Quando o filho nasce do coração: a adoção vista sob o olhar paterno

Casal conta que sempre pensou em adotar, mesmo tendo filhos biológicos
sexta-feira, 12 de agosto de 2022
por Christiane Coelho, especial para A VOZ DA SERRA
Nilson, Carla e o pequeno Davi: quando o filho nasce do coração
Nilson, Carla e o pequeno Davi: quando o filho nasce do coração

Nilson e Carla entraram para a fila de adoção em 2010, antes mesmo dela passar por seis abortos espontâneos. Era o desejo do casal ter um filho adotivo. E quatro meses depois da perda do último bebê, em 2017, veio a notícia de que Davi estaria disponível para eles se tornarem, enfim, pais. Essa será a primeira celebração Dia dos Pais de Nilson na escola do Davi, que está com 5 anos e pai e filho estão sonhando com a festa. A VOZ DA SERRA conversou com Nilson, que transbordou tanto amor por ter Davi como filho. 

A VOZ DA SERRA: Antigamente, víamos mais o desejo de ter filhos nas mulheres. Mas, hoje, a história está mudando. Como foi para você acompanhar todo o processo dos abortos espontâneos da Carla?

Nilson: No nosso caso,foi desejo dos dois. Eu sempre tive o desejo de ter filhos também. E acompanhar os abortos foi sempre muito doloroso, nos afetava emocionalmente. Quando aconteciam esses abortos, eu não me via apenas como marido sendo solidário na dor que ela estava sentindo, mas estava sofrendo também.

Quando decidiram entrar na lista de adoção?

Não entramos na fila de adoção por não conseguirmos ter filhos biológicos. Sempre conversamos sobre esse assunto desde o início do nosso casamento, em 2000 e sempre pensamos em adotar, mesmo tendo filhos biológicos. E  tínhamos tanto o desejo de adotar, que entramos na fila de adoção em 2010, quando começamos também na tentativa de engravidar. E, foram nesses sete anos, enquanto nos inscrevíamos para a adoção e a chegada do Davi, que aconteceram os abortos espontâneos. Davi não veio substituir um filho biológico que não tivemos. Ele é o filho que sempre desejamos ter também.

Como foi o processo de adoção?

Estar na fila da adoção é muito complicado, porque gera uma ansiedade muito grande. Judicialmente falando é demorada demais. Chega uma hora que você pensa que não vai mais acontecer por causa dos entraves da burocracia. A maioria dos casais têm restrições na adoção. Eles querem ter uma criança querem uma criança para que seja parecida com eles ou loiros de olhos azuis, idealizam esse filho. Nós nunca nunca tivemos essa barreira. Nós sempre tivemos o pensamento de que queríamos na nossa casa o filho que Deus quer que esteja na nossa casa. Então, veio o Davi. Eu entendo que o Davi é o nosso filho, que foi ele que Deus mandou para ser o nosso filho.

Acha que alguns ainda têm preconceito ao olhar vocês?

Algumas pessoas têm sim. No início, a gente sentia mais esse comportamento, as pessoas se manifestavam mais, mas ainda sentimos alguns olhares na rua. Antes havia muitos comentários preconceituosos, tipo: ‘Ah, que bom que vocês adotaram, mas pena que ele não era da cor de vocês. Isso é bem complicado, entristece e machuca bastante. Mas, nós decidimos não dar crédito para esses comentários. Resolvemos viver nossa vida. O que importa para gente é a nossa família, nosso filho. É como a gente pensa, como a gente está construindo esse relacionamento e como a gente tá construindo isso tudo na cabeça de Davi. O que vale são a família e os amigos que convivem com a gente e nos dão suporte nesse sentido também. Davi não sente essa diferença de olhares e comentários.

E sobre o processo de adaptação a uma criança que chega no lar. Como pai, conte um pouco sobre isso…

Eu acho que independente da criança ser adotada ou não, quando chega um bebê exige um processo de adaptação. É uma rotina diferente, é um indivíduo novo na casa, né? Mas, eu acho que para nós, pelo fato de ele não ter sido gerado em nós, é um pouco diferente. É uma surpresa porque numa semana você não tem uma criança, na outra você tem. A gente não tem o tempo de preparo do enxoval e de tudo isso tudo que envolve a chegada de um bebê. Além disso, tem também adaptação da rotina. Eu fui favorecido pelo fato de que, quando Davi chegou, era o meu primeiro dia de férias. Então, eu pude estar em casa o tempo todo, 24 horas por dia em casa participando de tudo. A adaptação em convivência não foi difícil porque o Davi era um bebê. Nós que precisamos nos adaptar a ele, nos adaptar à nova vida.

Foram quantos Dia dos Pais sem um filho, desde que decidiram engravidar?

Nós casamos em 2000. Mas isso só começou a me incomodar, talvez com oito anos de casados. Fazíamos parte de uma igreja, onde tinha sempre as homenagens pelo Dia dos Pais. E passei a perceber que eu queria estar também sendo homenageado pelo meu filho e não estava. Isso entristecia. Mas o que me incomodava na verdade era a pena que as pessoas tinham e falavam: “Ah! Não fica assim, o seu dia vai chegar.” Já teve situações de eu receber homenagem Dia dos Pais mesmo sem ter filho. Alguém da igreja me deu um presente.

E depois do Davi, como estão sendo os seus Dia dos Pais?

Depois que o Davi chegou é tudo diferente todos os dias, não só o Dia dos Pais. Eu vivo a paternidade diariamente e o Dia dos Pais é apenas uma data para a gente celebrar para comemorar. Eu vivo diariamente a valorização da dos momentos em que estamos juntos. Eu adoro levar o Davi à escola, eu adoro buscá-lo na escola, participar de tudo na vida dele. Graças a Deus, tenho um trabalho que me favorece isso. Hoje (sexta-feira, 12), vai ter a festinha do Dia dos Pais da escola. É a primeira vez que eu vou participar presencialmente da celebração com ele. Desde que o Davi começou a ir para escola não estava tendo celebrações por causa da pandemia. Ele fica ansioso, por poder me oferecer um presente e para a festa. Está super empolgado com a festa. Isso é muito gostoso.

O que Davi significa na sua vida?

O Davi é tudo para mim e para a Carla. Minha família é tudo para mim. De maneira nenhuma a gente consegue imaginar nossa vida sem o Davi. Tem muita gente que fala: “Nossa! Que legal o bem que vocês fizeram para essa criança.’ Eu não vejo assim. Ele primeiro fez para mim, fez para gente, fez para nossa casa. Eu não fiz caridade para o Davi, tirando ele da situação em que estava. Adoção não é uma caridade, adoção é amor, adoção é apenas uma forma de você ter um filho. E eu não diminuo adoção no sentido dela ser menos importante que o filho biológico. O Davi é meu filho. Essa foi a forma que Deus escolheu para que eu tivesse filhos. Então isso para mim é muito natural mesmo.

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