há pelo menos 20 dias. “Veja a quantidade de larvas de mosquito nesta água parada. Será do mosquito da dengue?”, contou. Em nota, a concessionária Águas de Nova Friburgo informou que esteve no local no último dia 22 de setembro e constatou que o vazamento é de água de nascente e não da rede administrada pela empresa. O conserto deve ser feito pela Prefeitura.

No outro quarteirão, no início da Rua Alexandre Risso, marcas de lama em casas abandonadas há quatro anos dão a dimensão das chuvas que assolaram o bairro, destruíram imóveis, mataram centenas de pessoas e desapareceram com outras tantas há quase cinco anos. Na mesma rua em que há uma casa abandonada e coberta por mato, há outras residências imponentes e bem cuidadas. No final da rua há um lote vazio, por onde passa o Córrego dos Mosquitos, e onde haviam outras casas já demolidas.

Em nota, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que existe um projeto do governo do Estado para construção das galerias de águas pluviais no bairro, mas ainda não há previsão para que ele seja posto em prática. O governo municipal reconheceu que existe “risco moderado” de deslizamento na Rua São Pedro, mas não soube explicar porque ainda não foi feita contenção no trecho que falta da encosta. “A obra em questão foi realizada pela Secretaria de Obras do Estado (Seobras), por este motivo, sugerimos que seja verificado com eles o motivo da não concretagem do referido trecho”. A VOZ DA SERRA não conseguiu contato com a Seobras até o fechamento da reportagem.

A Prefeitura de Nova Friburgo ainda informou que “os imóveis interditados no bairro não devem ser habitados. Nestes casos, solicitamos à população que denunciem a invasão dos mesmos, ligando para a polícia e Guarda Municipal no intuito de impedir a ocupação irregular”. Sobre a manutenção das ruas e da pracinha, o governo pediu que a associação de moradores entre em contato com a Secretaria Municipal de Obras, para incluir as ruas citadas no cronograma de asfaltamento, ou recuperação de calçamento, pois a operação tapa buraco, com asfalto a frio, continua. A Prefeitura ainda não tem projetos para investimentos no Córrego dos Mosquitos.

  • A obra de contenção acaba onde começa a casa do aposentando Gastão, na Rua São Pedro (Foto: Henrique Pinheiro)

    A obra de contenção acaba onde começa a casa do aposentando Gastão, na Rua São Pedro (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Os brinquedos do parquinho e os bancos da Praça Presidente Castelo estão quebrados, o que gera mau aspecto no centro do bairro (Foto: Henrique Pinheiro)

    Os brinquedos do parquinho e os bancos da Praça Presidente Castelo estão quebrados, o que gera mau aspecto no centro do bairro (Foto: Henrique Pinheiro)

  • (Foto: Henrique Pinheiro)

    (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Os moradores reclamam também do lixo e da falta de capina (Foto: Henrique Pinheiro)

    Os moradores reclamam também do lixo e da falta de capina (Foto: Henrique Pinheiro)

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